Depois de uma quarta-feira (15) marcada por protestos, tensão e até detonação de granada caseira, o movimento nos morros de Vitória é tranquilo e os ônibus, antes impedidos de circular, voltaram a operar nas ruas dos bairros na manhã desta quinta (16).
Em entrevista ao Espírito Santo no Ar, da TV Vitória / Record TV, o major Cristelo, da Polícia Militar, afirmou que os militares estão realizando os trabalhos para manter a segurança nos bairros Andorinhas e regiões vizinhas.
“A PM havia ocupado a região de forma mais incisiva desde o dia 18, quanto teve o primeiro homicídio. Temos ações também em áreas vizinhas. No dia 31 de agosto, interceptamos indivíduos que seguiam para andorinhas para fazer um ataque. No mesmo dia, prendemos a liderança de um destes pontos que estão em briga. Ainda há disparos apara chamar atenção da polícia”, disse.
Sobre a detonação da granada caseira, ele afirmou que um outro artefato chegou a ser lançado em direção aos militares, mas ainda não foi identificado o responsável.
“Ainda não sabemos quem dispensou este artefato. A policia foi ao local e detonou, mas parte do nosso trabalho é identificar quem fez isso. Temos algumas suspeitas, pois ontem durante abordagem foi lançado algo parecido em direção aos polícias. Houve explosão, mas nenhum policial ficou ferido”, disse.
Na quarta-feira, houve confrontos entre traficantes nos bairros Andorinhas, Morro do Quadro e Nova Palestina. Na manhã desta quarta, um intenso tiroteio foi registrado na região de Andorinhas. Um veículo que estava estacionado na rua foi perfurado por balas. Durante a tarde, moradores encontraram uma granada de fabricação caseira no bairro.
Segundo moradores, o objeto teria sido deixado por um homem que passava de bicicleta. O Esquadrão Antibombas da Polícia Militar foi acionado e esteve no local. A equipe recolheu e detonou o artefato.
Os policiais explicaram que a granada de fabricação caseira tinha o alcance de destruir um raio de até 10 metros. Ainda de acordo com a polícia, o artefato continha pregos e metais, o que poderia ferir muitas pessoas.
O caso aconteceu próximo à escola municipal Izaura Marques da Silva que, na tarde de terça-feira (14), teve uma vidraça atingida por um tiro. Por sorte, nenhum estudante estava no local.
Testemunhas contaram que um grupo armado veio da orla, por volta das 14h30, e chegou atirando. As pessoas que estavam na rua saíram correndo assustadas. Ninguém soube dizer quantos suspeitos estavam envolvidos no tiroteio. Todos fugiram.
Na última quinta-feira (09), uma menina de 10 anos foi atingida de raspão por uma bala perdida dentro de uma creche particular em Jardim da Penha, Vitória. Segundo a polícia, a criança estava na quadra da escola, quando avisou para o professor de uma dor na altura da virilha.
Ao se aproximar da menina, o professor viu uma bala no chão perto da criança. Ele acionou a direção da escola, que entrou em contanto com a família da criança. Ela foi levada pela mãe para um hospital.
De acordo com testemunhas, o disparo veio de fora da unidade. Algumas pessoas especularam que o tiro poderia ter vindo do bairro Andorinhas. Segundo a polícia, o local de onde partiu o tiro ainda é desconhecido.
Duas escolas e uma unidade de saúde da região do Morro do Quadro fecharam na tarde desta quarta-feira (15). Os ônibus também deixaram de circular no local. Pela manhã, moradores fizeram um protesto na região. Dois ônibus foram apedrejados.
Os protestos foram motivados pela morte de um jovem durante um confronto entre suspeitos e policiais militares que aconteceu entre a noite desta terça (14) e a madrugada desta quarta-feira (15).
A Polícia Militar informou que fazia um patrulhamento na região, na noite desta terça, com o intuito de prevenir o tráfico de drogas. Os policiais fizeram um cerco em uma escadaria para localizar pessoas com entorpecentes e armamentos.
Durante a ação, segundo a polícia, três suspeitos armados foram vistos subindo a escadaria correndo. Os policiais deram voz de prisão, mas não foram atendidos. Diversos disparos teriam sido realizados em direção aos militares, que revidaram.
No confronto, um jovem de 22 anos foi baleado. Segundo a polícia, o rapaz estava em posse de uma arma calibre 38 e um rádio comunicador. Ele foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Na manhã desta quarta, moradores fizeram um protesto no Morro do Quadro. Os moradores afirmam que o jovem não estava armado.
“Os policiais deram de frente com ele e atiraram na cabeça. Ele não estava armado. Não é porque ele morreu que eu vou defender ninguém não. Era um menino educado que não andava armado. Foram muitos tiros. Eu desmoronei porque estava vindo de um culto onde falávamos de salvação. A irmã desse jovem estava aceitando Jesus na hora que o irmão dela estava sendo morto”, disse uma moradora que não quis ser identificada.
“Temos uma criminalidade juvenil utilizada pelo grande traficante que não fica presa”, diz Ramalho
O secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre Ramalho, afirmou que as forças policiais continuam trabalhando e criticou a legislação criminal.
Em sua análise, as leis penais em vigor não permitem que menores de idade, apreendidos em operações policiais, fiquem apreendidos. Segundo Ramalho, eles acabam sendo soltos e voltam a cometer os mesmos delitos porque sabem que não poderão ser responsabilizados.
“Temos uma legislação no Brasil que não alcança os interesses das comunidades. Uma criminalidade juvenil, de 12 a 19 anos, uma mão de obra barata que é utilizada amplamente pelo grande traficante e que não fica presa”, reclamou.
O secretário relembrou que em uma operação feita no bairro Andorinhas na última segunda-feira (13), o contexto visto ali era de adolescentes e jovens a serviço do tráfico de drogas.
“Em Andorinhas abordamos mais de 10 menores, todos circulando no bairro, visivelmente ligados ao tráfico de entorpecentes. Quando vamos puxar a ficha está lá ‘vulgo fulano’, mas não fica preso”, observou.
O secretário acredita que a implementação de programas constantes pelo Estado, com projetos de capacitação profissional para o primeiro emprego e ações culturais, seria uma maneira de combater esse “recrutamento” feito pelo tráfico.
“Precisamos de outras ações nessas comunidades, ações que estão sendo desenvolvidas em outros locais, para mostrar para esses jovens que existem outros caminhos muito além do tráfico de entorpecentes”, sugeriu.
O secretário diz que a Polícia Civil e a Polícia Militar têm trabalhado muito. Sobre o bairro Andorinhas, onde uma granada caseira foi detonada na tarde desta quarta-feira (15), um dia depois da janela de uma escola municipal ser atingida por tiros, Ramalho disse que as operações prenderam um dos traficantes líderes da região. No entanto, ele continuou a influenciar o cotidiano do bairro dando ordens mesmo preso.
“Em relação a Andorinhas, num passado próximo, já prendemos o maior traficante que havia em Andorinhas. Ele, mesmo preso, colocou pessoas nos bairros para guarnecer os seus pontos de entorpecentes e está levando uma carga muito grande de organização criminosa. Estamos atuando, apreendendo drogas e armas, fazendo operações pontuais. Mas, lamentavelmente, esses jovens retornam aos mesmos locais”, observou.