Polícia

Pandemia pode ter contribuído para subnotificação de casos de violência contra a mulher no ES

Dados da Sesp apontam que houve uma redução de 11% dos registros de agressão contra mulheres no estado, em julho. Já o número de assassinatos aumentou entre março e julho, em relação ao mesmo período do ano passado

Foto: TV Vitória

A pandemia do novo coronavírus pode ter sido a causa pela qual muitas mulheres vítimas de violência doméstica deixaram de procurar a polícia para denunciar seus agressores. Dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) apontam que houve uma redução de 11%, em julho, do número de boletins de ocorrência referentes a crimes previstos na Lei Maria da Penha.

Entretanto, a quantidade de homicídios contra mulheres aumentou de março a julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019, passando de 33 para 39, segundo a Sesp. Com relação ao crime de feminicídio, que é o assassinato de mulheres cometido em razão do gênero da vítima, o número de ocorrências caiu de 15 para 9, no mesmo período.

Apesar da queda do número de registros de agressões contra a mulher, não é possível afirmar que houve redução na quantidade de casos, de acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública. Isso porque, muitas vezes, a agressão acontece, mas fica guardada entre quatro paredes.

“A gente nunca trabalha, quando reduz esse tipo de estatística, como se a redução fosse da violência contra a mulher, pelo contrário. A gente se preocupa, principalmente agora nesse período de pandemia, que pode estar havendo uma subnotificação”, ressaltou a gerente de proteção da mulher da Sesp, delegada Michelle Meira. 

De acordo com a delegada, a secretaria deve implantar novas ferramentas para que as mulheres acionem a polícia de forma mais rápida. “Quando estiver acontecendo a violência, ali no momento ela pode acionar o 190, para acionar a Polícia Militar, ela pode comparecer à delegacia de polícia, que está funcionando normalmente, ou então fazer também a denúncia via online. E quem tiver conhecimento de um vizinho, um amigo ou um parente que esteja sofrendo violência, ela pode fazer também o Disque-Denúncia, através do 180, ou através também do site do Disque-Denúncia”, orientou Michelle Meira.

Entretanto, para o Ministério Público do Estado (MPES), o grande desafio não é atender às vítimas, e sim evitar que novos casos aconteçam. “A cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica. O próprio Ministério Público tem o telefone da ouvidoria, o 127. Temos também um aplicativo, o app MPES Cidadão, que pode facilitar, ajudar essa mulher a buscar ajuda”, destacou a coordenadora do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero em Defesa dos Direitos das Mulheres (Nevid), do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Cristiane Esteves Soares.

Casos de violência

Somente nas últimas 24 horas, a Rede Vitória noticiou quatro casos de violência doméstica na região metropolitana. No bairro Operário, em Cariacica, uma mulher de 56 anos foi ameaçada de morte pelo ex-companheiro, que ainda tentou atear fogo na casa da vítima, mas não conseguiu. Ele foi detido pela polícia e levado para a delegacia.

Em Vila Velha, uma mulher de 59 anos foi espancada dentro da residência, também pelo ex. Apesar de ter medida protetiva contra ele, a vítima teve a casa invadida e os dentes quebrados pelo agressor.

No mesmo município, um homem foi detido após ameaçar a ex-companheira. A vítima afirma que possui diversos áudios de ameaças que vinha sofrendo do agressor, que tinha um mandado de prisão em aberto.

Já na Serra, uma jovem de 22 anos foi baleada na perna. À polícia, a vítima chegou a dizer que ela mesma havia se machucado. No entanto, após ser levada para a delegacia, contou que, por ciúmes, o ex-companheiro havia disparado contra ela. A jovem alega que mentiu por medo de morrer em um próximo ataque do agressor.

Mudam os enredos, mas os motivos que levam às agressões são semelhantes. Na maioria dos casos, os suspeitos são homens que não aceitam o fim do relacionamento ou cometem os crimes por ciúmes.

De acordo com o Ministério Público, a pandemia tornou ainda mais difícil a vida das vítimas. “Agressor e vítima já estão mais próximos, estão ali constantemente juntos. Potencializam também porque, em muitos casos, o agressor ou a própria vítima perderam seus empregos. E a questão de relacionamentos, os filhos em casa”, frisou a coordenadora do Nevid.

Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV