Uma média de seis idosos são agredidos diariamente na Grande Vitória, segundo dados da Polícia Civil do Espírito Santo. As estatísticas são referentes ao ano passado. Na maior parte das ocorrências, segundo a polícia, o agressor faz parte do ciclo familiar da vítima.
Uma mulher, que prefere não ser identificada, contou que o pai, de 74 anos, trava uma batalha violenta dentro de casa com o genro, marido da irmã dela. Segundo a filha da vítima, as confusões começaram em 2018, com agressões verbais e ameaças. O suspeito quer uma parte do terreno do sogro, onde fica a casa da mulher. No final de abril, os conflitos evoluíram para agressões físicas.
“Ele veio querendo mandar em todo mundo. São ameaças e confusões. Ele já entrou na Justiça querendo o terreno do meu pai. O terreno é dele, porém minha irmã tem uma casa nos fundos. Na última briga, ele agrediu meu pai com um banco de madeira. E agrediu para matar”, relatou.
Segundo a família, a vítima já tinha uma medida protetiva contra o agressor e colecionava boletins de ocorrência antes da agressão física. O suspeito não foi preso ainda. Além do medo de perder o pai, a mulher diz que não consegue entender como a irmã pode ser conivente com o que tem ocorrido. “Eu fico morrendo de medo. Estou vendo a hora que isso vai acontecer”.
Essa triste realidade, infelizmente, não é um caso isolado. De acordo com um levantamento da Delegacia Especializada de Proteção ao Idoso, em 2020, foram registrados 1.991 casos de violência contra pessoas com mais de 60 anos. O número representa uma média de seis crimes por dia.
O número de ocorrências representa uma queda de 16%, quando comparado com o ano de 2019, quando foram contabilizados 2.393 crimes dessa natureza. Segundo a delegada Milena de Oliveira Gireli, mesmo com a queda, a violência continua preocupando e o cenário, com um alto volume de casos, acende um alerta para a Polícia Civil.
“De um lado, esse número é bom, pois significa que o idoso está procurando ajuda, está tendo informação que ele tem um lugar para procurar. Por outro lado, a gente fica preocupado. O número de ocorrências aumentando pode significar também que o número de agressões está crescendo. Às vezes a pessoa já está debilitada. Não pode fazer as coisas, depende da família para sobreviver. Esse é um prato cheio para a violência. Em muitas vezes, esses idosos são a fonte de renda da família”, disse.
Em 2021, de janeiro a abril, foram registradas 470 ocorrências envolvendo idosos. As denúncias chegam de várias maneiras e são analisadas. “No momento que a gente recebe a denúncia, uma equipe policial verifica a procedência ou não da denúncia. Havendo uma procedência, damos prosseguimento ao inquérito para investigar”.
O que chama a atenção é que os agressores estão por perto. A médica geriátrica Waleska Binda Wruck ressalta que, muitas vezes, o agressor é uma pessoa a quem o idoso um dia dedicou o seu tempo e amor.
“Cerca de 78% dessas violências ocorrem dentro do próprio domicílio. Em 60% dos casos, o crime é cometido por uma pessoa da família: uma filha, um filho, o cônjuge ou até uma pessoa que foi contratada para cuidar do idoso”.
Para a médica, a pandemia tornou a situação mais complicada. “Com o isolamento, os idosos em casa estão ficando deprimidos. As pessoas que estão em casa também ficam mais estressadas e, por isso, podem piorar as agressões”, afirmou.
Com intuito de frear o avanço desse tipo de crime, os especialistas pedem para que a população tenha atenção à garantia de todos os direitos do idoso e denuncie a violência. “Muitas vezes ele não tem força, não quer falar mal de quem está cuidando dele. Se você souber de algum caso de idoso que está sendo violentado fisicamente, economicamente, denuncie”.
As denúncias podem ser realizadas pelo Disque 100 ou pelo Disque-denúncia 181.
*Com informações da repórter Jessica Cardoso, da TV Vitória/RecordTV