Polícia

Execução no Centro de Vitória: ex-presidiários relatam medo de morrer em fila de atendimento

Jovem foi morto a tiros, em plena luz do dia, enquanto aguardava a vez de assinar documentação relacionada à liberdade condicional na Avenida Getúlio Vargas

Ex-presidiários, que devem se apresentar à Justiça a cada dois meses devido à liberdade condicional, relataram medo em ter que aguardar na fila que se forma na calçada da Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Vitória,  onde é oferecido o serviço no edifício Fábio Ruschi.  

Sob condição de anonimato, eles disseram que o risco se tornou realidade na manhã desta quarta-feira (09), quando um jovem do sistema prisional foi morto a tiros por suspeitos que passaram de moto.  

Foto: Reprodução TV Vitória

No momento do crime, cerca de 80 pessoas esperavam a vez de assinar documentação num procedimento exigido pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ-ES). 

A vítima, Lucas da Silva Martins, de 27 anos, cumpriu pena no sistema prisional de outubro de 2018 a dezembro de 2020 por tráfico de drogas. 

Além disso, ele também possuía passagem por homicídio, segundo a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). Outras duas mulheres também foram baleadas. Elas acompanhavam outros ex-detentos.

Momentos de terror

O operador de máquinas Adelino Ferreira, que saiu da penitenciária em 17 de maio, estava aguardando o atendimento e era acompanhado pela esposa, que foi atingida na perna esquerda. 

"Foi tudo muito rápido. Uma moto passou com duas pessoas. Estávamos no final da fila e, de repente, a gente ouviu aqueles barulhos de tiro e as pessoas correndo. A gente se atirou no chão. Foi quando ela disse que tinha sido baleada na perna", relatou.

"A gente fica com medo por causa disso, por causa dos nossos parentes que estão nos acompanhando. Todo mundo aqui está pagando o que deve à Justiça mas não sabemos o que cada um carrega da sua história. Alguém pode querer se vingar e quem não tem nada a ver pode ser morto", afirmou um ex-interno que também estava na fila.

Um outro homem, que também correu na hora do tiroteio, diz que a situação sempre é de perigo iminente por causa do histórico de quem aguarda atendimento no local.  

"Somos todos ex-presidiários e temos um passado. Estamos aqui porque queremos mudar de vida. Mas ficamos muito expostos", observa.  

Ele reivindicou que o atendimento pudesse ser remoto. "Hoje em dia tudo é online, tudo é feito por aplicativo. Por que não se tem um aplicativo para a gente mandar o que precisa para a juíza, para que ela resolva o nosso caso, sem precisar da gente sair de casa? Senão, do contrário, vai ser sempre a mesma coisa", reclamou. 

A reportagem questionou o Tribunal de Justiça sobre as queixas dos ex-detentos. Assim que a resposta for enviada, a matéria será publicada. 

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