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Emissão de 400 passaportes em Mantenópolis é investigada pela Polícia Federal

Organizações criminosas montam famílias falsas para facilitar entrada nos EUA. Emissão acima do normal no município da região Noroeste do Espírito Santo pode ter relação com o crime

Foto: Divulgação

Uma investigação da Polícia Federal apura a emissão de cerca de 400 passaportes em Mantenópolis, na região Noroeste do Espírito Santo. A suspeita é de que os documentos tenham sido emitidos por meio de fraudes.

O delegado Guilherme Helmer, da Delegacia de Defesa Institucional da Polícia Federal, explicou que a suspeita surgiu em setembro de 2020. Na ocasião, um casal esteve na Polícia Federal para emitir o passaporte do filho, de apenas um ano. A mulher era natural de Cuparaque, em Minas Gerais, e o rapaz de Mantenópolis.

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De acordo com o delegado, ao verificar os dados dos documentos dos supostos pais e da criança, a atendente desconfiou que algumas informações poderiam estar equivocadas.

“Quando fomos analisar, esse suposto pai tinha feito um reconhecimento de paternidade. No período que teria ocorrido a concepção, ele estava no Brasil e a mulher nos Estados Unidos. Isso levantou suspeitas. Ele havia acabado de ser deportado há 11 dias dos EUA. Ela já havia sido detida tentando entrar no país pelo México”, disse.

Segundo o delegado, o passaporte foi feito com um requerimento solicitado pela internet, em Mantenópolis. “A gente percebeu que desse mesmo local foram pedidos 400 passaportes e, desses 400, 54 foram de pessoas que foram detidas por autoridades americanas e deportadas”, explicou. 

Mantenópolis é a cidade do ES com maior número de pessoas deportadas dos EUA

O município de Mantenópolis tem, segundo a Polícia Federal, o maior número de pessoas deportadas dos Estados Unidos do Espírito Santo. Desde 2017, 254 pessoas foram presas e trazidas de volta para o Brasil após tentarem entrar de forma ilegal no país. 

Em segundo lugar na lista das cidades capixabas com o maior número de pessoas deportadas dos EUA está a capital, Vitória. Ao todo, 142 pessoas já foram pegas tentando entrar nos Estados Unidos sem autorização. 

Colatina teve 117, Barra de São Francisco 109, Vila Velha 106 e Pancas 103 registros de pessoas deportadas dos Estados Unidos, de acordo com os dados da Polícia Federal.

Migração ilegal pode ter relação com busca por emprego

Ainda de acordo com o delegado Guilherme Helmer, a busca por emprego pode ter relação com a migração ilegal, principalmente quanto se trata de pessoas que não têm qualificações profissionais. 

“As pessoas querem trabalho. Na verdade, está faltando garçom, babá, diarista, motorista. As empresas de logística querem pressionar o governo para que os EUA passe a importar motoristas. O que a gente nota quando investiga é que, normalmente, existe uma organização estruturada. Elas aliciam pessoas com interesse de trabalhar nos EUA e imigrar”, disse.

A política de imigração dos Estados Unidos mudou recentemente. O delegado explicou que, durante um período, os EUA dividiam os núcleos familiares. 

“A separação da família é uma violação aos Direitos Humanos. Até hoje, existem 545 crianças e adolescentes de várias nacionalidades que o Governo não consegue encontrar. Por isso, foram feitos centros de detenção provisória. O prazo máximo nesse centro é de três dias. Se não resolver a situação da família, ela é colocada em liberdade com o compromisso de comparecer as intimidações”, contou.

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Com a mudança, de acordo com o delegado, se uma família for detida e o centro estiver cheio ela é imediatamente colocada em liberdade. 

“Se é solteiro e é preso, a patrulha já o deporta. Vendo isso, o que os organizações fizeram: começaram a montar famílias falsas. Eles fogem da regra para fraudar uma família”, disse.

Ainda segundo as investigações, em situações extremas, há quem escolha por “alugar uma criança”. 

“Um colega viu uma criança sendo usada por três grupos diferentes. Essa não é a situação usual. A usual é o ‘coiote’ ter um preço máximo e mínimo. Quando tem um homem ou mulher com um filho ou dois, ele pede pra usar essas famílias, variando de 30 mil dólares por criança”, contou.

Na imigração ilegal, “coiote” é o nome dado à pessoa que conduz os imigrantes de forma clandestina pelas áreas de fronteira, mediante um pagamento.

Coiote no ES: mandado de prisão foi cumprido em Fundão

Em Fundão, na região metropolitana, a Polícia Federal cumpriu um mandado de prisão em uma casa. 

“Eles juntavam 10, 15 pessoas e embarcavam. Essas pessoas tinham pouca qualificação. Elas entregam tudo para o ‘coiote’. No mínimo de R$ 12 mil a máximo de R$ 30 mil. A partir do momento que elas contratam o ‘coiote’, tudo é custeado por ele”, explicou o delegado.  

As pessoas que foram encontradas com os coiotes, segundo a polícia, foram encaminhadas para o atendimento social nos Cras. O delegado destacou que o desejo de imigrar, neste caso, não é considerado crime, mas sim o aliciamento das pessoas.

“Quem quer imigrar não comete crime. Crime é aliciar essas pessoas para viajar. Se a gente descobre que alguém está querendo migrar, a gente liga e fala sobre os riscos da viagem. O criminoso não é ele, o criminoso é o coiote”, frisou. 

Ainda de acordo com a polícia, a organização criminosa também atua em outros estado como Minas Gerias e São Paulo. As investigações vão continuar para identificar e prender outras pessoas que fazem este tipo de aliciamento.

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