Operação Frisson: Justiça quer que empresário do ES foragido seja extraditado
Justiça já havia mandado incluir o nome do empresário, acusado no processo que apura lavagem de dinheiro por meio do "jogo do bicho", na lista da Interpol
Um despacho assinado pelo juiz Gustavo Grillo Ferreira, que está atuando na 6ª Vara Criminal de Vila Velha, traz novo andamento ao processo que trata sobre a Operação Frisson, deflagrada em 13 de junho deste ano, pelo Ministério Público Estadual (MPES) em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).
O documento assinado pelo magistrado e datado do último dia 24 deste mês, determina, em ofício a ser enviado à Polícia Federal, que o empresário Kaio Zanolli, foragido desde o dia em que operação foi deflagrada, seja extraditado imediatamente, caso venha a ser capturado no exterior.
"Em tempo, visando conferir efetivo cumprimento ao final do Despacho de fls. 636/637, que acolheu o pedido do parquet de inclusão do mandado de prisão do réu Kaio Zanolli no Cadastro de Difusão Vermelha da Interpol e atento à necessidade de cooperação internacional para o combate ao crime organizado e à prática de lavagem de dinheiro, determino que seja expedido ofício à Polícia Federal, solicitando de pronto – caso seja o réu apreendido no exterior –, a sua extradição ao Brasil, a ser requerida pela via diplomática, bem como a realização das providências necessárias para tanto", afirma o juiz.
A determinação do juiz tem como base um despacho proferido pela juíza Paula Cheim Jorge – que estava à frente da 6ª Vara Criminal até então –, no dia 4 deste mês, em que determinava a inclusão do nome de Kaio Zanolli na lista de procurados pela Interpol.
Na ocasião, a magistrada estava atendendo a um pedido do MPES, uma vez que o empresário, acusado de, junto com outras sete pessoas, integrar um esquema de lavagem de dinheiro por meio do "jogo do bicho" no Espírito Santo, segue sem ser capturado pela polícia no Estado.
Consulta feita pela reportagem ao Banco Nacional de Mandados de Prisão, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nesta sexta-feira (28), mostra que o mandado expedido contra o empresário segue pendente de cumprimento desde o dia 12 do mês passado.
Buscando garantir a normalidade do andamento processual, a Justiça chegou a citar o empresário foragido por edital publicado no Diário do Judiciário, no dia 11 deste mês.
Na publicação assinada pela magistrada, é ressaltado o fato de Kaio seguir em local incerto e não sabido, sendo o único acusado no processo a estar solto mesmo com mandado de prisão expedido contra ele.
"Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312 do CPP (Art. 366 do CPP)", diz texto do edital publicado no dia 11.
Processo vai seguir para demais acusados, mesmo com empresário foragido
Como até agora o empresário foragido não foi encontrado nem capturado pela polícia, bem como não se apresentou à Justiça, o juiz Gustavo Grillo, no despacho proferido no último dia 24, determinou que o processo siga os ritos normais para os demais acusados, para que não haja atrasos no andamento dos autos.
Um jurista ouvido pela reportagem explicou que embora o juiz fale, no despacho, em "desmembramento do processo", no caso de Kaio, não significa que ele responderá um processo à parte, uma vez que fatos são os mesmos , porém como ele está foragido, "o processo seguirá em apartado para ele, para não atrapalhar o seguimentos dos atos processuais para os outros denunciados".
A defesa de Kaio Zanolli não foi localizada para comentar o despacho do juiz. O espaço entretanto segue aberto para as devidas manifestações.
Empresários seguem presos
Seguem presos desde que a operação foi deflagrada os empresários Sergio Zanolli, Diego Meriguetti, Jeferson Santos Valadares, Marciano Cruz de Sá e Demer Freitas Ferreira.
Além dos seis acusados que tiveram prisão decretada no ato da operação do MPES, também são citadas como rés no processo Tayssa de Abreu Milanez, mulher de Sérgio Zanolli; e Isabela Carreiro Silva Zanolli, que seria ex-companheira de Kaio.
Investigação começou em 2021 e teve apoio da PF e da Receita Federal
A investigação começou em setembro de 2021 e teve apoio da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal. Em 2022, foram cumpridos mandados judiciais de busca e apreensão em residências e empresas dos então investigados.
A partir da análise das provas, de acordo com o MPES, foi possível identificar com detalhes a organização criminosa constituída para a ocultação de bens, direitos e valores obtidos com a exploração do “jogo do bicho”.
A investigação aponta que pessoas jurídicas foram constituídas pelos denunciados para garantir a ocultação dos bens, com reinserção financeira dos valores em nome próprio ou de terceiros laranjas.
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As provas obtidas pelo órgão ao longo da investigação, segundo o MPES, confirmam que os denunciados misturam os valores de fontes diversas para confundir os órgãos de controle, utilizando o sistema financeiro oficial para circular parcela dos valores, geralmente por depósitos em dinheiro vivo.
Após a denúncia, a Justiça deferiu também os pedidos de indisponibilidade e alienação antecipada de bens, como medidas preparatórias aos requerimentos dos confiscos ordinário, subsidiário e alargado do patrimônio indevido, buscando não apenas o ressarcimento do valor do dano calculado em R$ 60.491.735,89, mas também atingir o produto/proveito direto dos crimes, bem como aqueles bens que são incompatíveis com a renda lícita dos denunciados, calculados em R$ 64.679.731,06.