Assumir as Rédeas do Próprio Destino na Perspectiva Liberal Clássica

Em tempos de debates sobre o papel do Estado e do indivíduo, a responsabilidade individual emerge como um dos pilares centrais na construção de sociedades livres e prósperas. Sob a perspectiva do liberalismo clássico, a ideia de que cada pessoa deve ser a principal responsável por seu destino é não apenas uma questão de liberdade, mas também um compromisso com a autonomia, a dignidade e o progresso humano.

A responsabilidade individual, no contexto liberal clássico, está intrinsicamente ligada à liberdade. Para pensadores como John Locke, Adam Smith e Ludwig von Mises, a liberdade de escolha é um direito inalienável, mas que carrega consigo o dever de arcar com as consequências das próprias decisões. Esse princípio refuta a noção de que o Estado deve intervir continuamente na vida das pessoas para corrigir os resultados de escolhas equivocadas ou para prover soluções paternalistas.

Assumir as rédeas do próprio destino exige autonomia – a capacidade de decidir, planejar e agir com base nos próprios objetivos e valores. A autonomia é o motor da inovação, do empreendedorismo e da autorrealização. Um indivíduo que entende sua responsabilidade pessoal desenvolve resiliência, aprende com os erros e constrói um caminho único para o sucesso.

No entanto, viver em liberdade significa enfrentar incertezas e riscos. A perspectiva liberal clássica não promete segurança absoluta, mas a oportunidade de cada indivíduo buscar sua própria versão de segurança com base em seus esforços. Nesse sentido, o liberalismo clássico rejeita a ideia de uma “rede de proteção infinita” estatal que sufoca a iniciativa individual e perpetua dependências.

Embora a responsabilidade individual seja central, ela não significa um isolamento social ou indiferença em relação aos outros. O liberalismo clássico reconhece que vivemos em sociedade e que o respeito pelos direitos alheios é essencial. A responsabilidade individual implica cumprir acordos voluntários, respeitar contratos e evitar causar danos a terceiros. Essa base ética sustenta a convivência pacífica e o progresso coletivo.

É nesse equilíbrio entre liberdade e responsabilidade que o liberalismo clássico encontra seu ponto de apoio. Cada indivíduo é incentivado a ser o protagonista de sua vida, mas também a contribuir para o bem-estar da sociedade por meio de ações voluntárias e produtivas.

Quando a responsabilidade individual é diluída em conceitos como “responsabilidade coletiva”, surge o risco de que ninguém se sinta verdadeiramente responsável. A coletivização da responsabilidade frequentemente alimenta um ambiente de inércia, no qual o esforço individual é substituído pela expectativa de que “alguém fará algo”. Esse fenômeno pode ser observado em sistemas excessivamente assistencialistas, nos quais o incentivo ao trabalho, à criatividade e ao empreendedorismo é reduzido.

A lógica do “bem comum”, quando mal interpretada, pode levar ao crescimento desmedido do Estado e à perda da autonomia individual. O liberalismo clássico argumenta que, ao permitir que o Estado controle aspectos fundamentais da vida, os cidadãos abrem mão da liberdade de escolher e acabam terceirizando suas responsabilidades. Isso cria uma cultura de dependência que sufoca o potencial humano.

Pense nos empreendedores que, com visão e coragem, construíram empresas e resolveram problemas que governos não conseguiram solucionar. Considere os cientistas, artistas e ativistas que, movidos por paixões pessoais, impactaram o mundo de forma extraordinária. Mesmo em cenários adversos, aqueles que assumem o controle de suas vidas encontram maneiras de prosperar. Esse espírito é a essência do progresso humano. É por isso que o liberalismo clássico celebra o indivíduo como agente de mudança, não como uma peça subordinada em uma engrenagem estatal.

Ao invés de esperar que o Estado resolva todos os problemas, é preciso ensinar que cada pessoa tem um papel ativo em moldar seu destino. É uma mudança de mentalidade que empodera os indivíduos a buscarem soluções e assumirem o protagonismo de suas vidas.

A responsabilidade individual é a base sobre a qual se constrói a liberdade. Sem ela, a liberdade degenera em caos ou dá lugar ao autoritarismo. A perspectiva liberal clássica nos convida a abraçar o desafio de sermos responsáveis por nós mesmos, reconhecendo que é na combinação de liberdade e responsabilidade que o indivíduo é capaz de alcançar uma forma genuína de realização.

Assumir as rédeas do próprio destino não é uma tarefa fácil. Em um mundo repleto de incertezas, os princípios do liberalismo clássico nos lembram que o poder de mudar e crescer está dentro de cada um de nós. Esse poder – o poder do “eu” – é a força que move a humanidade para frente.

André Paris
Palestrante, Consultor em Governança e Inteligência Artificial, Privacidade de Dados e Compliance.