Polícia

Artista recupera quadros avaliados em mais de R$ 30 mil apreendidos em mansão na Ilha do Boi

Julyana Ghisolfi esteve na delegacia juntamente com outras pessoas que alegam terem sido enganadas por mulher de 45 anos presa por suspeita de aplicar golpes

Guilherme Lage

Redação Folha Vitória
Foto: Acervo pessoal

Uma dor de cabeça de mais de um mês foi remediada na noite da última quinta-feira (7) para a artista plástica Julyana Ghisolfi Marquette Hulle. Ela afirma ter sido lesada em mais de R$ 30 mil por vendas de quadros que nunca foram pagos pela mulher de 45 anos, suspeita de estelionato, presa em uma mansão na Ilha do Boi, em Vitória, na última quinta-feira (7).

Julyana foi uma das pessoas que compareceu ao 3º Delegacia da Praia do Canto para reaver bens que haviam sido adquiridos pela suspeita. Ao todo, foram recuperadas 11 pinturas que estavam na casa da suposta estelionatária. 

O contato entre artista e suspeita começou de forma inocente, após uma publicação nas redes sociais. Julyana havia postado uma foto de um de seus quadros, e recebeu uma mensagem da mulher, que se mostrou interessada em adquirir a obra. 

A mulher se apresentou como assessora jurídica, que fazia representações de registros de marcas e patentes, o que tranquilizou a artista para realizar a transação. 

"Ela entrou em contato comigo pedindo o quadro, quis também uma outra tela e me perguntou se eu levaria até a casa dela. Eu disse que sim, levei as duas telas até lá. Fui com o intuito de entregar e receber, mas ela disse que o limite de Pix dela havia excedido, porque já tinha feito vários naquele dia", contou a artista. 

Apesar da decepção por não receber o dinheiro logo após a entrega das telas, Julyana disse compreender a situação e que retornaria no dia seguinte para que pudessem realizar o acerto. 

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Foto: Reproducao/ Arquivo Pessoal
A artista plástica Julyana Ghisolfi esteve na delegacia para reaver suas pinturas

No dia seguinte, a suspeita encomendou mais quadros e pediu que fossem levados à sua casa. A artista preparou as telas e foi acompanhada do marido e da filha fazer a entrega. 

No momento do acerto, mais um banho de água fria: a mulher alegou que a conta no banco havia sido bloqueada e o pagamento não poderia ser feito naquele momento. 

"Levei achando que ela ia acertar tudo comigo, eu já estava até produzindo mais quadros, tudo para a pronta-entrega, tudo isso em menos de uma semana. Ela usava falas, nomes de pessoas importantes para te seduzir, caí na conversa dela". 

Angústia para conseguir receber pelo trabalho

Após a entrega dos demais quadros, a rotina da artista se tornou um exercício de espera e angústia para receber pelo trabalho. De acordo com ela, a cada dia a suspeita tinha uma nova desculpa ou algum novo problema para não efetuar o pagamento. 

Para despistar a artista, a mulher utilizava de diversos subterfúgios, como falar sobre religião e até mesmo dizer que estava na rua, em conversa com advogados e visitando o pai doente em um hospital. 

"Uma vez liguei para ela e ela disse que estava visitando o pai no hospital, mas ouvi o cachorro dela latindo e também a empregada dela chegar perto e perguntar o que queria para o almoço". 

Neste momento, amigos e conhecidos próximos de Julyana alertaram a ela que a mulher havia lesado muitos deles em outras ocasiões. A situação era a mesma: a suspeita comprava itens e não pagava por nada. 

Em uma das últimas tentativas de ser paga, Julyana conta que a suspeita chegou a lhe enviar fotos em uma delegacia, alegando que sua casa havia sido roubada e que precisava realizar um boletim de ocorrência. 

Após muitas negociações, a suposta estelionatária resolveu ceder: devolveria as telas à artista, mas não as que já estavam emolduradas nas paredes da sala de casa. Proposta que foi aceita por Julyana.

"Ela não esperava que eu fosse aceitar a proposta, notei nela até uma certa ira, porque não queria se desfazer dos quadros".  

Acontece que a devolução também não aconteceu. Sem dinheiro e sem os quadros, a artista amargou um grande prejuízo, uma vez que vendeu as obras a preço de atacado à suspeita, o que fez com que ficasse sem quadros para vender a outros clientes. 

Investigação da vida pregressa da acusada

Quando parecia não haver mais esperança para reaver os bens, a artista foi avisada pelo dono de uma loja de Vitória que a suspeita teria aplicado o mesmo golpe em seu estabelecimento em 2022, utilizando nome e endereço falsos. 

"Ele disse: 'Vou lá na casa dela buscar meus tapetes agora, porque ano passado ela fez a mesma coisa comigo, usou um nome falso'". 

Neste momento, a rede de pessoas lesadas pela mulher começou a crescer e uma das pessoas prejudicadas, uma advogada, realizou uma investigação da vida pregressa da suspeita. 

O grupo descobriu então que a mulher utilizava diferentes nomes para realizar compras para sua casa. O método era sempre o mesmo: levar os objetos e nunca pagar por eles. 

Foi quando os lesados resolveram representar formalmente contra a mulher em uma delegacia. 

Prisão e devolução dos quadros

Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal
Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal

Na noite da última quinta-feira (7), Julyana foi orientada por policiais a comparecer à delegacia para reaver os quadros que foram apreendidos na casa da suspeita. No local, estava um grupo de mais de 30 pessoas que também foi recuperar itens que estava na residência da mulher. 

"A delegacia parou. Toda hora chegava gente para prestar depoimento. O dono da casa onde ela morava apareceu também para entender todo o movimento que estava acontecendo por lá". 

Quando chegou à delegacia, Julyana foi abordada pela própria suspeita, que pediu a ela para que não a prejudicasse. 

"Eu disse a ela que não a prejudicaria, mas contaria a verdade. Ela é uma pessoa extremamente doente, acumuladora. A casa dela tem pilhas e mais pilhas de coisas. Além do closet, ela tem um quarto inteiro só de roupas, sapatos, bolsas". 

No momento em que recuperou os quadros, a artista chegou a fazer uma publicação nas redes sociais em que dizia "a exposição hoje é na delegacia". A postagem logo viralizou, mas precisou ser apagada.

De acordo com Julyana, o alcance da publicação foi muito alto e algumas pessoas chegaram a confundi-la com a própria suspeita. 

"Precisei apagar, muitas pessoas me marcaram e teve gente que chegou a acreditar até que eu era a caloteira da história, é difícil lidar com isso", revelou a artista. 

A reportagem do Folha Vitória tenta contato com a defesa da suspeita para se pronunciar sobre o caso. O espaço está aberto e a matéria será atualizada quando a devida manifestação acontecer. 

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