Polícia

Pai de PM morto no ES: "sonhei com meu filho antes de receber a notícia e acordei com colegas na porta"

Ferrani relatou que quando viu a forma como o foram chamá-lo, já percebeu que havia algo de muito errado

Foto: Alice Mourão | TV Vitória
Local onde pai de Bruno conversou com a imprensa

O pai do policial militar Bruno Mayer Ferrani, que completou 30 anos no último dia 8 de outubro, o comerciante José Ferrani, contou detalhes à reportagem da TV Vitória de como ficou sabendo da morte do filho, ocorrida na madrugada deste domingo (16), em Cariacica. 

O que mais impressionou foi que o idoso, de 63 anos, disse ter sonhado com os filhos logo antes de ser acordado por colegas militares da vítima, às 4h30, que contaram a ele sobre a tragédia.

Ferrani relatou que quando viu a forma como o foram chamar, já percebeu que havia algo de muito errado. 

"Tive um sonho, juro por deus, com a minha esposa, falando com meus filhos, e eu estava bravo com ela para ela não chamar tanta a atenção deles. Acordei e um pouco depois ouvi o pessoal batendo palma e me chamando urgente. Já falei logo: aconteceu alguma coisa com meu filho. Desci e falei: mataram ele, vocês não iam vir se ele estivesse no hospital".

Bruno deixa duas crianças, uma de seis anos e outra de três, diagnosticada com autismo. Para José, o filho era um exemplo de pai e que ele vai fazer muita falta, já que as filhas precisavam muito dele. Além das crianças, a mãe do policial, casada com o comerciante há 36 anos, está arrasada.

"Quando ele voltava do serviço, a primeira coisa que fazia era subir para ver a mãe, que fazia a comida dele. Tenho muito orgulho de quem ele foi, por estar na corporação e pela inteligência dele. Ele vendia roupa, além de ser policial, era um grande batalhador, que corria muito atrás das coisas. Outro dia ele me falou "Pai, estou com vontade de abrir uma loja" e eu falei: 'filho, são muitos altos os custos'", acrescentou.

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Segundo José, o salário do filho não era suficiente para todos os custos dele, já que ele também criava uma filha com autismo. Por esse motivo, precisava ter outra fonte de renda e vender roupas. Apesar de tudo, o sonho do jovem sempre foi de ser policial, também para deixar a mãe realizada.

Em relato emocionado, o comerciante disse que a morte do filho levou metade de sua própria vida. "E ainda arrebentou as crianças dele. É mais um que se foi. Os suspeitos foram presos, mas o meu filho está preso para nunca mais sair. E outro dia os bandidos estão na rua pra fazer tudo de novo. Isso é muito doído", desabafou. 

Também de acordo com o pai de Bruno, vários colegas estão dando apoio à família, o que garante que o filho terá um enterro digno. O soldado já estava há oito anos na polícia, e, nas palavras de José, foram anos de dedicação, amor, e amizade por onde passava.

"Ele era o xodó de todo mundo, o filho que todo mundo queria ter e agora está no caixão. Parece que querem policial só para trabalhar, apoio não tem. Estou sofrendo e ele foi embora. Meu coração está cortado, minhas pernas, me tirou do chão. Não desejo para ninguém e espero que a família do amigo dele também seja confortada", disse.

À reportagem, o idoso contou que os colegas de trabalho, da unidade de Campo Grande, ofereceu apoio e que ele precisa muito neste momento. Na visão de José Ferrani, o policial militar é muito desprotegido.

"Você sabe que vai e não sabe se volta. As filhas dele precisam muito da gente, vamos dar a maior força possível. Da lei, meu filho vai receber o que tem direito e, de agora para frente, é caminhar e cuidar das meninas dele", destacou. 

Questionado sobre o recado que deixa a outros pais de militares, o comerciante afirmou que o principal é se apegar a Deus e confiar. 

"Que tenham bastante fé em Deus, só ele para proteger e mais ninguém. Que Deus conforte os pais do amigo dele também, que passam o mesmo que eu estou passando. Queria que ninguém sofresse o que estou sofrendo. Que Deus o leve em paz e que ele olhe lá de cima por nós. Peço muita força", finalizou.

Assalto

A ocorrência que terminou na morte dos PMs começou na Rodovia Leste-Oeste, após um grupo de pessoas ser assaltado também durante a madrugada. As quatro vítimas, três homens e uma mulher gestante, estavam em um carro, depois de passar a curva e bater no meio fio, o pneu do carro furou.

Foi neste momento que um segundo veículo se aproximou dos ocupantes. Um homem que preferiu não ser identificado à reportagem da TV Vitória contou que a princípio os suspeitos ofereceram ajuda, mas logo em seguida anunciaram o assalto.

De acordo com testemunhas, os assaltantes eram dois homens e duas mulheres. Os criminosos roubaram os pertences do grupo e uma das mulheres teria ainda atirado contra uma pessoa, no entanto, a bala atingiu a cabeça de raspão.

Depois de receber atendimento médico, o homem atingido de raspão voltou ao local do crime para reconhecer os suspeitos e contou para a mãe que, no momento que seria novamente atingido, os policiais Bruno e Paulo apareceram.

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Perseguição termina na morte dos agentes

De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, os militares estavam perseguindo o veículo dos assaltantes e, ao abordar os suspeitos, foram surpreendidos pelos criminosos que se esconderam atrás de um caminhão. As rodas do veículo foram atingidas assim como o tanque foi perfurado.

A perseguição seguiu pelas ruas de Santa Bárbara. Os dois carros entraram em um terreno e foi nesse momento que o tiroteio começou. Os militares chegaram a ser socorridos, mas não resistiram e morreram.

Foram os próprios militares que socorreram as vítimas. Eles foram levados para um hospital particular do município, mas já chegaram sem vida. Uma moradora conta que tudo aconteceu por volta das 3h da manhã e que foram ouvidos muitos tiros.

Segundo consta no registro da ocorrência, as armas dos policiais foram levadas pelos criminosos.

Além de soldado na Polícia Militar, Paulo Eduardo Celini era bacharel em Educação Física e havia se casado há poucos meses. Já Bruno Mayer, também era casado e deixa esposa e uma filha.

Governador lamenta morte dos agentes

Nas redes sociais, Renato Casagrande se pronunciou sobre o ocorrido e decretou luto de três dias e informou que suspeitos já foram detidos.

"Lamento profundamente a morte dos policiais Bruno Mayer e Paulo Eduardo, ocorrido nesta madrugada, em Cariacica. Minha solidariedade aos seus familiares e amigos. Importante dizer: este crime não ficará impune. Vários suspeitos já foram detidos e não descansaremos até que todos os envolvidos estejam na cadeia. Decretarei luto de três dias."

* Com informações da repórter Alice Mourão para a TV Vitória | RecordTV 

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