A Polícia Militar afirma que o jovem Welinton da Silva Dias, de 24 anos, morto por um policial militar na noite do último sábado (02), na região da Grande São Pedro, em Vitória, estava armado com uma submetralhadora de fabricação caseira. Ainda de acordo com a PM, o rapaz tinha passagens pela Justiça, inclusive por porte ilegal de armas.
Em entrevista coletiva no final da tarde desta segunda-feira (04), o comandante do 1º Batalhão da PM, tenente-coronel Leandro Menezes, disse que ainda é muito cedo para fazer qualquer afirmação sobre a atuação dos policiais envolvidos na ocorrência. Ele destaca que tudo será esclarecido ao longo do inquérito policial militar que foi instaurado para apurar o caso.
O comandante ressaltou que, à princípio, a Polícia Militar considera como verdadeira a versão apresentada pelos policiais militares, de que uma arma de fogo foi apreendida de posse da vítima. Ele explicou que o policial tem pouco tempo para avaliar se uma situação representa ou não risco para sua integridade física.
“A gente tem que analisar que tudo acontece em frações de segundos. Nós estamos aqui narrando e avaliando um fato à distância. Nós não estamos no local, que é um local de tráfico de drogas, não estamos lidando com uma pessoa com uma arma na nossa direção, não estamos lidando com alguém que já tem ligação com o crime. Então aqui não nos cabe agora fazer essa análise. O policial tem frações de segundo para decidir. E todas as consequências ele acaba tendo que responder e está respondendo. Tudo isso, dentro da legalidade, dentro do inquérito policial militar”.
O comandante do 1º Batalhão da PM destacou ainda que os policiais militares são instruídos, em sua formação, a sempre agir no sentido de preservar vidas. Porém, presisa agir de maneira adequada quando considera que sua própria vida está em risco.
“A formação do policial militar é toda voltada para a preservação da vida, dentro da legalidade. A atuação policial em locais conflagrados, onde o crime tem sido presente e ativo, já vem cheia de tensões que somente o policial tem condição de definir o que, para ele, é ameaça. Nós não temos que fazer ainda nenhum tipo de juízo de valor a respeito da atuação policial. A fala do policial na ocorrência, na apreensão das armas e na entrega na delegacia, para nós, de início, é a verdade, mas que vai ser apurada dentro do inquérito policial”.
O tenente-coronel da Polícia Militar não soube informar desde quando os policiais envolvidos na ocorrência que resultou na morte de Welinton estão na corporação. No entanto, garantiu que são policiais experientes e acostumados a lidar com a criminalidade.
“São militares que já passaram por força tática, passaram por patrulha de morro, em áreas conflagradas. Militares que têm experiência de estar em contato com a criminalidade e tendo o controle para poder atuar. Militares que todos os dias vão às ruas e enfrentam ocorrências, onde eles são vítimas e alvo da criminalidade, ocorrências com troca de tiros, onde o policial tem muito controle emocional para não perder a condução dessa ocorrência. Militares que nós confiamos a eles recursos e armamentos e o poder do Estado. E que, se por ventura, houver algum tipo de excesso ou falha, serão responsabilizados”.
O comandante do 1º Batalhão afirmou ainda que o vídeo que mostra o momento em que Welinton é baleado pelo policial possui um corte, que não permite exibir a ação policial completa.
“O vídeo chegou até nós via rede social, como chegou para praticamente todas as pessoas. Um dos vídeos, talvez o mais falado, tem um corte. No início, mostra o beco vazio. Depois tem uma janela de 20 a 30 segundos e aí aparece alguém de costas sendo abordado. Nós não temos como analisar um vídeo editado sem entender o que aconteceu. Talvez esses 20 segundos mostrassem o Welinton, com a arma, de frente para a câmera”, destacou.
Vídeo mostra momento em que PM atira em jovem
Imagens de uma câmera de segurança registraram o momento em que Weliton foi baleado por um policial militar durante a ação do último sábado. O caso aconteceu em uma região conhecida como Beco da Sorte.
No vídeo, é possível ver o rapaz sozinho no local e, de repente, um policial se aproxima. Weliton mostra a cintura e coloca as duas mãos na cabeça. Neste momento, o policial atira no rapaz. (Por ser uma imagem forte, o vídeo foi pausado neste instante).
Pouco tempo depois, outro militar se aproximou com um grupo de moradores. Testemunhas começaram a gritar por socorro e outro disparo foi ouvido.
Segundo moradores da região, Welinton levou dois tiros no peito. Eles afirmam ainda que os policiais não teriam permitido que a vítima fosse socorrida. Somente após a saída dos policiais é que os próprios moradores teriam levado o rapaz para a Policlínica de São Pedro.
Revoltados com a ação policial, os moradores da região iniciaram um confronto com a polícia. Garrafas e outros objetos foram usados como arma. Os militares revidaram e efetuaram novos disparos de balas de borracha. Durante o conflito, um ônibus foi incendiado.
Um morador chegou a ser baleado na perna durante a confusão. Ele recebeu atendimento médico e já teve alta.
Wellington trabalhava como carpinteiro, era casado e deixou um filho de 6 anos. Ele tinha passagem pela polícia e chegou a ser preso por tráfico de drogas em 2018, mas estava solto e, segundo a família, trabalhando há mais de dois anos.
Boletim consta apreensão de arma com vítima
Segundo o secretário de Segurança Pública do Espírito Santo (Sesp), coronel Márcio Celante Weolffel, no boletim de ocorrência sobre a ação consta que o rapaz estaria em posse de uma arma.
Nas imagens, no entanto, não é possível ver nenhuma arma com a vítima. O coronel afirma que qualquer resposta só pode ser passada após a apuração. A Sesp determinou a instauração de um inquérito para apurar o caso.
Uma submetralhadora semi industrial, calibre 380, carregada com 12 munições foi encaminhada pelos policiais à delegacia. Segundo os PMs, a arma estava com Welinton, que a carregava pendurada em uma bandoleira.
PMs envolvidos na morte de jovem foram afastados
Os policiais militares que participaram da ação que terminou com a morte do jovem foram afastados preventivamente e de forma cautelar das atividades operacionais. A determinação é do secretário de Segurança Pública do Espírito Santo.
Os polícias também tiveram que entregar as armas utilizadas na ação para que sejam analisadas em um inquérito policial.
“Nós determinamos ao comandante-geral da Polícia Militar, a instalação do inquérito policial militar para averiguação e investigação de todas as circunstâncias do fato ocorrido na data de ontem (sábado), o recolhimento das armas dos polícias militares para que façam parte das apurações e o afastamento preventivo cautelar dos policiais militares das atividades operacionais”, disse o coronel Celante.
Segundo o secretário, a apuração do caso deve durar 60 dias. Durante este período, os polícias vão trabalhar nos setores administrativos.
Caso o inquérito policial militar conclua que houve excesso por parte dos policiais militares, eles podem até mesmo serem excluídos da corporação.
Associação dos Cabos e Soldados da PM diz que vai prestar apoio aos militares afastados
Na manhã desta segunda-feira, a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ACSPMBMES) disse, por meio de nota, que dará o suporte necessário aos policiais afastados.
“Sobre o caso é importante ressaltar alguns pontos: a região é conhecida por ser um local de intenso tráfico de entorpecentes e crimes contra a vida; o indivíduo foi encontrado com uma metralhadora na bandoleira (equipamento para quem utiliza armas longas); diante da situação, o policial teve milésimos de segundos para a tomada de decisão e precisou considerar todas essas questões, além de estar sob a pressão da atividade”, afirma a nota.
O presidente da associação, cabo Eugênio, declarou que, de acordo com o boletim de ocorrência, Weliton estava com uma metralhadora na bandoleira. Os disparos efetuados contra ele, segundo o cabo, foram realizados como parte da técnica de fatiamento, usada quando o militar se vê em perigo iminente.
“Na ocorrência em questão, o indivíduo fez um movimento que levou o policial a crer que o indivíduo atiraria contra o ele. Em respeito às normas vigentes, e para assegurar a sua vida, o policial militar efetuou dois disparos contra o indivíduo, conforme doutrina praticada na PMES, assim o indivíduo caiu no chão e foi possível aproximar-se dele para recolher o armamento. Por isso, considerando as circunstâncias desse caso, a ACSPMBMES dará todo o apoio necessário aos policiais militares afastados”, declarou.
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*Com informações da TV Vitória/Record TV