CASO HYARA

Reviravolta: tiro que matou cigana foi acidental e feito pelo cunhado de 9 anos

Polícia Civil concluiu as investigações do caso, que inicialmente apontavam que o marido de Hyara Flor, de 14 anos, teria feito os disparos

Gabriel Barros

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

As investigações sobre o assassinato da cigana Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, ocorrido em julho deste ano, na Bahia, tiveram uma reviravolta.

O inquérito que apura a morte foi concluído pela Polícia Civil e aponta que o atirador não foi o marido dela, um garoto também de 14 anos, mas sim o cunhado da vítima, um menino de 9 anos.

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A polícia concluiu que o tiro que atingiu a cigana foi deflagrado pelo cunhado da adolescente quando eles brincavam com a arma no quarto dela.

A informação foi divulgada nesta sexta-feira (11) pela Polícia Civil e o inquérito foi encaminhado à Justiça baiana nesta quinta-feira (10).

O marido da cigana, um adolescente de 14 anos, inicialmente apontado como suspeito, foi apreendido em Vila Velha, Espírito Santo, no dia 26 de junho. Ele segue na mesma condição.

Segundo a Polícia Civil, ao longo da investigação, foram analisados laudos periciais, imagens de câmera de vigilância, documentos e mensagens de celular e redes sociais. 

Ao todo, 16 pessoas foram ouvidas no período de apuração. Entre elas, duas crianças, que prestaram depoimento acompanhadas de um promotor de Justiça da Promotoria da Infância e da Juventude do Ministério Público da Bahia.

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Duas pessoas foram indiciadas

A investigação conduzida pela Delegacia Territorial de Guaratinga, com o apoio da 23ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Eunápolis), indiciou duas pessoas.

A sogra de Hyara Flor, mãe do menino de 9 anos, foi indiciada por homicídio culposo e porte ilegal de arma de fogo, considerando que a pistola utilizada no crime pertencia a ela. 

Já o tio da vítima foi indiciado por disparo de arma de fogo, referente a tiros deflagrados contra a residência do casal de adolescentes.

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O adolescente, marido da vítima, foi ouvido por meio de vídeoconferência pela juíza da Comarca de Guaratinga. A permanência dele na internação socioeducativa ainda não foi definida e ficará a cargo do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Caso ganhou repercussão após relatos de traição extraconjugal 

A cigana Hyara Flor Santos Alves, de 14 anos, morreu após ser baleado em 6 de julho. O caso aconteceu em Guarantinga, cidade a cerca de 700 km de Salvador, na Bahia.

A morte ganhou repercussão nacional após a revelação de um relacionamento extraconjugal envolvendo o tio da jovem e a sogra. Inicialmente, a polícia suspeitou que o relacionamento poderia ter relação com a morte da cigana.

Em entrevista ao Balanço Geral, da Record TV, o tio paterno da cigana confirmou que manteve um relacionamento com a mãe do adolescente por seis anos.

"Chegou uma época que falei: 'Olha, infelizmente, não vai dar para nós ficarmos mais porque minha sobrinha vai casar com seu filho. Para gente ter uma convivência boa, vamos parar com isso'. Ela já entrou em desespero, falando comigo que ela ia tirar a própria vida se eu fizesse isso com ela", disse.

A família da cigana acreditava que o pai do adolescente tenha descoberto a relação e que a morte de Hyara seria uma vingança. A hipótese, no entanto, foi descartada pela polícia ao longo da investigação.

O adolescente, marido de Hyara, veio para o Espírito Santo após a morte da jovem. Ele foi apreendido em Vila Velha. Ainda não há definição da Justiça se e quanto ele será liberado da internação socioeducativa.

Defesa diz que vai pedir a liberação do adolescente

A defesa do adolescente, feita pelo advogado Homero Mafra, foi procurada pela reportagem do Folha Vitória e declarou que já acreditava no resultado e que "recebe a notícia da conclusão do inquérito da Polícia Civil da Bahia com serenidade, pois, de fato, foi o que aconteceu".

Em nota enviada à reportagem, a defesa ainda acrescenta que "espera que a conclusão seja aceita e ressalta que o resultado é uma demonstração de que é preciso acreditar nos órgãos de investigação, como a elucidação do caso mostrou".

Na próxima segunda-feira (14) será solicitada a liberação do adolescente apreendido. Isso porque nesta sexta-feira é Dia do Advogado, feriado no Judiciário.

"Decepção", alega advogada da família da cigana

Em nota enviada à reportagem, a defesa da família da cigana Hyara, feita pela advogada criminalista Janaína Panhossi, se diz decepcionada com a conclusão das investigações. 

Apesar disso, a advogada acrescenta que está ciente de que a condução de um inquérito policial compete somente à polícia judiciária.

Veja abaixo a nota na íntegra:

Venho acompanhando o caso, desde a ocorrência deste triste fato, e até o presente momento, atuando, assim, em todas as fases da investigação.

Diante disso, afirmamos, com respaldo técnico, que todos os elementos que fundamentam a alegação da família, no sentido de que Hyara foi vítima de feminicídio, foram fornecidos a autoridade.

Recebemos com serenidade, porém, com profunda decepção a conclusão das investigações, mas estamos cientes de que a condução de um inquérito policial compete somente à polícia judiciária, mas a classificação dos delitos em apuração serão submetidos às superiores considerações do Ministério Público. Dessa forma, aguardamos posicionamento do representante do parquet.

Pois cabe ao mesmo, independente do relatório policial, formar sua opinio deliciti e ao delito em apuração a classificação de acordo com as suas impressões, as quais, conhecendo o processo, certamente serão pela representação e denúncia dos responsáveis pela morte da jovem cigana.