Ex-chefe do tráfico da Piedade era o alvo dos bandidos que aterrorizaram a região
João Paulo Ferreira Dias, foi preso em Viana, na manhã desta quinta-feira. Segundo a polícia, ele saiu do morro para fugir de bandidos rivais
O homem apontado como ex-comandante do tráfico de drogas no Morro da Piedade, em Vitória, seria o alvo dos ataques realizados nos últimos quatro meses no bairro, promovidos por bandidos rivais. João Paulo Ferreira Dias, conhecido como João da Piedade foi preso em Viana, na manhã desta quinta-feira (12), durante uma operação da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória.
De acordo com o titular da DHPP de Vitória, delegado Marcus Vinícius, João Paulo estava morando em Viana para fugir dos rivais do Morro da Piedade. "Com o trabalho de investigação, descobrimos a residência em que ele estava, no bairro Canaã, em Viana, e, na manhã de hoje, nossa equipe foi até o bairro, cercou o imóvel e efeuou a prisão dele", disse o delegado.
Na casa, a polícia tambem encontrou Elisângela Ferreira Dias, irmã de João Paulo. Os dois já tinham sido presos em uma operação da Polícia Civil, em 2013, de combate ao tráfico de drogas. No entanto, João fugiu do sistema prisional, em 2016. Já Elisângela recebeu um alvará de soltura, mas depois a Justiça expediu um novo mandado de prisão, que nunca foi cumprido.
Na casa onde os dois irmãos foram presos, a polícia também encontrou drogas, uma pistola com a numeração raspada, munições, dois coletes à prova de balas e camisas que imitam o uniforme da Polícia Civil.
Comando
De acordo com as investigações, João Paulo e sua família chefiaram o tráfico de drogas nos morros da Piedade, Fonte Grande e Moscoso por cerca de seis anos, desde 2012, quando tomaram o comando de uma facção rival. Para manter o controle do tráfico, eles contavam com o apoio de simpatizantes, que eram pessoas de fora da família, mas que davam apoio às ações criminosas do grupo.
As investigações da Polícia Civil apontam ainda que boa parte das famílias que abandonaram o Morro da Piedade depois dos ataques realizados nos últimos meses foram expulsas pelos rivais porque eram ligadas a João e sua família.
Ataques
A guerra que tirou a paz dos moradores do Morro da Piedade começou em março deste ano, com as mortes dos irmãos Ruan e Damião Reis. Os dois jovens, que trabalhavam e estudavam e não tinham passagens pela polícia, foram mortos com mais de 20 disparos cada um.
Já em maio, Lucas Teixeira Verli foi morto com vários disparos, enquanto jantava na varanda de casa. Dez dias depois, Walace de Jesus Santana, de 26 anos, também foi assassinado.
Walace, que era comparsa de João Paulo, foi encurralado por cerca de 20 homens que invadiram o bairro e executado com vários tiros. Em seguida, a casa da avó dele, de 93 anos, foi incendiada pelos criminosos.
Abandono
A morte de Wallace foi a gota d'água para que dezenas de famílias deixassem o morro. Desde que os moradores começaram a abandonar o bairro, o Instituto Raízes, uma organização que atua junto à comunidade, informou que pelo menos 40 famílias deixaram o morro até o fim do mês de junho. Até hoje, somente quatro dessas famílias retornaram, de acordo com o instituto.
O terror vivido pelos moradores levou as forças de segurança do Estado a se movimentarem e a Polícia Militar montou uma base perto da quadra de esportes do bairro. No mesmo lugar, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) promete instalar uma unidade fixa. Um imóvel deve ser adquirido pelo Estado para a instalação da base. O local é uma escolha estratégica, pois é onde se concentra o movimento do tráfico de drogas.