Política

"A ficha da gravidade da situação do país não caiu", afirma líder do governo federal Rose de Freitas

Rose de Freitas

"A ficha da gravidade da situação do país não caiu", afirma líder do governo federal Rose de Freitas
Rose de Freitas Foto: Agência Senado

A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), líder do governo Temer no Congresso Nacional, afirma em entrevista especial ao Folha Vitória que os colegas do Congresso Nacional e também do Poder Judiciário precisam entender a realidade brasileira.

Para Rose, a ficha ainda não caiu. A senadora apontou grandes dificuldades para votar medidas importantes para o país e para embasar sua fala exemplificou que nesta semana, com apenas um feriado, Brasília pode estar vazia e abrir mão de decisões importantes para conter a crise e retomar o crescimento.

Rose comentou ainda que pode estar arrependida do voto que deu para manter os direitos de Dilma Rousseff (PT), por conta do discurso inflamado da ex-presidente no Palácio do Planalto após concluído o processo do impeachment, e sobre as dificuldades que Michel Temer deve enfrentar à frente do governo.

Folha Vitória: Em sua visão, quais as prioridades para o novo governo de Michel Temer?
Rose de Freitas: O país está vivendo uma crise que não se via há muitos anos. Identifico como a maior crise econômica dos últimos 40 anos. Considero mais importante conseguir debelar essa crise, que teve efeitos de toda natureza. O efeito político levou a todas as distorções que você pode imaginar, como Congresso paralisado, falta de ajuste e enfrentamento dos problemas sociais graves, e o desemprego que chegou a 13 milhões. É preciso gerar confiança para que as pessoas voltem a investir e ter a capacidade de tomar as decisões que precisam ser tomadas para que o país volte a crescer.

FV: Como líder do governo Temer no Congresso, quais as principais dificuldades têm enfrentado neste delicado momento de transição?
RF: Hoje [sexta-feira, dia 2], por exemplo, passei por grande dificuldade. Todos foram embora, Brasília não tem ninguém e de repente vi que no dia 8 havia espaço para votar uma MP [medida provisória] e que todos programavam ir para algum lugar com suas famílias e participar de campanhas eleitorais. Há dificuldade de reconhecer a importâncias das pautas. A maior dificuldade é as pessoas sentirem que a ficha caiu. A ficha da gravidade da situação do país não caiu, se não não teria tanto espaço e folgas no Congresso. Sei que estou em falta com meu Estado, pois estou direto aqui em Brasília, mas estarei aqui dia 7 setembro para no dia 8 fazer essas votações importantes. A maior dificuldade é, na verdade, trabalhar com a natureza de pessoas que não entenderam ainda a gravidade da situação do país. Para os brasileiros a ficha caiu, pois estão sentindo na ponta, com o desemprego e o mau funcionamento do serviço público. O Brasil não pode mais abrir mão das iniciativas que têm de ser tomadas. Tem decisões difíceis, que com certeza vão sacrificar um pouco os setores, mas mais adiante o Brasil vai se levantar. 

FV: Em quanto tempo acredita que o Brasil começará a voltar para os trilhos?
RF: No final de 2017 acho que já teremos outro Brasil, mas para isso acontecer é preciso que o Congresso e o STF [Supremo Tribunal Federal] entendam que Brasil é esse que estamos vivendo. Todos os que pleiteiam aumento deveriam entender que vão ter de esperar um pouco mais. O que não pode faltar é a aposentadoria para quem precisa e não ter atendimento em hospital. O Brasil é para os que mais precisam dele , não para os que têm alternativa. E tem que ter a expectativa do emprego, com pessoas que acreditam que o Brasil vai voltar a crescer para então poderem investir.
 
FV: Durante entrevista à Rádio Senado, a senhora defendeu a reforma da Previdência. Como defende essa reforma? 
RF: O ideal seria que nunca precisasse fazer, porque a questão da previdência hoje é a soma de todos os erros dos últimos 20 anos. Hoje sofrem com perspectiva ruim de você não conseguir contornar razoavelmente esses problemas. Se não resolvermos essa deficiência toda, com certeza os aposentados pagarão por isso. Nós temos que enfrentar algo que é importante. Defendo primeiro a não perda de direitos. Você não conserta uma coisa estragando várias. E também a não compatibilidade de idade entre homem e mulher. Mulher tem uma tripla, quádrupla jornada de trabalho. Estando ou não na repartição pública ou no setor privado ela tem outras responsabilidades.

FV: Em suas falas também há defesa da redução da máquina pública. Na prática, como isso se daria?
RF: Há o inchaço dessa máquina. Tem empresa que está ociosa, mas existe, tem quadro de pessoal. Se você quer criar um Brasil competitivo, com administração eficiente, tem de olhar aquilo que não tem necessidade e fazer uma ação transformadora.  É preciso reciclar funcionários e colocar em lugares carentes de pessoal.  Fizemos um levantamento e constatamos, por exemplo, que há 139 estatais que se sobrepõem às outras, que têm a mesma finalidade. Quando olhamos, a Infraero tinha 3 mil engenheiros. No entanto, o aeroporto de Vitória é tocado com apenas cinco. 

FV: Como senadora, votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, mas pela manutenção dos seus direitos políticos, diferentemente dos outros senadores da bancada, Ricardo Ferraço e Magno Malta. O que levou a senhora a tomar essa decisão?
RF: Repudiei o governo de Dilma, porque trabalhei muito para votar orçamento, que colocamos em dia, já que o Brasil não poderia ficar orçamento. Trabalhamos para fazer ele acontecer. Olhamos o déficit e fizemos ele ser declarado do tamanho que era. Aquele famoso débito dos bancos fizemos com que ela quitasse e a partir daí ela poderia ter feito coalizão de forças políticas para administrar o país. Pensava que era possível colocar o Brasil em primeiro lugar na segunda gestão de Dilma. Mas ela ficou dentro da administração, levou o país à uma crise sem precedentes, e para mim esse capítulo seria votado integralmente no Senado. De repente, o presidente [Ricardo Lewandowski] divide o julgamento em duas partes e coloca em destaque a pergunta se ela [Dilma Rousseff] deveria ser inabilitada para exercer cargo público. Naquela hora, olhei mais pela mulher, a profissional, o ser humano. E aí nesse momento dei esse voto achando que seria uma forma de reinserir a pessoa. Não votei a favor do impeachment pelas pedaladas, que vejo em todo o Brasil, e que ela [Dilma] corrigiu por ação nossa. Mas ela não parou de fazer. Acabou de corrigir as de 2014 e em 2015 incorreu nos mesmos erros. Aí realmente era crime de responsabilidade. Mas quando fomos julgar se ela poderia trabalhar, achei que era uma oportunidade para ela voltar à vida dela. Só que ela fez um discurso tão rancoroso no Palácio do Planalto, que acho que ela não valorizou o fato de ela não ter sido inabilitada. Acho que ela esqueceu que nesse momento não cabia raiva e rancor porque ela estava sendo afastada pela má gestão dela, mas que foi preservada como ser humano. Fiquei muito angustiada com  o discurso dela. Muito mesmo. Talvez se eu voltasse naquele momento e soubesse que ela faria discurso, não teria votado a favor pela manutenção dos seus direitos.

FV: Fala-se já em um primeiro desgaste com Temer em relação à base aliada, já que grande parte dos senados votaram pela manutenção dos direitos da ex-presidente da República. Como líder do Congresso, a senhora enxerga essa situação?
RF: Em nenhum momento. Aquele momento foi um rito democrático sem nenhuma incorreção e ninguém tratou desse assunto [da maneira com que os senadores votariam]. Para mim foi surpresa muito grande o presidente do STF optar por dividir a votação em duas. E acredito que todos foram tomados de surpresa.