Polícia

Marido de médica vira réu por feminicídio: relembre crime que chocou o ES

Juliana Ruas El-Aouar, de 39 anos, foi morta em Colatina, no dia 2 de setembro. Perícia constatou que causa da morte foi traumatismo craniano e asfixia mecânica

Rodrigo Araújo

Redação Folha Vitória
Foto: instagram

Pouco mais de um mês e meio após o assassinato da médica psiquiatra Juliana Ruas El-Aouar, de 39 anos, ocorrido no quarto de um hotel em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, o marido dela, Fuvio Luziano Serafim, se tornou réu no processo. Ele responderá por feminicídio qualificado por asfixia, fraude processual majorada e consumo partilhado de droga.

Na quarta-feira (18), a juíza Silvia Fonseca Silva, da 1ª Vara Criminal de Colatina, aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual (MPES) contra o empresário mineiro, de 44 anos.

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A magistrada considerou que estavam presentes na denúncia do MPES provas suficientes sobre a materialidade e indícios de autoria do crime. As investigações foram conduzidas pela Polícia Civil do Espírito Santo e o inquérito remetido ao Ministério Público.

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Fuvio foi preso em flagrante no dia 2 de setembro, dia do crime, juntamente com o motorista do casal, Robson Gonçalves dos Santos, de 52 anos, que estava hospedado em outro quarto do hotel onde ocorreu o crime. Dois dias depois, a Justiça converteu a prisão dos dois para preventiva.

O motorista, no entanto, teve a prisão revogada pela juíza, já que o MPES concluiu, após as investigações, que ele não teve envolvimento com a morte da médica. O alvará de soltura foi expedido na quarta-feira. Robson, porém, foi indiciado por fraude processual.

A reportagem do jornal online Folha Vitória procurou a defesa de Fuvio Luziano Serafim para comentar a denúncia, mas não foi localizada. O espaço continua aberto e a matéria será atualizada assim que houver retorno.

Médica sofreu traumatismo craniano e asfixia mecânica

Juliana e o marido moravam em Teófilo Otoni, no Leste de Minas Gerais. Fuvio, inclusive, chegou a ser prefeito da cidade de Catuji, no mesmo estado, entre 2016 e 2020.

No corpo da médica, segundo a polícia, foram encontradas marcas de asfixia e cortes na cabeça. No Instituto Médico Legal (IML), foi constatado que a causa da morte foi traumatismo craniano e asfixia mecânica.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

No dia do crime, a ´Polícia Militar recebeu informações de um possível homicídio ocorrido nas dependências do hotel. Quando os militares chegaram ao local, a gerente informou que Juliana estava hospedada com o marido em um quarto.

A gerente relatou ainda que outros hóspedes reclamaram de bagunça e barulhos no quarto de Juliana e Fuvio durante a madrugada e, já pela manhã, o marido da médica apareceu na recepção bastante alterado.

Segundo a funcionária, ele estava com pressa para pagar a conta, alegando que sua esposa estava passando muito mal, chegando a desmaiar. O Samu foi acionado e, ao chegar ao local, a equipe constatou o óbito de Juliana.

Durante as investigações ainda no local, foi constatado, por meio de câmeras de monitoramento interno, uma movimentação de entrada e saída no quarto do casal durante a madrugada, entre o marido da médica e o motorista.

Marido e motorista contaram versões diferentes

Ao serem questionados sobre o que teria ocorrido, Fuvio relatou que sua esposa havia passado por um procedimento cirúrgico no dia anterior e, em seguida, eles teriam ido a uma churrascaria.

Ainda de acordo com a versão do acusado, os dois retornaram para o hotel e, ao acordar na manhã do dia 2, o empresário teria encontrado Juliana desmaiada na cama, possivelmente em óbito. Fuvio relatou que fez contato com o Samu e foi orientado a colocá-la no chão do quarto para tentar reanimá-la.

Já o motorista relatou que foi chamado pelo marido da médica para ir ao quarto, pois Juliana havia caído no banheiro e precisava de ajuda.

A polícia destacou que ambos apresentaram versões diferentes do cenário encontrado pela perícia, que foi um quarto revirado com garrafas de cerveja, sangue nas roupas de cama, a mulher machucada, além de vidros de remédio quebrados.

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Declarações de amor nas redes, mas violência em casa

Em seu perfil nas redes sociais, Fuvio fazia declarações de amor para a esposa, o que fazia parecer que os dois viviam um relacionamento saudável. Em alguns posts, o marido da vítima escreveu frases do tipo: "Você é perfeita, uma esposa maravilhosa. Agradeço a Deus por ter me abençoado".

Foto: Reprodução / Instagram

No entanto, segundo familiares de Juliana, a relação do casal estava longe de ser boa. O pai da vítima, o médico-cirurgião Samir Sagi El-Aouar, ex-prefeito e ex-vereador de Teófilo Otoni, afirmou, poucos dias após o crime, que a filha vinha sendo vítima de violência doméstica há algum tempo.

"Ele já vinha batendo nela algumas vezes, dizendo que ela tinha caído dentro de casa, todo dia um olho roxo, uma cicatriz de sete centímetros na região frontal. Tudo isso já vinha acontecendo, e ela querendo sair do casamento, e ele ameaçando para ela não sair, ele não aceitava a separação", explicou.
"Ele programou o que ele fez. Tirou minha filha da minha vida. Amigos, parentes e conhecidos, todos nós estamos sofrendo demais pelo que ele fez. Não tem justificativa. Mais um feminicídio! Eu acho que o nosso país tem que acabar com essa matança de esposas, de namoradas, porque isso é um absurdo", clamou o médico.

Samir, além de buscar justiça, espera que Fuvio permaneça preso durante todo o processo. "Eu espero que daqui pra frente, seja feita justiça principalmente, mantê-lo preso até o final dos fatos", finalizou.

Poucos dias após o crime, a família da médica divulgou uma foto em que ela aparece com um grande corte na testa. A vítima teria mandado a imagem para uma amiga, em abril deste ano.

Foto: Divulgação/Família

O ferimento, logo acima da sobrancelha, teria sido tão profundo que Juliana precisou receber vários pontos no local.

Segundo a família, a médica teve medo de revelar que a agressão havia sido cometida pelo marido e, na ocasião, disse apenas que havia caído. No entanto, a amiga que recebeu a foto já havia presenciado outras marcas de agressão no corpo de Juliana.