O representante comercial Alecsandro José da Silva, de 36 anos, assassinado durante um assalto, na noite de segunda-feira (27), no Bairro de Fátima, na Serra, já esteve frente a frente com a morte em outras ocasiões, mas conseguiu se salvar. A informação é de parentes da vítima, que se reuniram na tarde desta terça-feira (28), em um cemitério particular da Serra, para prestar a última homenagem ao vendedor.
Vídeo mostra desespero da família
No momento da despedida, a família preferiu lembrar do Alecsandro alegre e trabalhador. Para os parentes, a morte trágica do vendedor foi o desfecho de uma vida repleta de momentos difíceis.
“Há alguns anos ele teve o livramento em um acidente, em que ele capotou o carro e deu perda total. Ele ficou acamado e usando cadeira de rodas. No ano passado também ele sofreu uma tentativa de sequestro-relâmpago. Então Deus já deu a ele vários livramentos. Mas infelizmente nesse caso aconteceu essa tragédia”, lamentou Zanandreia Rodrigues Alves, prima da vítima.
Cerca de 60 pessoas se reuniram no cemitério para o último adeus ao representante comercial. Pouco antes, o corpo de Alecsandro havia sido velado na Igreja Católica de Maria Ortiz, em Vitória.
A esposa e a irmã da vítima acompanharam, em silêncio, o cortejo entre a capela do cemitério e o local do enterro. Elas preferiram não falar com a imprensa.
No entanto, mais cedo, quando liberava o corpo do homem com quem viveu por seis anos, a esposa de Alecsandro, que estava com ele e as duas filhas do casal durante o crime, desabafou. “Muita tristeza. Muito trabalhador ele era. Não merecia isso”.
O vendedor era pai de três filhos: um menino, de um relacionamento anterior, e duas meninas, do casamento com a atual esposa. O passeio de segunda-feira era para comemorar o aniversário da mais nova, que acabou de completar 3 anos, mas acabou em tragédia. Segundo familiares, as crianças ainda estão em choque.
“Se voltasse o dia de ontem, principalmente porque as filhas estavam junto com ele, eu não faria diferente do que ele fez. Aí falam que ele reagiu e é louco. Louco como? Você já passou isso?”, questionou Patrícia Alves, também prima de Alecsandro.
O momento de despedida se resumiu em revolta para os familiares da vítima. “É um misto de revolta com a sociedade, com as leis do país. Acho que é um misto de tudo, de revolta mesmo. Agora o que vai acontecer? Essa pessoa vai ficar [em liberdade]? Se já não foi liberada, nem sei se já foi. Ele já tem um histórico grande de passagens. E aí, essa pessoa vai sair e vai fazer isso com outra família e outra família vai estar aqui, como nós estamos?”, indagou Patrícia.
Nas redes sociais, amigos manifestaram carinho pelo vendedor e escreveram palavras de apoio para a esposa dele. Alex, como era tratado pelos mais íntimos, cresceu no bairro Maria Ortiz, em Vitória.
Menor detido
Acusado de ter participado do assassinato de Alecsandro, um menor foi apreendido dentro de casa. Quando os policiais chegaram ao local, o adolescente havia trocado de roupa e estava dormindo.
De acordo com os policiais, o acusado esqueceu um celular dentro do veículo que ele tentou roubar. E foi justamente o aparelho que ajudou a polícia a encontrá-lo. O delegado Rodrigo Sandi Mori, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), disse que ele confessou o assassinato. “O adolescente foi apreendido e confessou o crime. O carro já havia sido encomendado no valor de R$ 5 mil”, informou.
Ainda segundo o delegado, o rapaz apreendido tem 16 anos e é de boa família. Além disso, o avô do jovem tem uma empresa e mora em um bom condomínio na Serra e a família já não sabe o que fazer com o menino.
“O fato que chama atenção é que ele tem de tudo. A mãe dele estava desesperada e disse que já conversou, mas ele abandonou tudo. O avô dá tudo o que ele quer, mas infelizmente ele foi para esse lado e tem várias passagens por porte ilegal, tráfico e roubo”.
De forma fria o adolescente afirmou não estar arrependido pelo crime que cometeu. “Eu não me arrependo. Ele pediu para tirar as crianças e eu deixei, mas depois veio me dando soco na cara. Eu só queria o carro e não sabia que tinha matado”, disse o menor.
O crime
Segundo a polícia, a vítima reagiu a uma tentativa de assalto após estacionar o carro na frente de uma churrascaria. Ele e a mulher foram ao local para comemorar o aniversário de 3 anos de uma das filhas do casal. Ela e a outra menina, de 5 anos, estavam dentro do veículo no momento da abordagem. O homem conseguiu tirar as filhas do carro, mas depois entrou em luta corporal com o adolescente e acabou baleado.
O representante comercial chegou a ser socorrido por uma viatura da Polícia Militar e levado para uma Unidade de Pronto Atendimento, mas não resistiu aos ferimentos e morreu ainda durante a noite de segunda-feira. A Polícia Civil também teve acesso às imagens das câmeras de videomonitoramento do estabelecimento.
Nas imagens, é possível ver o desespero da família quando o bandido chega. A mulher foi a primeira a sair do carro. Desesperado por conta das crianças, o homem conseguiu sair e tirar as filhas do carro. Funcionários da churrascaria ajudaram a levar as crianças para dentro do estabelecimento e, minutos depois, a vítima é baleada.
Um outro suspeito teria participado do crime e conseguiu fugir. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), ele continua foragido. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Segurança Patrimonial.
Quem tiver qualquer informação que possa ajudar a polícia a prender o criminoso, deve entrar em contato com o Disque-Denúncia, no telefone 181. Não é preciso se identificar.
De acordo com o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), o adolescente está sendo atendido no Centro Integrado de Atendimento Socioeducativo (Ciase), onde permanecerá aguardando decisão judicial, que será proferida em até 24 horas. Ainda segundo o instituto, essa decisão deverá determinar o encaminhamento do menor para uma unidade de internação do Iases e por quanto tempo ele ficará internado.