Polícia

VÍDEO | Tunico da Vila denuncia vendedor ambulante por injúria racial em Vitória

O que era para ser um passeio com o porco Soba virou pesadelo para filho de Martinho da Vila; entenda o caso que aconteceu na Rua da Lama, em Jardim da Penha

Ana Paula Brito Vieira

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/Instagram @tunicodavilaoficial

Tunico da Vila, filho do cantor Martinho da Vila, denunciou ter sido vítima de injúria racial e intolerância religiosa na Rua da Lama, em Jardim da Penha, em Vitória, enquanto estava com a esposa, a jornalista Deborah Sathler, na noite desta sexta-feira (20). Um vendedor ambulante teria preferido as ofensas contra o artista.

O cantor e poeta, que está recém-operado, havia saído da sua residência para encontrar a companheira que passeava com o Soba, o porco de estimação do casal, pelo bairro.

Foi nesse momento que o crime aconteceu, veja a publicação de Tunico da Vila no Instagram depois da discussão:

“Eu, Tunico da Vila, negro brasileiro, acabei de sofrer racismo aqui na Rua da Lama por um idiota que veio falar 'volta pra favela', uma injúria racial, porque eu to passeando com o meu porco, tô operado, fui pedir pra minha esposa se retirar e ele já tinha sido grosso com ela. Ele foi gritar com ela e eu: 'meu senhor, sai daqui, dá um tempo'. Ele falou: 'volta pra favela, lá é o teu lugar'. E pior, pardo. Eu tô agradecendo aqui a Polícia Militar que veio e pegou os dados. Amanhã eu vou fazer BO, mas racistas não passarão. Não deixa não e não agridam, chama a polícia, que a polícia é obrigada a fazer o papel dela, como fez o papel dela aqui hoje. Tô com os dados dele, tô com tudo aqui. Vocês vão acompanhar essa história de pertinho. Peço apoio de todos vocês, axé!”, disse no vídeo.

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Um pouco mais tarde, o compositor publicou outro vídeo que mostra o momento em que foi agredido verbalmente, veja:

A esposa Deborah deixou seu comentário na publicação: "o homem que já foi identificado estava descontrolado porque nunca viu um porco passeando, ele não é morador do bairro, e foi super agressivo comigo e com o Soba. Mas quando você desceu ele partiu para ofensas racistas. Estaremos tomando as providências. Pessoas assim não estão preparadas para viver no século 21 e para conviver em harmonia. Obrigada por não ter partido para agressão. Por um mundo com uma comunicação não violenta".

Em entrevista por telefone, o artista contou ao Folha Vitória que irá denunciar o vendedor ambulante nesta segunda-feira, 23 de outubro, e que tem provas e testemunhas para fazê-lo.

“Eu sou preto, eu já nasci cancelado. Driblo o racismo todos os dias com os olhas e outros dias com as falas”, disse. “O importante a ser feito não é agredir o racista e sim denunciar”, completou.

Embora alegue que o vendedor tenha o mandado voltar para a favela, o chamando de macumbeiro, o artista disse que nunca negou e nunca irá negar suas raízes. “Eu aprendi tudo na favela, aprendi cantar na favela, aprendi a tocar percussão na favela”, disse.

“Eles não aceitam que o negro more em Jardim da Penha. A minha esposa com a pele mais clara, quando eu não estava, foi chamada de cidadã e a mim falou: 'volta pra favela macumbeiro'. Isso tudo por um pet de estimação, um porco que faz a necessidade dele e a gente limpa”, comentou.

De acordo com Tunico, havia até mesmo um rato de estimação no local. “Ele foi extremamente racista. Eu desci para pedir para trocar a atadura, ele estava revoltado porque o porco estava estragando a obra feita, porque o porco estava fuçando a grama...”

O cantor ainda compartilhou que Soba já encontrou até mesmo seringa utilizada para consumir entorpecentes nas ruas do bairro. “Meu porco já achou seringa para fins de drogas. Eu fui, peguei com plástico, peguei a seringa, apertei bem para jogar fora”, contou.

“Eu sou um artista, um sambista, como tal sou um ativista. O Espírito Santo é uma extensão do Rio de Janeiro que deu certo”, disse. “O povo do Espírito Santo não tem culpa”, complementou.

“Como carioca, eu ando sem camisa, eu sou assim. Eu sou um cantor, um compositor, eu não sou um agressor. Eu não sou um lutador de briga de rua, eu sou um poeta”, comentou.

Tunico da Vila relatou ter chamado a polícia que pegou todas as informações do agressor, assim como o próprio cantor. No entanto, esse não é um caso isolado de racismo, um crime que acontece diariamente no Brasil e no mundo. “Acontece em todos os lugares do mundo, acontece em qualquer lugar”, disse.

“Tive testemunhas, não vou deixar de passear com o meu porco, de cantar... Continuo preto e tá tudo certo, só que essa pessoa vai pagar pelo que fez”, disse.

Em conversa com o Folha Vitória, o compositor ainda contou que com a chegada da Polícia Militar, o vendedor mudou o seu discurso. De “volta pra favela macumbeiro” a postura mudou para “defensor dos negros”, o que não é verdade.

“Eu tô fazendo um pedido a todos os pretos e pretas que não agridam e chamem a polícia, porque a lei está do nosso lado. Tudo que eles querem é que a gente agrida e nós como pretos vamos ser presos”, disse.

"Branquitute é um sistema e não pessoas brancas, e isso nada mais é do que um reflexo da escravidão, do sistema da branquitute. Ele foi machista com a minha esposa, eu não ia admitir que ele falasse alto com minha esposa. Gritei, denunciei, chamo de racista e que ele pague. Dê voz a todos os pretos e pretas, não só ao Tunico da Vila, mas a todos", desabafou o poeta.

O porco Soba recentemente foi mostrado numa reportagem do jornal online Folha Vitória, ao lado do cantor. Leia e conheça o adorável porco de estimação de Tunico da Vila: Porco pet? Filho de Martinho da Vila cria animal de 60 kg em apartamento no ES.

Embora o homem que teria cometido o crime contra Tunico da Vila se portasse como um vendedor de bebidas, não há informações oficiais se ele tem autorização para atuar como vendedor ambulante na área.

Em nota, a Polícia Militar informou que na noite desta sexta-feira (20), policiais militares foram acionados para atender uma ocorrência de injúria racial no bairro Jardim da Penha, Vitória.

No local, segundo a polícia, Tunico informou que sofreu do crime de injúria racial durante uma discussão com um homem ao ser questionado o motivo de ele estar passeando com porco de estimação pela rua da lama.

De acordo com a Polícia Militar, o indivíduo chamou o cantor de “facetado”. O suposto autor da injúria racial confirmou ter questionado o indivíduo o motivo de estar com um porco na rua, mas negou que chamou o homem de “favelado”. Tão pouco ter feito menção a cor ou etnia dele. 

A PM disse que Tunico da Vila registraria a ocorrência, em momento oportuno, junto à Polícia Civil, pois havia passado por procedimento cirúrgico recente e não teria condições de aguardar os procedimentos legais a serem adotados para esta ocorrência.

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