Polícia

Polícia registra mais de 30 bailes funk clandestinos em um único fim de semana na Grande Vitória

De acordo com a polícia, esse tipo de evento é organizado por traficantes, ou a mando deles, e se tornaram um esquema lucrativo para os criminosos

Foto: Reprodução/PMVV

Quando a noite cai, o sossego de muita gente que mora em comunidades e morros da Grande Vitória acaba. A ostentação, antes de joias, deu lugar as armas. Registros em vídeos e fotos tem aparecido com frequência, principalmente, nas redes sociais dos bailes funk clandestinos. Os eventos são combinados e organizados pela internet, sem autorização.

No dia 29 de outubro de 2018, mais de 30 policiais militares da Segunda Companhia e da Força Tática participaram de uma operação no Morro do Alagoano, em Vitória. Os militares foram até o local após denúncia de que estaria acontecendo um baile funk, conhecido como Mandela.

Segundo a polícia, na festa havia mais de 3 mil pessoas, todas foram orientadas a sair do evento para serem revistadas. Ainda de acordo com a PM, muitos mostraram resistência, arremessando garrafas e bebidas contra as equipes. Após a saída dos participantes, buscas foram feitas no local, e a polícia encontrou 135 buchas de maconha, 71 frascos de loló, 6 comprimidos de ecstasy, 2 pinos de cocaína, 26 munições, 1 carregador de pistola e 2 simulacros de pistola.

Redes sociais ajudam

Foto: Reprodução
Bailes são organizados pela internet

Mesmo com a ação da polícia, os bailes continuam. Tudo é organizado pelas redes sociais e são feitos anúncios. Alguns dizem que vão ao baile pela primeira vez, e que não demora para os eventos lotarem.

No bairro Santos Dumont, em Vitória, a polícia foi recebida a tiros durante um baile do Mandela. Na operação, foram apreendidas armas falsas, pistola, munição e radiocomunicadores. Boa parte desse material estava na quadra onde o evento acontecia. Horas depois de fecharem o baile, a polícia recebeu a informação de que um homem, que estava na festa, deu entrada em um hospital de Vitória, baleado na região das nádegas.

Desafio para todos

Foto: Reprodução TV Vitória
Major Cristêlo, coordenador das equipes que combatem os bailes clandestinos

O major Cristêlo faz parte do comando de policiamento ostensivo metropolitano, e coordena as equipes que combatem os bailes clandestinos. Ele conta que os eventos têm desafiado não só a PM. “As prefeituras municipais, a Polícia Militar, a Polícia Civil, e até o Judiciário têm auxiliado no controle desse tipo de baile clandestino porque é um problema que tem gerado transtorno às comunidades”, afirmou.

E os números surpreendem. São muitos bailes em um único fim de semana. “Nós temos registrado entre 30 a 50 bailes por final de semana na região metropolitana. A PM já fez cerca de 1280 mil intervenções só neste ano”, relatou o major.

Lucro de traficantes

Vila Velha é outro município da Grande Vitória que sofre com a realização desses eventos sem autorização. Em novembro do ano passado, uma caminhonete que levava freezer e diversos fardos de garrafas de água e bebida alcoólica para um baile funk, foi parada por policiais militares em uma ação conjunta com a Guarda Municipal.

Cinco bairros diferentes foram alvos da ação: Primeiro de Maio, Cobi de Baixo, Estrada de Capuaba, Divino Espírito Santo e Santa Rita. 56 policiais militares e 22 agentes da guarda participaram da operação. No bairro Divino Espírito Santo, onde um adolescente de 16 anos foi baleado pelo próprio primo no final de um baile funk, uma pistola de 9 milímetros foi apreendida. Segundo a polícia, a arma é de uso restrito das Forças Armadas.

De acordo com a corporação, esse tipo de evento é organizado por traficantes ou a mando deles, e se tornaram um esquema lucrativo para os criminosos. Na tentativa de inibir esses eventos, a polícia tem se organizado para proteger os moradores desse bairro, mas o trabalho é árduo, pois os bandidos tentam, de todo modo, despistar os policiais. “Às vezes utilizam de contra informação, jogam a informação de um baile que não vai existir para atrair a atenção da polícia”, contou Cristêlo.

Mortes em Vila Velha

Um baile ocorrido no bairro Primeiro de Maio, em Vila Velha, terminou em tragédia. Um vídeo publicado em uma rede social mostra Jamerson Silva, de 25 anos e Ramon Freitas, de 26 anos, dançando com um amigo no baile, conhecido como Baile do QG. 

Foto: Patrícia Battestin

Suspeitos atiraram contra os frequentadores e uma metralhadora teria sido usada no ataque. Jamerson e Ramon morreram na hora, e outras 13 pessoas foram baleadas e socorridas para hospitais da Grande Vitória. Os dois mortos, segundo a polícia, eram moradores de Andorinhas, em Vitória, e teriam sido reconhecidos no baile. Criminosos do bairro da Penha receberam a informação e foram até Vila Velha. 

O major destaca que, na época, foram várias as tentativas de impedir a realização do evento. “A polícia fez três intervenções, na saída da terceira, o grupo se reorganiza, chega uma pessoa atirando e várias pessoas são alvejadas. Os que estavam lá, colocaram a própria vida em risco pois a polícia informou diretamente que eles não poderiam estar ali”, ressaltou.

Denúncias anônimas fizeram a polícia chegar até um baile clandestino no bairro Soteco, em Vila Velha. Os agentes encontraram mais de 200 pessoas. Durante a fiscalização, foram apreendidos um fuzil e uma escopeta. “Às vezes entramos em confronto com as pessoas que agridem a polícia, e reagimos com equipamentos não letais. Nos retiramos do local, e quando retornamos, o baile está se iniciando novamente”, revela o major.

Com informações do repórter e apresentador Douglas Camargo, da TV Vitória/Record TV!