A família do marido da cigana Hyara Flor Santos Alves de 14 anos, morta com um tiro no pescoço no dia 6 de julho, em Guarantinga, na Bahia, afirma que está sendo ameaçada pelos parentes da jovem.
O motivo seria a não aceitação do resultado do inquérito policial, que concluiu que o atirador não foi o marido dela, da mesma idade, mas sim o cunhado da vítima, um menino de 9 anos, quando eles brincavam com a arma no quarto dela.
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Após a morte da esposa, o adolescente veio para o Espírito Santo, onde foi apreendido como principal suspeito do crime.
No entanto, ao longo da investigação, foram analisados laudos periciais, imagens de câmera de vigilância, documentos, mensagens de celular e redes sociais que apontaram, na verdade, que se tratava de um tiro acidental e não de um feminicídio.
Desde então, os familiares do adolescente seguem no Espírito Santo, pois, diante das ameaças, temem retornar à Bahia.
“Se eu morrer aqui, ou algum familiar meu, ou a minha esposa, ou os meus irmãos que estão na Bahia. Os únicos que vão pagar são vocês. Porque eu estou sendo ameaçado de morte por vocês, que pagarão na justiça se algo acontecer”, disse Junior Amorim, pai do adolescente.
Em entrevista à repórter Mayra Bandeira, da TV Vitória/Record TV, o pai do adolescente mostrou os áudios que teriam sido encaminhados a ele como forma de ameaça.
“Minha filha não vai ficar sozinha não. Eu vou matar muita gente. Por causa da Hyara, muita gente vai morrer. A vida de vocês acabou”, disse Hyago Alves, pai da cigana, em um dos áudios.
O tio de Hyara também fez ameaças a família do adolescente. Ele teria dito que a hora do adolescente iria chegar, pois ele não iria fugir a vida toda. “Hoje tu pode agradecer a Deus que ele não morreu. Mas a hora dele vai chegar. Você não vai viver fugindo a vida toda”, disse ele.
O pai do adolescente direcionou uma resposta à família da cigana. “Eu saí de Guaratinga com medo de morrer. E estou em Vitória até hoje, essa é a cidade que estou. Também estou sabendo que você está com 5 pistoleiros para mandar arrancar a minha cabeça e a do meu filho”, narrou.
Hyago Alves, no entanto, nega que as ameaças sejam recentes. Segundo ele, as mensagens de áudio foram enviadas a Amorim logo após a morte da filha.
“Aqueles áudios foram enviados em um momento de raiva. Um desabafo de um pai que perdeu uma filha. Se ele tiver áudios meus recentes ameaçando ele, quem vai ser preso será eu. Se eu quisesse matar ele, eu não estaria pedindo justiça”, finalizou.
O adolescente de 14 anos foi liberado na última segunda-feira (14). Ele estava em internação socioeducativa. A reportagem da TV Vitória tentou ouvi-lo sobre o que aconteceu. Contudo, o pai dele afirmou que o garoto está muito abalado e sob efeito de medicamentos.
Duas pessoas foram indiciadas
A investigação conduzida pela Delegacia Territorial de Guaratinga, com o apoio da 23ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Eunápolis), indiciou mais duas pessoas.
A sogra de Hyara Flor, mãe do menino de 9 anos, foi indiciada por homicídio culposo e porte ilegal de arma de fogo, considerando que a pistola utilizada no crime pertencia a ela.
Já o tio da vítima foi indiciado por disparo de arma de fogo, referente a tiros deflagrados contra a residência do casal de adolescentes.
Caso ganhou repercussão após relatos de traição extraconjugal
A morte ganhou repercussão nacional após a revelação de um relacionamento extraconjugal envolvendo o tio da jovem e a sogra. Inicialmente, a polícia suspeitou que o relacionamento poderia ter relação com a morte da cigana.
Em entrevista ao Balanço Geral, da Record TV, o tio paterno da cigana confirmou que manteve um relacionamento com a mãe do adolescente por seis anos.
“Chegou uma época que falei: ‘Olha, infelizmente, não vai dar para nós ficarmos mais porque minha sobrinha vai casar com seu filho. Para gente ter uma convivência boa, vamos parar com isso’. Ela já entrou em desespero, falando comigo que ela ia tirar a própria vida se eu fizesse isso com ela”, disse.
A família da cigana acreditava que o pai do adolescente tenha descoberto a relação e que a morte de Hyara seria uma vingança. A hipótese, no entanto, foi descartada pela polícia ao longo da investigação.
Resposta da defesa do adolescente
Procurado pela reportagem do Folha Vitória, o advogado Homero Mafra, que defende o marido da cigana, declarou que já acreditava no resultado e que recebeu a notícia da conclusão do inquérito da Polícia Civil da Bahia com serenidade.
“Decepção”, alega advogada da família da cigana
Em nota enviada à reportagem, a defesa da família da cigana Hyara, feita pela advogada criminalista Janaína Panhossi, se diz decepcionada com a conclusão das investigações.
Apesar disso, a advogada acrescenta que está ciente de que a condução de um inquérito policial compete somente à polícia judiciária.
Veja abaixo a nota na íntegra:
Venho acompanhando o caso, desde a ocorrência deste triste fato, e até o presente momento, atuando, assim, em todas as fases da investigação.
Diante disso, afirmamos, com respaldo técnico, que todos os elementos que fundamentam a alegação da família, no sentido de que Hyara foi vítima de feminicídio, foram fornecidos a autoridade.
Recebemos com serenidade, porém, com profunda decepção a conclusão das investigações, mas estamos cientes de que a condução de um inquérito policial compete somente à polícia judiciária, mas a classificação dos delitos em apuração serão submetidos às superiores considerações do Ministério Público. Dessa forma, aguardamos posicionamento do representante do parquet.
Pois cabe ao mesmo, independente do relatório policial, formar sua opinio deliciti e ao delito em apuração a classificação de acordo com as suas impressões, as quais, conhecendo o processo, certamente serão pela representação e denúncia dos responsáveis pela morte da jovem cigana.