Um motorista ainda não identificado atropelou uma cadela e fugiu do local sem prestar socorro na manhã de terça-feira (30), na rua Doutor Francisco Otaviano Chaves, na Praia de Capuba, na Serra. Conhecida como Pretinha, ela chegou a ser levada a uma veterinária, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
A cadela foi resgatada logo após o atropelamento pela diarista Adriana Melo, moradora da rua e que cuidava da cachorrinha e outros dois cães de rua, Pretinho e Lobinho.
De acordo com a diarista, ela gritou pelo motorista, que não chegou a sair do carro para ajudar o animal.
“Eu estava na sala quando escutei o barulho dela chorando, aí eu cheguei da varanda correndo. Ele continuou andando, atropelou ela. Vi a Pretinha cambaleando. Eu lá de cima e gritei: ‘Você não viu o cachorro?’ Ele foi andando, chegando lá na esquina, parou e ficou olhando para trás, do lado do carona. Só que não vi se era um homem ou uma mulher”, disse.
Ela contou com a ajuda de uma vizinha para levar Pretinha até o consultório de uma veterinária. Ela relatou que o animal era dócil e que cuidava da cadela e dos outros animais em situação de rua desde que se mudou para o bairro.
“Desde que cheguei aqui, eu cuido deles. Eu coloco comida todo dia, a comida deles está ali. Nunca avançou em ninguém, ia com a gente para praia, brincava, rolava na areia igual criança e a pessoa faz uma maldade dessas. A cachorra estava dormindo, ele não teve a capacidade de dar uma paradinha para poder alertar ela para ela sair da frente. É muita crueldade com um ser vivo”, afirmou.
Ela e a vizinha, a comerciante Alexandra Lima, tentaram abrigar os animais, mas os cachorros acabaram não se adaptando e eram tratados por elas nas portas de suas casas.
Elas afirmam que chegaram a acionar o Centro de Controle de Zoonoses do município, mas como os animais não apresentavam risco para as pessoas e nem estavam doentes, não foram recolhidos.
De acordo com Adriana, o sentimento que fica é de revolta e que espera que o motorista que atropelou Pretinha seja punido.
“Primeiramente que se achasse e punisse, que é o certo, o que deve ser feito. Porque se ele fez isso com um animal, imagina o que não faz com um ser humano. Se tivesse uma criança ou um idoso, ele ia passar por cima também? Se tivesse uma pessoa bêbada, ele faria a mesma coisa? Quero que ele pague”, disse.
Sentimento de indignação
Alexandra Lima foi quem levou Pretinha para a veterinária, mas ao chegar ao consultório, a cadela acabou morrendo, uma vez que sofreu diversas fraturas pelo corpo e já estava com hemorragia interna em estado avançado.
“Levamos para a veterinária, mas não teve jeito, quando chegou lá já estava com muito sangramento interno e ela falou que não dava mais, na mesma hora ela partiu”.
Ela reafirma o depoimento de Adriana e se diz indignada com a situação. Ela informou que a cadela era castrada e nunca houve problemas entre ela e pessoas que transitavam pela rua onde ela foi morta.
“Estou indignada com isso, porque ele não voltou para ver como ela estava e, infelizmente, ela partiu. Era uma cachorra que não causava nada de perigo para ninguém, só protegia a gente e acompanhava as crianças para a escola, na ida e na volta. A gente tem que achar ele, porque se ele fez isso, imagina o que não está fazendo em outros lugares”.
Motorista pode cumprir até 5 anos de prisão
O advogado criminalista Fábio Marçal analisou o vídeo do atropelamento da cadela e informou que o motorista pode ser punido com 2 a 5 anos de reclusão pelo crime e, caso fosse preso em flagrante, não teria direito à fiança.
“Ele pode responder pelo crime do artigo 32 da lei 9.605, que tem uma pena alta de 2 a 5 anos de reclusão. Se ele fosse pego em flagrante, por exemplo, não se arbitraria fiança na esfera policial, ele seria encaminhado para um presídio”, disse.
Ele informa, no entanto, que os animais de rua devem ser recolhidos para um abrigo e que o Estado pode ser responsabilizado caso ocorra algum acidente por conta deles.
“É importante frisar que estes animais estão em situação de rua, em caso desses animais causarem um acidente e não for encontrado um tutor, for confirmado que eles são animais de rua, a prefeitura, o Estado, podem responder e ter que reparar o dano causado por esses animais. A prefeitura não pode ser negligente com animais em situação de rua, e promover o recolhimento desses animais, não podem ficar da forma como estão”.
*Com informações do repórter Rodrigo Schereder, da TV Vitória/Record