O Espírito Santo tem mais de mil cargos eletivos, considerando Executivo e Legislativo. Desses, apenas 111 são ocupados por mulheres, o que representa 10,5% do total. O déficit da participação feminina na política, hoje, reflete um passado de preconceito e exclusão. Como e para onde direcionar o debate para mudar esse cenário?
“Somos mais da metade do eleitorado e apenas 5% das mulheres são votadas para cargos eletivos. Isso é um número impactante. Temos que atuar para jogar luz por meio de discussões e implementar ações afirmativas que proporcionem o aumento na quantidade de candidaturas femininas”, disse a presidente do Comitê Gestor de Incentivo à Participação Feminina e Equidade de Gênero do TRE-ES, juíza Heloísa Cariello.
Em 1935, a professora capixaba de música Maria Felizarda de Paiva Monteiro entrou para a história da política brasileira ao ser a primeira vereadora eleita no Brasil. Ela chegou a presidir a Câmara Municipal de Muqui. Mais de 85 anos depois, mudanças vêm acontecendo, mas numa velocidade muito aquém do necessário para alcançar equidade de gênero na política capixaba. As últimas eleições no Espírito Santo são um exemplo disso.
Eleições 2020
Em 78 municípios, apenas uma mulher foi eleita para comandar uma prefeitura. É a Ana Izabel Malacarne de Oliveira (DEM), de São Domingos do Norte. O pior resultado das últimas três eleições municipais. Das mais de 850 cadeiras para vereador em todo o Estado, apenas 91 foram conquistadas por mulheres. Apesar do número baixo, houve um crescimento de 15% em relação ao pleito de 2016.
Pela legislação, ao menos 30% das candidaturas nas eleições proporcionais devem ser destinadas ao público feminino. Entretanto, o cumprimento da cota não significa mais mulheres eleitas. No ano passado apenas 10% das vagas do Legislativo municipal foram conquistadas por “elas”.
Em 2020, o número de registros de candidaturas femininas chegou a 34%, crescendo 2% em relação ao pleito anterior. “Ainda estamos muito tímidas em relação ao nosso potencial por uma série de fatores estruturais, por questões intrínsecas na sociedade”, afirmou Heloísa.
Elas falam dos desafios e o que pensam para o futuro:
Rose de Freitas (MDB) – senadora
“Nós não precisaríamos de um Dia Internacional da Mulher se fôssemos tratadas com igualdade e respeito no dia a dia. A verdade é que todos os caminhos levam apenas a uma realidade: a exploração da mulher através da história e da total falta de condições sociais e econômicas para uma existência digna. Nós precisamos de espaço. Mas, um espaço consolidado. Não é aquele espaço que vocês dizem: põe uma mulher lá”.
Iriny Lopes (PT) – deputada estadual
“O crescimento de mulheres na política nas últimas eleições foi discreto e ainda insuficiente para representar essa maioria da população. Não superaremos a desigualdade de gênero, que se manifesta de muitas formas, com os poderes legislativos, executivos e em todas as instâncias dominados principalmente por homens brancos. Todos avanços que tivemos são decorrentes da luta histórica das mulheres e só teremos mais mulheres na política se mantivermos a mobilização”.
Janete de Sá (PMN) – deputada estadual
“A política é predominantemente masculina. Precisamos provar todos os dias que somos capazes de fazer a diferença. Somos a maioria do eleitorado, mas não ocupamos na mesma proporção os espaços de poder, seja no mundo corporativo ou na política. O trabalho visando o aumento da presença feminina deve ser permanente e exige nossa união. Juntas vamos vencer os desafios exigindo políticas públicas que nos atendam. Só com a política podemos mudar o mundo e nossa condição”.
Karla Coser (PT) – vereadora de Vitória
“O principal desafio de ser mulher e estar na política sendo mulher é o espaço não convidativo. Nós mulheres ainda não ocupamos nem a representação que temos na sociedade, já que deveríamos ser, no mínimo, metade de representantes pra ser equivalente à população feminina. E esse crescimento tem sido muito lento, principalmente porque as pautas são urgentes! É preciso que sejam efetivadas políticas públicas que garantam a participação da mulher na política institucional”.
Elcimara Loureiro (PP) – vereadora da Serra
“A nossa sociedade é oriunda de um modelo patriarcal e machista. Infelizmente ainda, todas as mulheres em todos os espaços sofrem no cotidiano e lutam para romper os preconceitos. E é muito claro ver esta realidade no campo político. É só a gente olhar para as composições das Câmaras e outras instituições de poder. O número de mulheres ocupando é muito menor do que o número de homens, longe de chegarmos próximo à metade”.
Raphaela Moraes (Rede) – vereadora da Serra
“Hoje, ocupando um cargo público eletivo, vejo como estamos distantes da sociedade ideal. Somos a minoria, temos dificuldade em demonstrar a importância do que defendemos, de sermos ouvidas! Precisamos avançar. Mulheres precisam ocupar espaços para lutar por direitos femininos. Somos nós mulheres que temos mais sensibilidade pela luta e defesa de direitos, por isso precisamos de união, umas com as outras!”.
Raquel Lessa (Pros) – deputada estadual
Quando falamos da representatividade feminina na política, a presença da mulher ainda é muito pequena. É preciso que os partidos, geralmente controlados por homens, deem mais espaço para as mulheres estruturarem suas campanhas. Precisamos ainda investir mais na formação de lideranças femininas e despertar nas mulheres o interesse em se candidatar a cargos públicos, já que, culturalmente, elas não são encorajadas a ocupar esses espaços”.