IML de Vitória troca corpos e jovem é enterrado no lugar de outra pessoa
Matheus Quintiliano foi encontrado no valão de Oriente, em Cariacica, mas seu corpo foi sepultado em Domingos Martins, no lugar de Gelson Pereira da Rosa
A dor da perda se multiplicou em um cenário revoltante para a família Quintiliano. O jovem Matheus Soares Maria Quintiliano, de 21 anos, foi encontrado morto no valão de Oriente, em Cariacica, após dois dias desaparecido. No entanto, a família denuncia uma sequência de erros graves que culminou na troca de corpo descoberta após o sepultamento.
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A confusão só foi desfeita quatro dias após o sepultamento, quando a família descobriu que o corpo de Matheus havia sido enterrado no lugar de outra vítima, um homem de 56 anos identificado como Gelson Pereira da Rosa, em Domingos Martins.
A família denuncia falhas no atendimento e identificação das vítimas que acabou levando à troca de corpos no Instituto Médico Legal (IML) de Vitória.
Desaparecimento e o reconhecimento do corpo
Matheus Soares, morador de Cariacica, desapareceu no dia 23 de dezembro e foi encontrado morto no dia 25, em estado avançado de decomposição. A causa da morte foi inicialmente apontada como afogamento, mas a família acredita que ele tenha sido assassinado.
Mesmo após o corpo ser levado ao IML de Vitória, o processo de liberação foi marcado por uma série de erros.
Karina, irmã de Matheus, relata:
"Na quarta-feira (24), fomos ao DML e eu reconheci o corpo do meu irmão três vezes, para ter certeza. Ele tinha tatuagens que eu conhecia. Porém, a documentação estava errada. Quando o carro da funerária chegou, me disseram que o nome estava trocado. Fiquei em choque, porque era para ser meu irmão e não outra pessoa."
Nos dias seguintes, a família de Matheus enfrentou uma série de obstáculos ao tentar liberar o corpo para o sepultamento. Na quinta-feira, Karina retornou ao IML, onde foi informada de que o processo estava demorando devido à dificuldade de coletar as digitais da vítima.
"Eu voltei na quinta-feira, perguntei o motivo da demora e me disseram que estavam esperando a coleta das digitais. Achei estranho, pois meu irmão não estava desaparecido em outro estado, e essa desculpa não fazia sentido."
No terceiro dia, a família recebeu mais uma justificativa que impediu o sepultamento: a necessidade de uma identidade que viria da Bahia. Essa alegação deixou a família ainda mais desconfiadam pois o jovem é capixaba.
Corpo foi enterrado em Domingos Martins
Por conta própria, os familiares começaram a investigar a situação e descobriram que, desde a quarta-feira, os corpos estavam trocados.
Sem aviso, os responsáveis pelo DML haviam enterrado o corpo de Matheus em Domingos Martins, no lugar de outra pessoa.
Karina não esconde a indignação:
"Desde a quarta-feira, eles sabiam do erro, mas não falaram nada. Ficaram esperando a tal identidade da Bahia, quando meu irmão nem sequer era de lá. Agora, a gente descobre que ele foi enterrado em Domingos Martins, no lugar de outro homem. Isso é negligência!"
Jovem é desenterrado e levado de volta ao IML
Neste domingo (29), o corpo de Matheus foi desenterrado em Domingos Martins e levado novamente ao IML de Vitória para exumação e troca dos corpos. Karina teve que fazer o reconhecimento do corpo mais uma vez.
"Agora, finalmente, vamos acabar com o sofrimento. Reconheci o corpo novamente, mas o que a gente quer é que isso não aconteça com mais ninguém. A dor que estamos passando é desumana."
O erro afetou não apenas a família de Matheus, mas também a família da outra vítima, que acreditava que o corpo enterrado em seu lugar era de seu parente. Karina, por sua vez, se mostra determinada a buscar seus direitos.
"É um momento muito difícil para nossa família. Achei uma palhaçada, uma injustiça, uma falta de respeito com as famílias. Isso é um caso claro de negligência profissional. Vamos atrás dos nossos direitos, mesmo sabendo que isso não vai trazer meu irmão de volta."
Em entrevista com a advogada da outra família envolvida, foi confirmado que o corpo de Gelson Pereira da Rosa foi retirado do IML e liberado para sepultamento em Domingos Martins neste domingo (29).
A advogada ressaltou que a outra família também está buscando medidas legais contra os erros cometidos.
O que diz a Polícia Científica
Procurada pela reportagem, a Polícia Científica lamentou o ocorrido por meio de nota:
A Polícia Científica do Estado do Espírito Santo (PCIES) lamenta profundamente o ocorrido, solidariza-se com os familiares e informa que a troca foi constatada pelos próprios servidores do Instituto Médico Legal (IML). O diretor do instituto entrou em contato com os familiares e iniciou imediatamente os trâmites legais para a exumação de Matheus Soares Maria Quintiliano, que foi enterrado no lugar de Gelson Pereira da Rosa.
Informamos que Gelson já foi sepultado corretamente, e Matheus foi liberado para o devido sepultamento.
A Corregedoria da Polícia Científica irá apurar o ocorrido, bem como as responsabilidades relativas ao caso. O procedimento para corpos em decomposição envolve a realização da perícia necropapiloscópica, que consiste na obtenção das impressões digitais e na comparação com as impressões digitais presentes nos documentos do falecido.
A PCIES utiliza protocolos rigorosos para a liberação de corpos, entretanto, irá reavaliar seus procedimentos para evitar que situações como essa aconteçam novamente.
*Com informações da repórter Nathalia Munhão, da TV Vitória/Record