Polícia

Juiz amigo de Alexandre Martins é o primeiro a depor durante júri

Carlos Eduardo Lemos começou a ser ouvido por volta das 16 horas. Ele é uma das testemunhas de acusação no julgamento dos acusados de serem os mandantes do assassinato

Carlos Eduardo Lemos foi o primeiro a depor no julgamento dos acusados de mandar matar Alexandre Martins Foto: TV Vitória

O juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos foi a primeira testemunha de acusação a ser ouvida, nesta segunda-feira (24), durante o júri popular de dois acusados de serem os mandantes do assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho. Carlos Eduardo, que trabalhou durante dois anos com Alexandre Martins na Vara de Execuções Penais e era amigo da vítima, começou a ser ouvido por volta das 16 horas.

Por volta das 19h15, o juiz Marcelo Soares Cunha, que preside o júri, determinou uma pausa de cerca de 15 minutos para que os jurados pudessem descansar. Em seguida, o depoimento foi retomado até o fim dos trabalhos do dia.

Em seu depoimento, o magistrado relatou ameaças sofridas, além da presença constante dos réus no gabinete do então juiz titular da 5ª Vara Criminal de Vitória, Antônio Leopoldo Teixeira. De acordo com o depoimento de Carlos Eduardo Lemos, meses após a ordem para transferência do coronel Walter Gomes Ferreira do Espírito Santo para um presídio no Acre, o juiz Alexandre Martins foi executado.

Após a execução de Alexandre Martins, o juiz Carlos Eduardo Lemos informou ao Júri que começou a receber ameaças por telefone e fax. O informante relatou ainda que, na condição de juiz adjunto da 5ª Vara Criminal de Vitória, elaborou com o juiz Alexandre Martins de Castro Filho representação contra o titular da Vara, juiz Antônio Leopoldo, por irregularidades em sentenças e documentos de transferência de presos. O juiz acabou sendo aposentado compulsoriamente pelo Tribunal de Justiça.

Antes do início do júri, a defesa dos réus, o coronel da reserva da Polícia Militar, Walter Gomes Ferreira, e o ex-policial civil e empresário do ramo de granito, Claudio Luiz Andrade Baptista, o Calú, pediram a exclusão do magistrado do rol de testemunhas arroladas pelo Ministério Público Estadual (MPES), justamente por causa da proximidade dele com Alexandre Martins. No entanto, o pedido foi negado pela Justiça.

Antes do depoimento do juiz Carlos Eduardo Lemos, os sete jurados escolhidos - cinco homens e duas mulheres - tiveram pouco mais de uma hora para fazer a leitura de um resumo do processo sobre o caso, já que o documento original possui mais de 7 mil páginas, com 31 volumes e 39 anexos.

O julgamento, que é realizado no Cineteatro da Universidade Vila Velha (UVV), em Boa Vista, Vila Velha, teve início pouco depois das 11 horas desta segunda-feira, cerca de duas horas depois do previsto. Na parte da manhã, só foi possível definir os sete jurados que participariam dos trabalhos. Em seguida, foi feito um intervalo para o almoço e o júri foi retomado por volta das 14h30.

A princípio, havia 15 testemunhas a serem ouvidas no total: cinco para cada réu e cinco de acusação. No entanto, duas testemunha de defesa do coronel Ferreira não compareceram ao júri. Também faltaram ao julgamento três testemunhas de acusação, arroladas pelo Ministério Público Estadual.

Movimentação

Público precisou retirar senha para poder acompanhar de perto o júri, no Cineteatro da UVV Foto: TV Vitória

Logo pela manhã, uma fila com mais de 100 pessoas já podia ser vista no local. O primeiro a chegar ao auditório da universidade foi o juiz responsável pelo caso, Marcelo Soares Cunha. Em seguida, foi a vez dos acusados.

No local, os advogados de defesa de Calú prometeram divulgar um áudio de uma conversa em que um promotor defende que o crime foi um latrocínio - assalto com morte - e não de mando, tese sustentada pelo MPES. Também defendendo a tese de latrocínio, o coronel Ferreira negou mais uma vez participação no crime e diz estar sendo vítima de uma armação.

Demonstrando tranquilidade, Alexandre Martins de Castro, pai do juiz, também compareceu ao julgamento. Ele chegou ao local sozinho e afirmou acreditar na Justiça.

De acordo com o Tribunal de Justiça do Estado (TJES), a previsão é de que o júri popular dure cinco dias. A partir desta terça-feira, o juiz Marcelo Soares Cunha pretende trabalhar das 8h30 às 21 horas. Só terão acesso ao recinto as pessoas que pegarem as senhas, que serão distribuídas na própria UVV.

O crime

Na época do assassinato, Alexandre Martins comandava investigações contra o crime organizado no Espírito Santo Foto: TV Vitória

Alexandre Martins de Castro Filho foi assassinado na porta de uma academia de ginástica em Itapoã, Vila Velha, no dia 24 de março de 2003. Na época, ele comandava investigações contra o crime organizado no Espírito Santo.

Os acusados de serem executores do crime - Odessi Martins da Silva, o Lumbrigão, e Giliard Ferreira de Souza - foram presos, julgados e condenados a mais de 24 anos de prisão. Também foram condenados, como intermediadores do crime, os sargentos Heber Valêncio e Ranilson Alves da Silva; Fernandes de Oliveira Reis, o "Cabeção"; André Luiz Barbosa Tavares, o "Yoxito"; e Leandro Celestino dos Santos, o "Pardal". 

Durante todos esses anos, o processo se arrastou nos tribunais do Espírito Santo porque, além dos inúmeros recursos apresentados pela defesa dos acusados de serem os mandantes do crime, nove juízes foram considerados impedidos de julgarem o caso. Eles alegaram ter algum tipo de relação com uma das partes - ou réu ou vítima - e, por esse motivo, o julgamento poderia ser considerado sem validade.