Quatro soldados da Polícia Militar foram presos, na quinta-feira (28), suspeitos de participar da morte de Renan Xavier da Silva, de 24 anos, conhecido como “Zói”. O rapaz foi morto na quarta-feira (27), com um tiro no peito, próximo a um bar em Morro Novo, Cariacica.
Os quatro policiais, que não tiveram os nomes divulgados, são lotados no 7º Batalhão da Polícia Militar, em Cariacica. Eles foram presos em flagrante por homicídio logo após prestarem depoimento na Corregedoria da PM.
“Durante as oitivas, nós identificamos, além de erros operacionais, ou seja, erros que não condizem com o que preconiza a atividade operacional da Polícia Militar, elementos que convergiram para uma formação de opinião com relação à necessidade de autuação de flagrante delito desses policiais”, destacou o corregedor da PM, coronel Arilson Martinelli, sem entrar em detalhe quais foram os erros cometidos pelos militares.
Dos quatro policiais detidos, dois estavam de folga e dois em serviço. Os dois PMs em serviço faziam parte de uma equipe de três homens, que foi acionada por telefone. Segundo as investigações da Corregedoria da PM, um dos integrantes da equipe não participou da ação.
“O quinto policial, que estava de serviço, era motorista da viatura e permaneceu na viatura o tempo todo, segundo as investigações até o momento, e não participou do evento”, afirmou.
Ainda segundo o corregedor, três dos policiais presos efetuaram disparos e o outro foi autuado por omissão. “Ele participou de todo o evento, não efetuou disparos, até onde nós apuramos, mas não tomou outras providências legais, no sentido de evitar a ocorrência”, ressaltou.
Flagrante
O auto de prisão em flagrante em desfavor dos quatro soldados foi encaminhado pela Corregedoria, nesta sexta-feira (29), para a Justiça Militar. A tendência, segundo o coronel Martinelli, é que seja aberto um Inquérito Policial Militar (IPM), cujo prazo para conclusão é de 20 dias.
“Eles estão recolhidos ao presídio do QCG (Quartel do Comando Geral) e o auto de prisão em flagrante foi encaminhado ao Judiciário, à Auditoria de Justiça Militar Estadual, que vai se posicionar com relação a esse procedimento. Provavelmente vai abrir vistas ao Ministério Público e, no decorrer do processo, naturalmente haverá a instauração de um Inquérito Policial Militar, que é uma ferramenta mais robusta, com um prazo um pouco mais elástico, e competente para solicitar e concluir através de provas técnicas periciais”, afirmou Martinelli.
De acordo com o corregedor da PM, ainda não é possível afirmar que os quatro policiais presos também foram os responsáveis pela morte do aposentado Nelson Antônio Ghisolfi, de 66 anos, atingido por uma bala perdida no momento em que participava de uma celebração religiosa dentro de sua própria casa.
“Nesse momento, do que se apurou, a autuação em flagrante [dos quatro policiais] foi feita em razão do homicídio do senhor Renan. Com relação ao outro homicídio, nós não temos, nesse momento, condições técnicas de afirmar qualquer coisa, em razão de ainda não termos as diligências e as análises periciais concluídas”, frisou o coronel.
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Sobre as armas que, segundo os policiais que participaram da ocorrência de quarta-feira, teriam sido encontradas com Renan e um suposto comparsa, Martinelli disse que elas ainda serão periciadas. Segundo o corregedor, ainda não é possível afirmar que elas estavam com os dois rapazes.
“Essas armas fazem parte do bojo do processo, assim como as armas dos próprios policiais militares, que também foram recolhidas e certamente passarão por análise pericial”, disse.
A Polícia Militar também não informou se os policiais de folga estavam bêbados no momento do crime, se houve troca de tiros e nem se a Força Tática, acionada pelo Ciodes para dar reforço, chegou antes ou depois da morte de Renan.
O crime
Segundo familiares, Renan estava no bar onde a confusão começou, na Rodovia José Sette, em Morro Novo, na noite de quarta-feira. Policiais de folga também bebiam no local. A acompanhante de um dos policiais teria provocado o desentendimento que terminou em tiros.
“Uma moça chegou apontando para ele e falando que ele estava vigiando ela. Aí os policiais sacaram as armas e foram correndo em direção a ele e efetuaram vários disparos”, contou uma familiar de Renan, que não quis se identificar.
Segundo a Polícia Militar, a Força Tática foi acionada por um PM de folga, que afirmou ter sido reconhecido por traficantes. Houve uma suposta troca de tiros e perseguição.
Renan era pai de uma menina de 5 anos e morava, com a mãe e a filha, em Morro Novo. De acordo com a Polícia Militar, ele tinha passagens pela polícia por posse e uso de entorpecentes e por perturbação da ordem.