Crimes de extorsão mediante sequestro dobram em dois anos no ES
Criminosos abordam as vítimas e passam horas retirando dinheiro das contas bancárias por meio dos aplicativos de celular
Os crimes de extorsão mediante sequestro dobraram nos últimos dois anos no Espírito Santo. Os dados são da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp).
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Uma das vítimas foi um autônomo de 37 anos pediu para não ser identificado pela reportagem. Ele passou por um momento aterrorizante em junho deste ano. Ele foi rendido por assaltantes quando o veículo teve uma pane mecânica na rodovia Leste Oeste, em Vila Velha.
"Chegaram dois rapazes de moto enquanto eu abria o capô do meu carro para ver qual era o problema. Eles mostraram armas e mandaram eu ir para o banco de trás, ficando de cabeça baixo para que eu não conseguisse identificá-los. Fui levado para uma mata fechada, próximo a um shopping", relembra, assustado.
Os criminosos exigiram que o homem fizesse transações bancárias, por meio de aplicativos, no celular. A vítima conta que esqueceu uma senha para acessar informações do telefone e, por isso, foi agredida.
"Meu iphone tem uma senha especial e eu havia esquecido essa senha para acessar os aplicativos que ficam na chamada nuvem. Eles ficaram muito nervosos quando disse que não me lembrava dessa senha. Eu não estava mentindo. Eles começaram a me bater, dando porrada e chutes e apontavam a arma para minha cabeça a todo momento dizendo que era pra eu passar as informações senão iriam me matar. Diziam que já tinham meu endereço porque haviam encontrado meus documentos e boletos dentro do meu carro. Eles ligaram para uma terceira pessoa para que ela me ensinasse a como eu iria fazer retirada de dinheiro sem precisar usar a senha que eu tinha esquecido", recorda.
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A vítima teve um prejuízo de R$ 14 mil. O autônomo ficou em poder dos assaltantes por mais de quatro horas.
"Pegaram meu celular, cordão de ouro, óculos, relógio, aliança, brinco. E tiravam o tempo todo quantias via Pix", acrescenta.
Em dois anos, os casos de extorsão mediante a sequestro dobraram aqui no Estado. De acordo com os dados do Observatório da Segurança Cidadã, em 2020, foram oito casos assim. No ano seguinte, houve um salto para 14 ocorrências e, neste ano, até setembro, já são 16 crimes registrados.
OUTROS CASOS
Muitos desses casos apareceram em reportagens na TV Vitória/Record TV. Na semana passada, uma mulher grávida foi rendida na porta do prédio em Jardim da Penha, em Vitória. A vítima ficou meia hora em poder do assaltante, quando foi obrigada a fazer transações bancárias por meio do Pix. O crime ocorreu quando ela saía com o carro da garagem.
No início de outubro, mãe e filho de dois anos foram salvos e encontrados pela polícia no meio de uma mata após ficarem horas sob a mira da arma de bandidos na Rodovia Audifax Barcelos, numa região onde a estrada liga Serra Sede a Jacaraípe, no município da Serra. Na ocasião, a mãe foi obrigada a passar as senhas de aplicativo bancário para os criminosos. Como a mulher não tinha muita familiaridade com a tecnologia, os bandidos fizeram ela telefonar para o marido.
"Eles fizeram ela me ligar para conseguir a senha do Icloud, de acesso à nuvem. Como ela não tem muita facilidade com tecnologia, fui eu que tinha feito para ela. Ela, realmente, não saberia. Como era um Iphone, eles não iriam conseguir mexer no telefone. Ela estava desesperada quando me ligou a mando dos bandidos. Eu passei a senha e eles conseguiram desativar o rastreador do celular", relembra o marido da vítima. Ela foi resgatada pela polícia e passa bem.
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De acordo com o delegado Maurício Gonçalves, chefe da Divisão Antissequestro da Polícia Civil, a punição para esses crimes pode chegar a oito anos de prisão.
"Ele tem uma pena de oito a 15 anos. A pena pode variar de acordo com modalidades qualificadas. Se o sequestro durar mais de 24 horas, se a vítima tiver menos de 18 anos ou mais de 60 anos, ou se o sequestro for realizado por quadrilha ou bando, a pena é aumentada de 12 a 20 anos de reclusão", explica.
O delegado faz orientações para evitar ser alvo de um crime desses. "O criminoso estará atento aos bens materiais que a pessoa esteja de posse no momento. O ideal é, se estiver de carro, estacione em locais mais iluminados ou em estacionamentos particulares, evitando estar no veículo em lugares escuros, que são os preferidos pelos criminosos em fazer abordagem", alerta.
Orientações seguidas hoje em dia pelo autônomo do início da matéria.
"Eu não deixo aplicativo de banco no celular. Eu passo na rua de carro observando sempre para todos os lados e atento à movimentação das pessoas. Não quero nunca mais passar por isso", relata.
Com informações do repórter Paulo Rogério, da TV Vitória/Record TV