Uma empresa localizada em Cachoeiro de Itapemirim, região sul do Estado, foi alvo de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), na manhã desta quarta-feira (09).
De acordo com a Polícia Civil, o objetivo da Operação “Lobo de Wall Street”, em alusão ao filme de mesmo nome, foi desarticular uma organização criminosa suspeita de praticar crimes de estelionato, pirâmide financeira e lavagem de dinheiro. Duas pessoas foram presas e vários materiais apreendidos.
Segundo as investigações, as operações suspeitas, semelhantes às de pirâmides financeiras, movimentaram pelo menos R$ 68 milhões, em cerca de 800 contratos identificados.
O promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-Sul) do MPES, Luiz Agostinho Abreu da Fonseca, explicou que a empresa utilizava consórcios verdadeiros, de empresas registradas e com autorização para atuar no setor, para dar credibilidade à fraude.
“O que chamou a atenção foi a oferta de ganho elevado em pouco tempo atraindo investidores. Quanto mais consórcios eles vendiam, mais gente entrava e mais dinheiro eles faziam”, analisou.
Durante a operação, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão, deferidos pela 4ª Vara Criminal da Justiça Estadual de Cachoeiro de Itapemirim, nas residências dos investigados e na empresa alvo da ação.
No local, foram apreendidos computadores, notebooks, celulares e documentos. Os equipamentos apreendidos serão enviados ao Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), do MPES, para extração de informações, e os documentos serão encaminhados para a Delegacia Especializada de Investigação Criminal (Deic) para análise.
Além desse material, uma quantia de R$ 103 mil em espécie foi encontrada na empresa. Dois indivíduos foram detidos em flagrante, por porte ilegal de arma de fogo, e levados para a 7ª Delegacia Regional de Cachoeiro de Itapemirim.
Eles foram liberados para responderem em liberdade, após o pagamento da fiança arbitrada pela autoridade policial.
Com eles, foram encontrados uma pistola calibre 9mm, um revólver calibre 357 e dois revólveres calibre 38, uma espingarda calibre 12 e outra calibre 38, além de 135 munições calibre 9mm, 17 munições calibre 38, 99 munições calibre 357 e 31 munições calibre 12.
Durante a operação, também foram apreendidos diversos veículos, sendo uma BMW X1, um Honda Civic, duas Toyotas Hilux, uma S10, um Golf GTI, um Tracker, um Fiat Toro, duas motos DUCATI Monster 1200cc, uma Kawasaki Z1000, um quadriciclo e duas motos elétricas.
Pirâmide financeira
A empresa alvo da operação é investigada pela prática da chamada “pirâmide financeira”, que proporciona aos envolvidos o enriquecimento de forma rápida, porém ilegal.
De acordo com as apurações iniciais, a prática consistia na realização de investimentos financeiros a curto prazo, com ganhos muito acima do percentual praticado pelo mercado nacional.
Segundo as investigações, essa oferta de ganhos expressivos a curtíssimo prazo era a forma de a suposta organização criminosa atrair potenciais novos investidores, que retroalimentavam os ganhos de quem deu origem ao esquema. A situação, porém, não se sustenta, podendo se tratar de prática de pirâmide financeira, de acordo com o Ministério Público.
Ainda segundo o MPES, os suspeitos ofereciam cotas de contrato de consórcios, que serviam de vitrines para atrair novos investidores, captando recursos com a promessa de ganhos futuros.
As diligências, em um primeiro momento, indicam que os investigados estariam oferecendo o investimento financeiro a curto prazo, com ganhos muito acima do percentual praticado pelo mercado financeiro nacional. Além disso, segundo o Ministério Público, existem indícios de venda de cotas de consórcios, utilizadas de forma fraudulenta como investimentos, com a promessa de lucro de 20% a 50% em 30 dias.
Após receberem a comissão pela venda, segundo as investigações, os suspeitos rompiam com o vínculo do título negociado sem o conhecimento prévio do investidor. Com isso, o dinheiro do consumidor ficava em mãos da suposta organização criminosa e não era usado para honrar as parcelas do consórcio.
De acordo com o MPES, ainda não é possível saber, dentre os cerca de 800 contratos assinados com clientes identificados pelo Gaeco-Sul e pela Polícia Civil, quais foram vítimas e quem se beneficiou do suposto esquema.
Os investigados, segundo o Ministério Público, também têm vínculos com empresas com características de serem de fachada, já que as forças policiais não encontraram movimentação ou rastro de atividades em alguns dos endereços visitados.
Investigações
O delegado da Deic de Cachoeiro, Rafael Amaral, contou que as investigações começaram há cerca dois meses, após o recebimento de denúncias anônimas. Disse também que a empresa está em funcionamento pelo menos desde outubro de 2019, mas há suspeita de que o esquema aplicado pelos empresários era anterior à abertura oficial do negócio.
O delegado avaliou que, na busca do lucro rápido, as pessoas podem não ter dado conta da fraude. “Os investidores tinham o retorno dentro de 30 dias, mas eles não tinham ciência de quantos consórcios tinham no seu CPF”, ponderou.
“A finalidade da operação é a busca de outros elementos de convicção para alimentar o procedimento que tramita aqui no Gaeco, para que se possibilite uma possível ação penal. Mas ainda temos que aprofundar as investigações. Em princípio, temos oito pessoas envolvidas, a maioria residente em Cachoeiro”, informou Fonseca.
Operação
Segundo o MPES, a Operação Lobo de Wall Street foi deflagrada após cooperação e prévia investigação da Polícia Civil e do Ministério Público. Ela foi conduzida pelo MPES, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco-Sul), e pela Polícia Civil do Espírito Santo (PCES), por meio do Deic de Cachoeiro de Itapemirim.
A ação também contou com o apoio do Núcleo de Inteligência da Assessoria Militar do Ministério Público Estadual e da 7ª Delegacia Regional.
O nome “Lobo de Wall Street” é em referência a um filme de 2013, dirigido por Martin Scorsese, com o ator Leonardo DiCaprio. O longa é baseado nas memórias de Jordan Belfort, um corretor de investimentos que realiza fraudes envolvendo investimentos no centro financeiro dos Estados Unidos, Wall Street, em Nova York, e levava uma vida de ostentação até ser preso.