Adolescente investigado por nazismo no ES disse odiar judeus
A confissão foi feita durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na casa onde o menor vive com a mãe
O adolescente de 14 anos denunciado pelo pai por armazenar conteúdo nazista no Espírito Santo, relatou à Polícia Civil odiar judeus e pessoas não brancas quando questionado pelos policiais.
A confissão foi feita durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão na casa onde o menor vive com a mãe. O celular dele, além de uma bandeira com uma suástica, foram apreendidos.
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"O celular foi apreendido, a Polícia Civil também identificou uma bandeira com a suástica. O menor confessou os fatos e disse não gostar de judeus, que tinha ódio com quem não fosse alinhado à supremacia branca", relatou o delegado Brenno Andrade, da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC).
O menor também se comunicava com supremacistas brancos de todo o mundo em grupos no Whatsapp. As conversas eram geralmente em inglês ou alemão, apontou a investigação.
O jovem já era investigado pela polícia desde fevereiro quando o pai registrou um boletim de ocorrência contra ele junto à Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Posteriormente, o caso foi encaminhado à Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC).
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O pai do menor relatou ter encontrado materiais relacionados ao nazismo no celular do filho, além de duas bandeiras com suásticas e afirmou estar preocupado com o comportamento do menor.
O garoto foi intimado para comparecer à delegacia para prestar depoimento. De acordo com o delegado Brenno Andrade, o adolescente afirmou inicialmente ter apenas interesse histórico sobre o nazismo.
As ideias supremacistas, segundo ele, teriam se iniciado após um atrito com um colega de escola.
"Como o próprio pai realizou a denúncia, chamamos esse adolescente para ser ouvido na unidade policial, ele confirmou os fatos. Ele informou que no primeiro momento tinha apenas interesse histórico por esse material, mas que, segundo ele, quando um colega da escola na qual estudava, que era preto, começou a ser preconceituoso com pessoas brancas. A partir dali ele começou a nutrir um sentimento de ódio contra quem não fosse branco", disse.
A partir desse suposto conflito, o jovem teria começado a acessar cada vez mais os grupos e a consumir mais material neonazista.
Durante o depoimento aos policiais, o menor afirmou que a mãe teria vendido o celular que ele utilizava para ter acesso aos chats.
Os policiais desconfiaram da versão dada pelo adolescente e solicitaram um pedido de busca e apreensão na casa do menor.
"Ao chegar lá descobrimos que, de fato, o celular havia sido vendido, mas o telefone novo desse indivíduo já constava ele acessando grupos em aplicativos de troca de mensagens, em grupos nazistas, com adoração a Hitler", relatou Andrade.
Durante a conversa com os policiais, o adolescente também alegou desconhecer leis que tipificavam a adoração ao nazismo como crime no Brasil.
Relação com ameaças e atentados a escolas
De acordo com o delegado a investigação foi realizada de forma preventiva, para evitar que este tipo de ideologia extrapolasse o ambiente virtual. Isso porque a apologia ao nazismo está diretamente ligada a ameaças e ataques em escolas.
Uma destas relações ocorreu no Espírito Santo, em novembro de 2022, quando um adolescente de 16 anos, que invadiu duas escolas em Aracruz. Ele matou quatro pessoas. No momento do ataque, ele usava uma braçadeira com uma suástica.
"Demos prioridade a esse caso, porque sabemos que em muitas ameaças e atentados e escolas, os atiradores, os agressores, consomem esse tipo de material. Em vários desses ataques eles fazem referência em sua vestimenta ao nazismo, à cruz suástica. Então poderia ser uma etapa inicial para esse jovem futuramente cometer um atentado escolar", afirmou o delegado.
Tratamento psicológico
Em conversa com os policiais, a mãe do adolescente relatou que ele teria começado um tratamento psicológico logo após ter o primeiro celular vendido. Apesar disso, o acompanhamento teria durado apenas três meses, uma vez que a família não tinha como custear as sessões.
Segundo Andrade, os policiais teriam alertado à mãe do garoto que o tratamento deveria ser continuado. O Conselho Tutelar também foi informado sobre o caso.
"Os pais entenderam a gravidade dos fatos, em nenhum momento passaram a mão na cabeça do adolescente, o que acontece em alguns casos. Os pais devem fazer acompanhamento constante dos adolescentes nas redes sociais. Inclusive, esse adolescente teve acesso a esses grupos a partir de uma rede social. Conheceu uma pessoa que o direcionou para esse grupo de troca de mensagens. Os pais devem monitorar o histórico de navegação dos filhos", afirmou.
O adolescente relatou aos policiais que mais pessoas do Espírito Santo estariam nos grupos de conversa, mas não sabia identificá-las ou de que municípios eram.
O celular do jovem foi apreendido e passa por perícia para que demais usuários dos grupos sejam identificados. O caso foi encaminhado à Vara da Infância e Juventude e apresentado como crime de racismo.