A suposta organização criminosa investigada por lavagem de dinheiro, no âmbito da operação Piànjú, deflagrada na última terça-feira (15) pela Polícia Civil em parceria com o Ministério Público Estadual (MPES), teria utilizado empresas laranjas para enviar dinheiro do Brasil para a China e os Estados Unidos. De acordo com as investigações, para viabilizar as operações financeiras, eram produzidos contratos fraudulentos, que estão sendo investigados.
Ainda segundo as autoridades que estão à frente do caso, os envolvidos no suposto esquema chegaram a movimentar cerca de R$ 800 milhões. A polícia e o Ministério Público acreditam que esse dinheiro era enviado à organização criminosa sediada no Espírito Santo por empresas de outros estados e que eram fruto de crimes como corrupção.
“A gente solicitou um pedido de cooperação internacional com os Estados Unidos. Estamos aguardando ainda a tradução desse material, que foi enviado para nós, e isso vai possibilitar nos aprofundarmos mais na investigação. Em relação à China, a gente tem o problema da ausência de cooperação internacional, o que nos dificulta um pouco descobrir o que foi feito com esse dinheiro lá e a quem ele pertence”, ressaltou o chefe da Divisão de Furto e Roubo de Veículos da Polícia Civil, delegado João Paulo Pinto, durante coletiva de imprensa realizada na manhã desta quinta-feira (17).
As investigações apontam que a organização criminosa desarticulada na última terça-feira agia como “prestadora de serviços” de lavagem de capitais para outras associações criminosas. “O crime de lavagem de dinheiro é um crime complexo e demanda diversas fases, em decorrência do grande controle, da grande fiscalização que é exercida pelas instituições bancárias, financeiras, Receita Federal, receitas estaduais. Então essa complexidade da estrutura de uma organização criminosa voltada para a lavagem de dinheiro depende de diversas engrenagens. São várias engrenagens, interligadas entre si, que conseguem obter o sucesso desse crime de lavagem de dinheiro”, explicou o titular da Delegacia de Furto e Roubo de Veículos, delegado Ricardo Toledo.
Durante o processo investigativo, que durou cerca de dois anos, descobriu-se que a organização, que tinha atuação interestadual e internacional, possuía ligação com empresas e pessoas investigadas e denunciadas no âmbito de diversas fases da Lava Jato, entre elas, a operação Chorume e a Descarte.
Além disso, segundo as investigações, se relacionava com empresas investigadas por atuarem com os doleiros Alberto Youssef e Nelma Kodama, todos no âmbito da Força Tarefa da Lava Jato, além de uma empresa investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, por desvios de mais de R$ 98 milhões em ICMS.
O suposto esquema começou a ser investigado em 2018, depois de uma falsa notificação de crime. A Polícia Civil descobriu que um caminhão, que teria sido roubado, na verdade sequer existia. Além dele, outros 14 veículos, segundo as investigações, estavam ligados ao esquema e pertenciam a empresas fictícias, de pessoas que utilizavam documentos falsos.
“Todos eles são laranjas. As fotos são de pessoas que existem e que a gente está tentando ainda identificar. Uma delas a gente conseguiu identificar previamente, fomos cumprir o mandado de prisão preventiva dessa pessoa, mas aí essa pessoa tinha falecido”, disse João Paulo Pinto.
Operação Piànjú
A operação Piànjú foi deflagrada pela Polícia Civil do Espírito Santo, por meio da Divisão Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV/Deic) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPES, com apoio das Polícias Civis de São Paulo, Alagoas e Ceará e da Capitania dos Portos.
Segundo as investigações, o grupo é acusado de praticar diversos crimes, entre eles: organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e particulares, inserção de dados falsos em sistemas informatizados, falsidade ideológica, estelionato e falsa comunicação de crime.
A operação foi realizada de forma simultânea nos estados do Espírito Santo (Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica), São Paulo (Capital, Santos e Jaguariúna), Ceará (Fortaleza) e Alagoas (Maceió).
No Espírito Santo, três empresários foram presos. Um deles é Pablo Sandes, proprietário de uma marina em Vitória e, segundo a as investigações, um dos líderes da organização criminosa. Uma quarta pessoa também estava com mandado de prisão em aberto, mas ela havia falecido após ser infectada pelo coronavírus. Em todo o país, foram sete presos. Um suspeito ainda está sendo procurado fora do Brasil.
Entre os objetos apreendidos durante a operação, estão monitores, documentos, máquina de contagem de dinheiro, cerca de R$ 300 mil em canetas de luxo, além de R$ 230 mil em dinheiro e US$ 630 mil. Ainda há outros objetos apreendidos nos outros estados, mas que ainda estão vindo para o Espírito Santo, porque foram extraviados.
Também foram apreendidos três veículos de luxo (Porsche Panamera, Maserati Granturismo S e Mercedes Benz GLA200FF), 12 motos aquáticas e 11 embarcações. Um dos carros, que pertencia a um dos empresários presos no Espírito Santo, foi localizado em uma oficina, passando por uma revisão. Além dele, um outro, apreendido em São Paulo, estava com dinheiro escondido em um compartimento no aparelho de som.
“Vale destacar que todo o material ainda encontra-se lacrado e será analisado de uma forma muito responsável e com bastante cautela. Mas a gente já consegue ter uma estimativa de valores. Foram apreendidos US$ 630 mil, em espécie, e aproximadamente R$ 230 mil. O que nos chama a atenção, na apreensão desse quantitativo em dólar, é que isso estava escondido em um veículo. Tinha um compartimento, que foi descoberto até pela equipe da Polícia Militar, que nos deu apoio. Esses valores estavam escondidos dentro de um equipamento de som”, contou o promotor de Justiça Tiago Boucault Pinhal, coordenador do Gaeco-Central do MPES.
Agora o Ministério Público Estadual vai formalizar uma denúncia contra todos os envolvidos, nos próximos dias, e os valores apreendidos ficarão à disposição da Justiça. “Eles vão ser depositados em contas judiciais e vão ficar à disposição do juízo para, depois da formação da culpa, se houver, dar uma destinação específica para esse dinheiro, por determinação judicial”, frisou Pinhal.
As investigações continuam e, em breve, uma.nova fase da operação será deflagrada pela Polícia Civil. “Nós conseguimos deflagrar agora a etapa da lavagem de dinheiro. Mas as investigações terão continuidade e, nos próximos meses, nós faremos a segunda fase, que é voltada especificamente para fraude veicular”, destacou Ricardo Toledo.
Os advogados de defesa dos empresários presos durante a operação disseram à produção da TV Vitória/Record TV que já providenciaram um pedido de soltura dos investigados, para que eles possam responder ao processo em liberdade.
Com informações da repórter Rafaela Freitas, da TV Vitória/Record TV