A socialite Sandra Corteletti, detida na Operação Sanguinello, chegou por volta das 09 horas à sede do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em Vila Velha, para prestar novo depoimento. Sandra e o esposo, Ricardo Corteletti, foram presos na última quarta-feira (28), em Vila Velha.
Ela, que cumpre prisão preventiva em uma penitenciária feminina, chegou algemada, sob escolta policial e com uniforme do presídio. Equipes de reportagem tentaram falar com a socialite, mas o advogado de defesa disse que ela não irá se manifestar sobre o caso.
De acordo com o Ministério Público Estadual (MPES), Sandra havia prestado depoimento aos promotores do Estado, na última quinta-feira (29), das 19h30 às 23 horas. Nesta sexta-feira (30), ela começou a ser ouvida por um delegado, um escrivão e um representante o Ministério Público de Minas Gerais, conforme divulgou o Folha Vitóra, com exclusividade. O delegado Denilson dos Reis Gomes também acompanhou os desdobramentos da operação em municípios mineiros.
Por volta das 10 horas, desta sexta-feira (30), o empresário Ricardo Corteletti também chegou ao local para prestar depoimento. Ele foi algemado e encobriu o rosto. O empresário entrou correndo no prédio, sem falar com a imprensa. Além de Sandra e Ricardo, o empresário Frederico Leone também foi detido, e prestou depoimento na última quinta-feira (29). Ele era investigado desde 2006.
Os filhos da socialite também foram ao Gaeco, acompanhados por advogados. Eles conseguiram entrar no local, e deverão conversar com os pais.
Ainda segundo o MPES, na próxima semana, os integrantes do Gaeco tomarão depoimentos de quatro pessoas que também figuram como possíveis envolvidos no esquema, mas que não tiveram a prisão decretada. Além da oitiva dos envolvidos, os responsáveis pelas investigações estão analisando documentos e o material apreendido.
Outros presos na operação, João Batista Tomaz de Carvalho e Juscelino de Jesus Carvalho foram ouvidos na tarde de quarta-feira (28). e em seguida foram colocados em liberdade, por terem colaborado com as investigações. Já Cristiano da Silva, outro que foi preso na quarta-feira, não quis prestar depoimento e segue na prisão.
Em entrevista ao Folha Vitória, o advogado de Cristiano, Christian Lugon, disse que ingressará com um habeas corpus, ainda nesta sexta-feira (30), pedindo a soltura do cliente. “Analisei a documentação, que é extensa, mas eu particularmente não identifiquei uma suposta fraude. É uma prisão desnecessária. Bastaria um mandato de busca e apreensão para a análise das provas técnicas. Tenho de saber qual a acusação (contra Cristiano). Genericamente eles atribuem a não recolhimento de tributos, ICMS… Mas sobre a conduta não ficou claro. Vamos ingressar com um pedido de habeas corpus amanhã”, disse o advogado.
Os acusados de envolvimento podem responder por crime contra a ordem tributária, cuja pena varia de um a cinco anos de prisão; lavagem de dinheiro (pena de um a três anos de prisão); falsidade ideológica (um a cinco anos de prisão) e organização criminosa (três a oito anos de prisão). Os depoimentos e o material apreendido indicam que o esquema de fraudes tem extensão maior que o apurado inicialmente, com mais pessoas e empresas fictícias envolvidas, bem como um valor financeiro superior ao apurado inicialmente, nas operações comerciais com fortes indícios de irregularidades.
O teor dos depoimentos não pode ser revelado, mas segundo o MPES, ainda não foi totalmente esclarecida a participação de cada um dos acusados no esquema. O órgão ainda não informou se solicitará a prorrogação das prisões preventivas.
A operação
A “Operação Sanguinello” foi deflagrada na última quarta-feira (28), pelo MPES, por meio do Gaeco, e pela Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), por meio da Receita Estadual, com apoio da Polícia Militar. O objetivo foi desarticular e colher provas relativas a uma organização criminosa que atua no setor atacadista e varejista de bebidas em todo o Espírito Santo e Estados vizinhos, cujas ações em terras capixabas apontam para operações comerciais fraudulentas da ordem de R$ 230 milhões
Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão pelos agentes do Gaeco/MPES, da Sefaz e da Polícia Militar, em Vitória, Vila Velha e Cariacica. Também foram cumpridos cinco dos seis mandados de prisão temporária emitidos pela Vara da Central de Inquéritos de Vitória, além da realização de diligências fiscais e efetivação de ordens judiciais de sequestro de bens, ativos e valores supostamente desviados, visando à restituição das quantias sonegadas. Alvo de um dos mandados de prisão, Sandra da Penha Corteletti se apresentou ao Gaeco, por volta das 13 horas, da última quarta-feira.
Os trabalhos visam estancar todas as causas e vertentes do esquema fraudulento, bem como colher provas e informações para futuras autuações fiscais e ações penais, além de atingir os mentores, executores e beneficiados das práticas investigadas, e ainda possibilitar o cálculo dos reais prejuízos aos cofres públicos.
As investigações tiveram início em outubro de 2013, a partir de levantamentos feitos pela Receita Estadual e o Ministério Público do Espírito Santo e de Minas Gerais. Os fatos se tornaram mais evidentes a partir de fevereiro de 2014, quando um empresário, proprietário de um restaurante em Vila Velha, denunciou crimes de sonegação fiscal, associação criminosa e falsidades de toda ordem em sua página de uma rede social pouco antes de suicidar. O episódio corroborou com o trabalho que já vinha sendo executado pelo Ministério Público e a Receita Estadual do Espírito Santo.
A operação e as investigações são realizadas em parceria com Ministério Público, a Secretaria da Fazenda e a Polícia Civil de Minas Gerais, onde também foram realizadas buscas e apreensões.