Polícia

Chefe do tráfico em Vitória recebeu 700 visitas de advogados na prisão em dois anos

Segundo o MPES, outro criminoso chegou a ficar mais de 10 horas reunido com os defensores, que são investigados por repassar mensagens para traficantes

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução / TV Vitória

A quantidade excessiva de visitas de advogados que os cinco presos que foram transferidos do Espírito Santo para presídios federais, na segunda-feira (19), receberam em dois anos, e a longa duração de algumas delas, chamaram a atenção de agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPES).

Na segunda-feira, eles cumpriram 37 mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão, em municípios da Grande Vitória, Aracruz e São Mateus, durante a "Operação Armistício", que teve como objetivo combater uma organização criminosa suspeita de comandar o tráfico de drogas na capital. 

As ações resultaram na prisão de oito advogados, suspeitos de intermediar a troca de mensagens entre detentos do sistema prisional do Espírito Santo e integrantes da quadrilha, denominada Primeiro Comando de Vitória (PCV).

De acordo com o MPES, a comunicação promovida pelos advogados permitia que, de dentro do presídio, os chefes do grupo mantivessem o controle sobre o tráfico de drogas na região do Bairro da Penha, na Capital.

Além disso, a troca de mensagens favorecia a aquisição de armamentos e munições, por parte dos criminosos, o planejamento de homicídios, queima de ônibus e de outras ações violentas.

Segundo o Ministério Público, cinco detentos eram responsáveis por comandar a organização criminosa de dentro da prisão. São eles: João de Andrade, o "Joãozinho da 12"; Carlos Alberto Furtado da Silva, conhecido como "Nego Beto"; Geovani de Andrade Bento, o "Vaninho"; Giovani Otacilio de Souza , o "Bob Esponja"; e Pablo Bernardes, o "Geléia".

Foto: Reprodução / TV Vitória

Segundo as investigações, todos eles receberam centenas de visitas de advogados, entre abril de 2019 e maio deste ano. Algumas delas chegaram a durar cerca de 10 horas.

De acordo com o órgão ministerial, a grande quantidade de atendimentos recebidos pelos detentos e o tempo de duração deles reforça a ideia de que os advogados faziam a intermediação das mensagens trocadas entre os criminosos.

O MPES aponta que, em dois anos, Joãozinho da 12 recebeu 567 atendimentos de 76 advogados diferentes. Algumas visitas tiveram duração de 8 horas, no período noturno e até mesmo de madrugada. Apenas em abril deste ano, ele foi atendido 37 vezes por 15 profissionais diferentes.

Nego Beto, por sua vez, recebeu um total de 700 visitas, de 86 defensores diferentes — uma média de uma visita a cada 26 horas.

Bob Esponja teria recebido o atendimento de 34 advogados, em um total de 153 visitas, com durações que chegaram a 8 horas.

Vaninho, que está preso desde 19 de fevereiro do ano passado, recebeu um total de 210 visitas de dez advogados diferentes. Algumas delas, segundo o MPES, tiveram duração de mais de 10 horas, estendendo-se entre o período noturno e a madrugada.

Já Geleia, preso no dia 4 de junho do ano passado, recebeu o atendimento de 36 advogados, em um total de 210 visitas. Somente no último mês de abril, ele teria recebido 28 visitas, algumas delas com duração de 5 horas.

'Catuques' e videochamada de dentro da prisão

O Ministério Público verificou que os advogados repassavam bilhetes, chamados de "catuques", entre os presos e os criminosos foragidos. Geralmente eles eram escritos, de próprio punho, pelos presos ou narrados pelos detentos e escritos pelos advogados.

No entanto, o MPES verificou, durante as investigações, que as cartas também eram enviadas por WhatsApp aos advogados, responsáveis por repassar as ordens e gerenciamentos do crime que partiam do sistema prisional.

Ainda de acordo com o Ministério Público, em um dos atendimentos na unidade prisional, um dos integrantes da organização criminosa consegue realizar contato por videochamada com Fernando Pereira Pimenta, o "Marujo", que está foragido e é a principal liderança do grupo fora do presídio.

Um print de tela feito durante a videochamada foi encontrado no celular de uma advogada que atendeu o detento no dia, e que também é suspeita de integrar a organização criminosa.

Na investigação, o MPES também teve acesso a trocas de mensagens entre os criminosos, mostrando que eram realizadas "reuniões" entre os líderes da organização criminosa.

Algumas dessas mensagens, segundo o órgão, foram trocadas entre Nego Beto e Joãozinho da 12, dentro do Presídio de Segurança Máxima, em Viana.

"Q que deveria ter sido feito, após vc ter tomado conhecimento do que tava acontecendo, vc deveria ter comunicado ao VN, MJ, pedir uma reunião com geral, chamar o mlk chamar as testemunhas e juntos, meu amigo, todos tomar uma decisão só", diz um trecho.

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