Após a divulgação pela Polícia Civil sobre indiciamento de Henrique Lira Trad, responsável por invasão à escola em Jardim da Penha, em Vitória, e também do indiciamento do pai dele por alguma participação no crime, Alessandro de Almeida Trad, policial militar, teve qualquer envolvimento no caso descartado pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES).
Desta forma, mesmo que em investigação policial tenha sido ventilado o nome do pai do suspeito, a denúncia enviada à Justiça, para iniciar ação penal, não terá o agente público como réu. O MP arquivou o inquérito com relação a Alessandro por ausência de justa causa.
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A denúncia foi oferecida à Justiça no último dia 23, pelo MPES. A reportagem do Folha Vitória teve acesso ao documento e destaca que o pai do jovem não foi denunciado à Justiça.
Relembre o caso
Depois da denúncia oferecida à Justiça pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) ter revelado que Henrique Lira Trad, responsável por invasão à Escola Municipal de Ensino Fundamental Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, em Vitória, no dia 19 de agosto, planejava o ataque desde 2019, também ficou claro o exato modo como o suspeito agiu, intimidando colaboradores e até crianças.
Tudo começou pela fase de ideação, em que o garoto, à época menor de idade, conversava por chats com colegas com intenções semelhantes, ou seja, de atacar e matar pessoas na escola onde estudaram.
Entenda o passo a passo:
1. Henrique usava chats com demais jovens na “dark web”, setor ainda mais obscuro da “deep web”, que corresponde à parte não indexada da rede mundial de computadores, ou seja, inacessível de maneira geral por meio de navegadores à população em geral;
2. Com o tempo, ele passou a se dedicar à preparação do que seria um massacre à escola Eber Louzada Zippinotti, tendo encontrado na internet o ambiente propício para o amadurecimento da idealização criminosa, aprofundando temas como armas, racismo, nazismo, atentados, morte, bem como à chacina ocorrida na Escola Estadual de Suzano/SP;
3. Já em agosto, logo antes do ataque em Jardim da Penha, o suspeito passou horas jogando um game chamado “Morimyia Middle School Shooting”, que é uma espécie de suspense policial em que o jogador controla uma garota que porta armas e atira em uma escola;
4. Henrique se vestiu completamente de preto;
5. O jovem então coletou as armas que seriam usadas: três bestas, uma faca grande, seis facas ninja, 57 dardos e flechas, três garrafas de coquetel molotov e uma outra com líquido inflamável, isqueiro, fósforo, luvas, máscara personalizada, além do cadeado utilizado para “trancar” a escola e evitar o socorro às potenciais vítimas.
6. Depois de tudo, solicitou um carro de aplicativo, e se dirigiu ao Eber Louzada;
7. Na instituição de ensino, o jovem tentou enganar o porteiro, dizendo que iria a uma reunião. Como foi barrado, acabou pulando o muro da escola;
8. Dentro da instituição de ensino, tentou se dirigir à coordenadora, a quem já planejava matar. Apesar de ter tentado disparar contra ela, a arma falhou. Ela e outro colaborador presente na sala dos professores conseguiram fechar a porta, a qual ele não mais conseguiu abrir, mesmo chutando;
9. Ainda no primeiro andar, o denunciado atirou contra um prestador de serviços do colégio que estava no local, mas errou a mira e o disparo atingiu o muro. Foi então que Henrique foi até o segundo andar, tentar atirar contra crianças;
10. No local, encontrou um menino de dez anos e o ameaçou com uma besta. Apesar disso, a criança conseguiu chutar o objeto, momento em que Henrique o arranhou;
11. Trad se dirigiu até uma sala de aula, mirou e atirou com a besta contra uma professora, atingindo a colaboradora na perna. Em seguida, mirou e atirou contra uma aluna de dez anos de idade, mas novamente o armamento “falhou”;
12. Após novas tentativas, um professor conseguiu finalmente imobilizar o suspeito até a chegada da Polícia Militar. Foi aí que confessou a intenção de matar o máximo de pessoas possível e depois ser morto pelos agentes;
Com o caso esclarecido, com base em dados do computador utilizado pelo jovem, na denúncia, o MPES afirmou que o crime foi praticado por motivo torpe, após suposto bullying sofrido pelo denunciado na escola enquanto era aluno.
O bullying, pelo que se sabe até o momento, desencadeou desejo de vingança no jovem, nutrido pela admiração a ataques terroristas, massacres, “razão moral e socialmente desprezível para tentar contra a vida das vítimas que em nada tinham relação com os fatos apontados pelo réu para justificativa de seus atos covardes”, informou a denúncia.
Ao final da denúncia, o MP também solicitou a manutenção da prisão preventiva do suspeito, bem como que seja encaminhada cópia do documento à Justiça Federal, competente para processamento e julgamento dos crimes previstos na Lei Antiterrorismo.
No momento, Henrique Lira Trad segue preso no Centro de Detenção Provisória de Guarapari, desde o último dia 21 de setembro. A prisão em flagrante do suspeito foi convertida em preventiva no dia 22 de agosto.