PCV: entenda como funciona a maior organização criminosa do ES
Trata-se da única organização criminosa que é considerada uma facção. O grupo é gerido por um criminoso que está escondido no Rio de Janeiro
Bairro da Penha, Bonfim, São Benedito, Consolação, Gurigica e Itararé são alguns dos territórios da capital capixaba que sofrem com a criminalidade de uma potente e perigosa organização criminosa: o Primeiro Comando de Vitória (PCV).
"O "PCV" é uma facção criminosa criada aqui no Espírito Santo. Ela tem origem no Complexo da Penha e a partir daí ela se expandiu para toda a Região Metropolitana, para o interior do Estado e informações recentes apontam que até em outros Estados ela já está atuando", explicou o delegado Marcelo Cavalcanti.
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O delegado Romualdo Gianordoli afirma que a organização do PCV possui até um estatuto, que seria um documento com regras e comandos do grupo.
"Foi formado o Estatuto do Primeiro Comando de Vitória datado de 2010. Quem trouxe a inspiração foi o Carlos Alberto Furtado quando foi para um presídio federal e teve contato com membros do PCC. O Estatuto do PCV é muito baseado no do PCC, apesar de que depois eles se filiaram ao Comando Vermelho, inimigo do PCC hoje em dia", disse.
O estatuto que o delegado se refere é uma cartilha revelada pelo Ministério Público em julho de 2021. O documento possui regras e procedimentos a serem seguidos pelos integrantes.
A cartilha aponta que o Primeiro Comando de Vitória surge de dentro do sistema penitenciário capixaba e usa da filosofia do crime para cumprimentar seus novos membros.
"A partir do momento que é criado esse estatuto, aqueles bairros e tráficos que aceitam, eles passam a contribuir com valores que é chamado de "caixinha". Também é cobrada uma contribuição individual por cada integrante a partir do momento que ele é batizado", contou Cavalcanti.
Quem monta e estrutura o grupo são criminosos nascidos e criados em morros de Vitória que, de dentro da cadeia, formam o que chamam de "Conselho do PCV", composto pelos seguintes integrantes:
Facção conta com "Núcleo Central" na administração
O delegado Romualdo Gianordoli explica que a alta administração do Primeiro Comando de Vitória contra com uma espécie de cúpula que ele nomeia como "Núcleo Central". A equipe, segundo o delegado, conta também com a ajuda de criminosos que já estão presos.
Cleuton Gomes Pereira (Frajola): está preso, mas segue chefiando o tráfico de Terra Vermelha,
Itamar Martins Falcão: também está preso e chefia bocas de fumo no bairro Industrial, em Vila Velha, e algumas em bairros de Cariacica.
Nada acontece sem consentimento dos "chefes"
Uma operação do Ministério Público revelou que nada acontece dentro da facção sem que os líderes saibam, ordenem ou permitam. A comunicação é feita por meio de advogados que se aliciam à vida criminosa e levam informações ao principal líder do PCV que ainda não foi preso, o Marujo.
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Marujo chefia bairros do ES e administra a facção para o "Conselho do PCV"
"Ele é o criminoso mais procurado do Estado e chefia o Bairro da Penha, o Bonfim e ainda deve Bairro da Penha, Bonfim, e deve satisfação do Carlos Alberto Furtado diretamente e a ninguém mais. A gente sabe que ele é o responsável por gerir não só a parte financeira, mas também a parte de compra de armas, drogas e captação de "soldados do crime"", contou o delegado Marcelo Cavalcanti.
As investigações da Polícia Civil, por meio da Operação Sicário, evidenciam a ligação do PCV ao Comando Vermelho, uma das maiores facções criminosas do país atuante no Rio de Janeiro.
Nem toda organização criminosa é uma facção
Para a Secretaria de Estado da Segurança Pública existe uma diferença entre os dois grupos. Para ser considerado uma facção, o grupo precisa cumprir uma série de requisitos, ter regras estabelecidas, como uma espécie de estatuto, como é o caso do Primeiro Comando de Vitória.
Atualmente, o PCV é a única facção criminosa do Espírito Santo, que tem ambições de crescimento e expansão. Tudo isso já tem sido descoberto pela polícia e pelo Estado.
Primeiro Comando de Vitória trabalha com escalas
O PCV vive da venda de entorpecentes e também do tráfico de armas. O poder bélico alimenta a guerra e possibilita a conquista de novos territórios fora da capital.
As investigações revelam mais detalhes sobre o funcionamento da facção. As escalas para organização do trabalho são feitas com dia e horário a cumprir pelos soldados do tráfico.
Os valores da arrecadação criminosa são contabilizados e a prestação de contas precisa estar em dia.
"A droga é rentável então no fim das contas estão em busca de dinheiro, de poder, de expansão, de aumentar o poderio bélico e, com isso, impor o medo naqueles locais onde eles atuam, como se fosse um estado paralelo", explicou Cavalcanti.
Geografia da Capital colabora com a facção
A forma geográfica da cidade dificulta o trabalho da polícia traficantes que atuam no alto dos morros de Vitória tem uma visão privilegiada de quem entra e quem sai dos locais e conseguem se esconder facilmente nas varias regiões de mata.
"A geografia do município, principalmente na parte insular, é feita por morros e a gente sabe que a maioria nossa grande dificuldade é identificar a casa onde estaria o criminoso e o material ilícito", contou o delegado.
Os reflexos da violência promovida pela facção são vistos não só nos altos índices de assassinatos e tiroteios do Estado, mas principalmente, pela comunidade vive refém do medo.
Nós temos exemplos péssimos pelo mundo de quando o crime se torna um poder paralelo, como era na Colômbia, México. Se o Primeiro Comando de Vitória consegue essa expansão tomando todas as cidades do Estado, teoricamente não haveria mais guerra do tráfico porque eles estão no poder de tudo e não teriam mais com quem guerrear a não ser guerras de defesa", ressaltou o delegado Romualdo Gianordoli.
* Com informações da repórter Nathalia Munhão, da TV Vitória/RecordTV.