Corrupção na saúde

PF apura propina de quase R$ 4 milhões em desvio de remédios de hospitais no ES

São pelo menos 15 empresários do ramo de medicamentos e insumos hospitalares envolvidos no esquema, segundo a Polícia Federal

Foto: Polícia Federal
Foto: Polícia Federal

Um servidor do Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória, está entre os investigados no esquema de corrupção e desvio de recursos públicos na área da saúde apurado pela Polícia Federal por meio da Operação Anomia.

São, ao menos, 15 empresários no ramo de medicamentos e insumos hospitalares envolvidos no esquema, segundo a PF. Estima-se que, em cinco anos, essas empresas pagaram quase R$ 4 milhões em propina para serem beneficiados em licitações. Os nomes dos investigados não foram divulgados.

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Segundo a Polícia Federal, as investigações foram iniciadas no ano de 2024, depois que o órgão interceptou, na Operação Manuscrito, ligações telefônicas suspeitas entre servidores de saúde do Estado e empresários.

Detectamos que havia uma ligação ilegal entre um grupo de empresários e servidores técnicos da Saúde, fraudando licitações, adotando condutas de corrupção ativa, passiva, fazendo desvio de medicamentos. Os fatos foram investigados e foi detectada a ocorrência dos crimes, narrou o delegado federal Arcelino Vieira Damasceno.

As investigações ainda apontaram que os empresários teriam usado o estoque dos hospitais públicos, como o do Hospital Infantil, para estoque próprio. Além de vender os produtos para os hospitais públicos, eles vendiam os mesmos produtos para outros hospitais.

Na prática, não tendo os medicamentos em estoque, eles buscavam os produtos no hospital público e levavam para o destino da nova transação. Os empresários recebiam, então, duas vezes pelo produto. 

“Atuavam permitindo e fazendo direcionamento de licitações para contratações de produtos que muitas vezes não eram entregues, mas eram pagos. Verificamos a ocorrência também de casos de desvio de medicamentos das farmácias de hospitais”, descreve Arcelino Vieira Damasceno.

Ainda conforme o delegado, o grupo de empresários vendia os medicamentos para o hospital, entrava no estoque do hospital e em outro momento revendia o mesmo produto para outros hospitais. Com isso, fazia a retirada de dentro do hospital e vendia para outro cliente.

Segundo a Federal, as empresas investigadas estão localizadas em Vitória, Vila Velha e Cariacica. Até o fim da manhã, dois carros de luxo haviam sido apreendidos, além de agendas, documentos, celulares e computadores. Os alvos da operação foram as empresas e casas dos suspeitos.

Empresas teriam pago R$ 3,8 milhões em propina

Investigações apontam que, em cinco anos, essas empresas pagaram quase R$ 4 milhões em propina para serem beneficiados em licitações.

“Estimamos cerca de R$ 3,8 milhões, que foi o valor pago em propina. Isso porque encontramos na fase anterior alguns manuscritos em que estava considerado que a propina era paga na razão de 10% de todos os empenhos pagos. Os empenhos foram na ordem de R$ 33 milhões, por isso acreditamos que a faixa é o da propina”, narra o delegado.

Servidor envolvido em esquema de corrupção foi exonerado em 2024

Por nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que o servidor investigado foi exonerado desde a deflagração da Operação Manuscrito, em 2024.

A secretaria disse, ainda, que foi realizada uma auditoria interna na unidade hospitalar para tornar mais eficientes e transparentes os processos da Central de Compras e estoque da farmácia do hospital.

Além disso, as empresas envolvidas no caso estão respondendo processos administrativos junto à Secretaria de Estado de Controle e Transparência, de acordo com a pasta.

“A Sesa reafirma seu compromisso com a transparência e a legalidade que regem a gestão pública, colocando-se à disposição das autoridades competentes para colaborar integralmente com a investigação em curso, fornecendo todas as informações e documentos necessários”, finaliza a nota.

*Com informações de Alessandra Ximenes, repórter da TV Vitória/Record.