Polícia

Do hospital para o tráfico: polícia investiga como fentanil chega ao ES

Sintetizado nos anos 60 como um anestésico, o fentanil pode ser 50 vezes mais forte do que a heroína. Hospitais e laboratórios estão sendo investigados

Matheus Moraes

Redação Folha Vitória
Foto: divulgação / sesp

Desde fevereiro deste ano, um novo composto químico tem preocupado as autoridades policiais do Espírito Santo e até mesmo do Brasil. Usado legalmente em hospitais como anestético, o fentanil tem caído no "fluxo de trabalho" do tráfico de drogas e assustado a polícia por diferentes motivos, que vão desde o perigo para a saúde dos usuários até a forma com que tem entrado em terras capixabas.

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Definido como uma droga sintética, o fentanil foi sintetizado nos anos 60 como um anestésico, um remédio para dor, mas seus efeitos o configuram como opioide de grande potência capaz de ser 50 vezes mais forte que a heroína e 100 vezes mais forte do que a morfina

Epidemia de fentanil nos Estados Unidos preocupa o Brasil

Em entrevista à reportagem do Folha Vitória, o chefe do Departamento Especializado de Narcóticos (Denarc), delegado Tarcísio Otoni, explicou que entre as preocupações das autoridades policiais em relação ao fentanil está o cenário norte-americano no que diz respeito ao alto consumo da droga.

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Nos Estados Unidos, segundo aponta o delegado, o uso dos opioides (drogas que agem no sistema nervoso aliviando a dor) se transformou em uma epidemia.

"Visto que nos Estados Unidos acontece uma epidemia de opioide, em especial o fentanil, temos a preocupação da chegada dessa droga no Brasil, justamente para evitar que isso seja misturada e entre no uso dos nossos jovens e usuários em geral", apontou.

Outra preocupação das forças de segurança é o real destino desse composto, pois até o momento as investigações não apontaram uma explicação sobre a real finalidade do fentanil, se seria utilizado em sua forma pura ou para a composição de outra droga.

Para entender melhor a parte química em torno da droga, o delegado explica que logo após a apreensão, todo o material é imediatamente encaminhado para o Laboratório Químico Legal (LQL) da Polícia Civil.

Lá, o fentanil é analisado e sua composição é estudada para verificar se há alguma possibilidade de mistura ou se a forma original é a mais buscada pelo tráfico.

Foto: Pixabay
Fentanil encontrado no Espírito Santo tem origem hospitalar

"Esse fentanil é oriundo de produto hospitalar"

Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, o delegado da Denarc afirma que, até o momento, todo fentanil apreendido no Espírito Santo foi produzido legalmente em indústrias com finalidade hospitalar. 

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De acordo com o delegado, este mesmo composto, apreendido nos Estados Unidos, é feito em laboratórios clandestinos, em sua maior parte situados no México.

"A gente encontrou em duas apreensões pontuais e é importante frisar, esse fentanil é oriundo de produto hospitalar. É um fentanil em seu formato para uso exclusivo hospitalar, encontrado em laboratório de drogas. Isso sugere, sem sombra de dúvidas, a existência de um desvio desse material que é fabricado com autorização da Anvisa."

Hospitais e distribuidoras de medicamentos estão sendo investigados

Por se tratar de um produto proveniente de hospitais, o delegado Tarcísio afirmou que as investigações estão concentradas no percurso feito pelo fentanil, desde a fabricação em laboratórios até os pontos de tráfico.

Para o delegado, evidências já coletadas pelas autoridades apontam com clareza que há uma falha nesse trajeto.

"Nesse percurso entre o laboratório fabricante, distribuidoras de medicamentos, transportadoras, hospital, uso ou não uso e descarte há um desvio e isso está claro."

Laboratório de Minas Gerais está na mira da polícia

Ainda durante a entrevista, o delegado detalhou que um dos laboratórios que estão na mira da polícia está situado em Minas Gerais. 

Ele conta que, apesar do endereço confirmado, ainda não é possível afirmar que o desvio aconteça em Minas ou até mesmo no Espírito Santo, isso porque o laboratório possui distribuidoras e transportadoras que atuam em outros estados.

"Mas existe uma investigação desde fevereiro e nós estamos avançados em relação a isso", disse Tarcísio Otoni, em entrevista.