Polícia

Capixaba faz forte relato na internet sobre relacionamento abusivo: "Quero justiça"

Post viralizou no Instagram nesta semana. A estudante Maria Eduarda Fonseca, de 20 anos, afirma que sofria violência sexual e estrangulamentos do ex-namorado. A Polícia Civil investiga o caso

Isabella Arruda

Redação Folha Vitória
Foto: Instagram | @_fonsecamaria_

A estudante universitária de Ciências Biológicas, Maria Eduarda Fonseca, de 20 anos, decidiu não se calar. Diante de agressões que conta ter sofrido pelo ex-namorado, a jovem publicou no Instagram na última quarta-feira (20) um relato bastante duro, no qual afirma, entre outros abusos, que sofria violência sexual e estrangulamentos praticados pelo suspeito, que não será identificado nesta matéria. A Polícia Civil investiga o caso.

O post começa com a declaração: “Quero deixar exposto o quanto me sinto arrasada, impotente, como se não houvesse nada no mundo que pudesse me libertar deste sentimento horrível que eu estou sentindo agora”. E, em contato com a reportagem do Folha Vitória, Maria contou todos os detalhes.

O relacionamento dos dois, entre idas e vindas, durou cerca de dois anos, sendo que o término, em definitivo, ocorreu há cerca de quatro meses. A estudante contou que sempre achou o rapaz “meio impaciente e estourado” e que era assim inclusive com a própria família. Mas, como relatam várias vítimas, ela nunca acreditou que ele pudesse fazer algo grave contra ela.

“Até que, nas nossas discussões, quando ficavam muito acaloradas, eu ficava com medo de ele me bater. Às vezes ele tinha gestos que davam a entender isso: ou socava a parede, ou gritava, ou me agarrava. Mas sempre dizia: ‘Nunca vou encostar em você’. Então eu tinha aquela fé de que ele não me machucaria”, relatou.

Sobre os abusos mais marcantes, Maria Eduarda relembra que foi estrangulada por três vezes, obrigada a realizar atos sexuais quando não queria, além de ter sido perseguida quando tentava terminar o namoro. Ela também narrou que o ex cuspiu no rosto dela e fez diversas chantagens, ameaçando se matar caso ela não voltasse com ele.

"Lembro de uma vez que ele me trancou no quarto dele, eu estava em crise de ansiedade, queria terminar com ele, por uma razão de uma briga que tivemos. Ele simplesmente trancou a porta e me deixou lá. Ele esperou na porta até eu desistir de ir embora. Teve até o dia que invadiu meu apartamento, pegou uma faca na minha cozinha e escreveu ‘lixo’, enorme, no peito dele, para me chantagear”, desabafou.

Estupro

De acordo com a universitária, o ex-namorado forçou ter relação sexual, mesmo ela dizendo que estava mal emocionalmente.

“Uma agressão que eu demorei a perceber foi o estupro. Falei que não queria ter relação sexual porque eu estava mal emocionalmente. Ele insistiu tanto que fiquei sem forças para negar e ele transou sem meu consentimento. Depois da relação eu chorei e ele reconheceu que tinha errado, mas já era. E eu fiquei com pena dele. Ele era muito bom em me agredir e depois chorar, tentar mostrar que estava arrependido, que queria melhorar. Mas minutos depois, ele desmentia tudo, distorcia as coisas para que eu parecesse a errada da situação", disse.

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Segundo a jovem, a desculpa que o suspeito dava para praticar as agressões era que ele tinha problemas psiquiátricos. “Mas ele nunca foi diagnosticado. Só ia ao psicólogo e talvez tivesse alguma ansiedade, mas também sou ansiosa e nem por isso saio batendo nas pessoas. Depois que fazia as coisas, dizia que estava extremamente arrependido. Já aconteceu de começar a chorar, se agarrar na minha perna, começar a beijar o meu pé, ameaçar se matar pulando do meu apartamento”, acrescentou Maria.

Invasão à casa da vítima

Como se não bastassem todos os atos, a vítima relata que o agressor ainda invadiu o apartamento dela. A estudante conta que tinha terminado o relacionamento e que ele não aceitava e continuava mandando mensagens. Ela narra que um dia ele simplesmente entrou no prédio e a porta do apartamento estava destrancada e ele entrou.

“A primeira coisa que eu falei foi: ‘Por favor, saia da minha casa’. Fui educada. Mas ele continuou insistindo, falou que não ia encostar em mim, mas tentou me agarrar e beijar à força. Falei que não queria beijá-lo, mas só parou quando eu peguei o telefone da polícia e ele implorou pra não falar nada. Depois de muito sufoco ele saiu. A porteira depois o viu saindo e falou comigo para ter cuidado com ele, porque ela já tinha percebido isso de ele ser agressivo”, narrou a jovem.

Além da invasão, ela conta que já aconteceu de ele avistá-la em algum lugar e começar a abordar e perseguir. Em um dos episódios, em uma boate, onde a vítima estava com os amigos, ela conta que ele chegou, empurrou uma amiga dela e passou a “surtar” porque ela tinha beijado outra pessoa, ainda que o relacionamento entre os dois estivesse terminado.

Desde quando começaram as agressões?

Maria contou que, desde o início do relacionamento, percebia uma certa agressividade por parte do rapaz. Em uma dessas vezes, no aniversário da universitária, ele foi conhecer a mãe dela, acabou causando uma briga entre o casal e a jovem começou a chorar. Desde então, a mãe dela passou a achar que já havia algo de errado.

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“Também teve outro surto na frente do meu irmão, em que ele se intrometeu na nossa conversa, começou a gritar e distorcer as coisas. Meu irmão ficou assustado. Mas foi mais para o final do relacionamento que ele começou a ficar mais agressivo mesmo. Antes tinham xingamentos e ofensas, depois de uns 4 ou 5 meses juntos. Se eu não queria falar com ele, ele me prendia até eu falar. Isso foi piorando, passou a socar a parede, até a me agarrar e machucar. E aí fui terminar com ele e ele me estrangulou pela primeira vez. Mais adiante, aconteceram mais duas vezes”, explicou ela.

Dificuldade de deixar o relacionamento

Relato comum entre mulheres vítimas de agressões é a dificuldade de deixar o relacionamento. No caso de Maria não foi diferente. Ela contou ter desenvolvido uma dependência emocional e acreditava que ele mudaria, até porque ele se dizia arrependido.

“Ele fazia um papel muito bom, se mostrava arrependido, e eu queria acreditar, porque eu gostava dele. Mas não foi melhorando, foi só ficando pior, cada vez com atitudes mais agressivas. Chegou no nível em que invadiu minha casa e isso me deixou muito traumatizada. Desde então comecei a ter pesadelos em que ele entrava no apartamento e passei a não conseguir mais ficar em paz, sempre que entro em casa fico vendo se tem alguém por perto”, disse.

Vítima registrou boletim de ocorrência; Justiça tenta intimar o suspeito

Segundo Maria Eduarda, desde que ela procurou a polícia e registrou a ocorrência, o suspeito não a ameaça mais. Apesar disso, está sendo difícil encontrá-lo, até para que ele seja intimado a comparecer aos procedimentos policiais.

“Ele não atende ligações do oficial de justiça e a mãe dele não quer dizer onde ele está e diz que viajou com ele. Antes de denunciar, a mãe dele implorou para não fazer boletim de ocorrência, ele me implorou também, me perseguia. Tem duas semanas que registrei e até o último momento eu não queria expor a situação. Mas a demora que é na justiça me fez falar, além do medo de ele sair impune. A mãe dele sabe de tudo e está acobertando ele. Até postou foto nas redes sociais com ele na praia, dizendo: "Juntos para o que der e vier" e isso também me deixou muito mal”, contou.

A jovem finalizou a conversa com a reportagem dizendo que foram muitos traumas vivenciados a partir do relacionamento, e que falar sobre isso talvez ajude outras mulheres que estão passando pela mesma situação.

Foto: Reprodução / Instagram

“É uma sensação de paz comigo mesma que eu procuro e quero que ele seja responsabilizado. Muitas são as mulheres que passam por isso e não conseguem falar. No momento me sinto muito deprimida, não tenho conseguido fazer provas da faculdade, não presto atenção nas aulas, me sinto muito angustiada, estou sempre com medo, desiludida por ter confiado em alguém que continuou me agredindo. O que me deu um pouco de alívio foi expor e ver que tenho uma rede de apoio grande”, finalizou.

O que diz a polícia

Em nota, a Polícia Civil informou que o fato será investigado por meio da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Vila Velha e para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação será repassada. 

A PC destacou que a população pode auxiliar na investigação por meio do telefone 181, que é uma ferramenta segura, em que não é necessário se identificar para denunciar.