Delegada diz que suspeito de matar a ex e a sogra planejou o crime e agiu com frieza
Adenilton dos Santos foi preso nesta segunda-feira (29) e alegou que agiu sob forte emoção, mas, segundo a polícia, indícios apontam que crime foi planejado nos mínimos detalhes
O homem suspeito de assassinar a ex-companheira e a sogra, na semana passada, em Vila Velha, alegou ter cometido o crime por, supostamente, ter sofrido ameaças por parte do atual namorado da ex. No entanto, a polícia acredita que o motivo do duplo feminicídio foi o fato de o suspeito não aceitar o fim do relacionamento e querer reatar com a vítima, que não o queria mais.
Adenilton de Jesus Nascimento dos Santos, de 27 anos, conhecido como "Deniltinho do Grau", se apresentou espontaneamente, ao lado de três advogados, no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Vitória, no início da tarde desta segunda-feira (29).
"Na data de hoje, por volta de 13 horas, fui procurada por advogados, que relataram que o investigado gostaria de se apresentar, tendo em vista que a gente já estava no encalço dele desde o momento do crime. Ele se apresentou, a gente fez o interrogatório dele e eu dei cumprimento a um mandado de prisão que a gente já tinha representado desde sexta-feira passada. Logo que o flagrante se expirou, a gente já se adiantou e, rapidamente, representou pela prisão, que foi decretada", disse a titular da Delegacia de Homicídio e Proteção à Mulher (DHPM), delegada Raffaella Aguiar.
O crime aconteceu na última quinta-feira (25). Segundo a polícia, primeiro o homem atirou contra a sogra, Silvanete dos Santos Freitas, 38 anos, no bairro Zumbi dos Palmares. Depois, ele foi até o trabalho da ex-companheira, identificada como Karina Freitas, de 20 anos, e também disparou contra ela.
De acordo com a delegada, um dia antes do crime, Adenilton se encontrou com a ex-companheira e os dois teriam discutido por causa do relacionamento que a vítima estava tendo com outro homem.
"No dia anterior, ele tinha ido à casa das vítimas e avistou a filha que eles tinham em comum. E aí eles tiveram uma discussão, por que ele tomou conhecimento de que ela estava em um relacionamento. Ela falou que não terminaria, e ele disse que estava querendo retomar o relacionamento, o que estava sendo negado pela vítima. No dia seguinte, ele alega que começou a sofrer ameaças pelo atual namorado da vítima, o que não foi confirmado por nós", contou.
"Ele se encheu de raiva, pegou uma arma de fogo que tinha adquirido oito meses atrás — ele não soube explicar o porquê de ter uma arma de fogo, já que ele se diz uma pessoa de bem — foi até a casa dele, deixou o veículo dele, pegou uma moto emprestada e se dirigiu até o local dos fatos, primeiro à casa da sogra. Quando chegou ao local, ele já adentrou e a surpreendeu. Começaram a discutir e diz ele que começou a questioná-la sobre o porquê das ameaças. E aí, do nada, sacou um revólver 38 e efetuou um único disparo, que foi fatal, na cabeça dela", completou Raffaella Aguiar.
A delegada disse ainda que o suspeito seguiu calmamente até o trabalho da ex-companheira, para cometer o segundo assassinato.
"Quando ele saiu de lá, qualquer pessoa normal pensa: 'se é uma pessoa de bem, vai estar nervoso'. Mas não. Calmamente, ele pegou a moto e se dirigiu ao local de trabalho onde a ex-companheira dele trabalhava. Chegou ao local, conversou com pessoas que estavam lá e foi franqueada a entrada dele dentro da empresa. Ele chegou a conversar com a vítima lá dentro. Depois, pediu para que ela o acompanhasse até a porta. Quando chegou na porta, ele a questionou sobre a suposta ameaça, mas ela negou. Ele disse que ficou nervoso e também efetuou um disparo na cabeça dela. Na sequência, já empreendeu fuga".
Desde o dia do crime, havia um mandado de prisão temporária contra Adenilton e ele era considerado foragido. Segundo a polícia, ele estava escondido em um sítio, em Viana.
"No final da tarde de quinta-feira, a gente tinha tentado surpreendê-lo dentro de um sítio, que a família dele tem em Viana. Só que, por ele conhecer a localidade e área rural sempre é uma coisa mais complicada, ele conseguiu se evadir. Desde então ele estava sendo considerado foragido. E hoje ele se apresentou, acredito eu porque viu que o cerco estava sendo fechado", frisou Raffaella Aguiar.
>> Leia também: Suspeito assassinou mãe da ex-companheira na frente de criança de 4 anos, diz família
Polícia acredita que crime foi premeditado
De acordo com a titular da DHPM, o suspeito alegou que agiu sob forte emoção. No entanto, a polícia verificou diversos indícios que apontam que o crime teria sido planejado com antecedência e nos mínimos detalhes.
"Primeiro, ele saiu do trabalho e pegou a filha dele na quarta-feira que antecedeu o crime. Segundo, ele passou em casa, deixou o carro que ele usa, pegou uma motocicleta que não era usada por ele, jogou uma mochilinha de 'iFood', segundo ele mesmo, para disfarçar. Depois ele seguiu para o local e cometeu todos os crimes", disse a delegada, que emendou:
"Antes dele efetivar o disparo contra a ex-companheira, ele chegou a ligar a motocicleta, para só depois efetuar o disparo e já fugir. Nisso, ele chegou em casa, já deixou aquela moto, pegou o carro dele e empreendeu fuga para essa zona rural, tudo para dificultar a nossa busca. Perguntado sobre o aparelho celular dele, ele falou: 'joguei fora porque eu não queria que vocês me achassem'. Então são vários fatos que nos levam a crer que uma pessoa comum não ia ter tempo de pensar isso tudo no momento do afã".
Para a delegada, a postura dele durante o depoimento também indica uma personalidade fria e sem arrependimentos.
"O depoimento ele fez de forma bem calma. Em alguns momentos, ele tentou falar que estava arrependido, esboçou até uma crise de choro, mas nada que você que esteja muito arrependido. É uma pessoa fria", afirmou.
Após prestar depoimento, o suspeito foi levado ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, onde passou por exames. Em seguida, foi levado ao presídio, onde cumprirá prisão temporária.
"Por ser um crime hediondo, essa prisão tem prazo de validade por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Mas a gente conclui que vai pedir a conversão para prisão preventiva, ou seja, ele ficará à disposição da Justiça pelo tempo que ela entender necessária", destacou Raffaella Aguiar.
Karina trabalhava em uma empresa de recicláveis e, segundo a família, teve um relacionamento de quase dois anos com o suspeito, com quem teve uma filha. Os corpos de mãe e filha foram enterrados, na manhã do último sábado (27), no cemitério de Ponta da Fruta, em Vila Velha.
Com informações do repórter Rodrigo Schereder, da TV Vitória/Record TV