Imagine um artesão renascentista moldando com precisão uma peça de mármore bruto. A cada golpe do cinzel, ele define formas e traços, transformando potencial em obra-prima. Essa é uma metáfora poderosa do que significa assumir o controle do próprio destino: é a construção deliberada de uma vida guiada pela razão, pelas escolhas individuais e pela busca por excelência. No entanto, na sociedade contemporânea, essa prerrogativa encontra-se frequentemente ameaçada pela tirania do coletivismo moderno.
Yaron Brook, em suas reflexões sobre a importância de tomar as rédeas do próprio futuro, ecoa a filosofia objetivista de Ayn Rand: o indivíduo é soberano e, portanto, o principal arquiteto de sua vida. Esse princípio, que permeia as virtudes que construíram o Ocidente, contrasta fortemente com a realidade brasileira, na qual a dependência estatal é exaltada em detrimento do empreendedorismo e da liberdade econômica. Quando foi decidido que o destino de milhões de brasileiros deveria estar atrelado à volatilidade das decisões políticas, e não à criatividade e ao mérito individual?
Ao analisar os pilares de uma sociedade livre, percebemos que o sucesso do indivíduo depende de duas condições indispensáveis: a liberdade para agir e a responsabilidade sobre os resultados dessas ações. O atual sistema, contudo, ao privilegiar subsídios, benefícios coletivos e regulamentações excessivas, perverte a relação entre esforço e recompensa. É como se o artesão fosse obrigado a dividir suas ferramentas com aqueles que não compartilham de sua visão ou empenho.
Tomemos como exemplo o subsídio à indústria automobilística, concedido de forma sistemática nas últimas décadas. Sob o pretexto de preservar empregos e fomentar o crescimento econômico, bilhões de reais foram destinados a montadoras de veículos em formas de isenções fiscais e financiamento público a juros subsidiados.
Segundo estudo do Instituto Fiscal Independente (IFI), órgão ligado ao Senado Federal, esses incentivos custaram ao Tesouro mais de R$ 25 bilhões em apenas cinco anos, sem que houvesse impacto significativo na produtividade ou competitividade do setor. Essa política exemplifica o que Friedrich Hayek denominou de “arrogância fatal”: a crença de que burocratas podem planejar melhor do que o próprio mercado. Em última análise, ao desviar recursos que poderiam ter sido empregados de maneira mais eficiente por indivíduos e empresas, perpetuou-se uma cultura de dependência e mediocridade, em vez de inovação e responsabilidade.
Nesse contexto, a mensagem de Brook transcende a filosofia. Ela é um apelo moral para que cada um se levante contra o conformismo e a passividade. Como esperar inovação, prosperidade ou dignidade de uma sociedade em que a servidão é institucionalizada e o sucesso, demonizado? A resposta está na escolha. Escolha pela autonomia e pela rejeição de narrativas que buscam imputar ao “sistema” o fracasso individual.
Assumir o controle do próprio destino, no Brasil, é um ato de resistência. Não apenas uma resistência às forças externas que buscam tolher a liberdade, mas também à acomodação interna, que tenta justificar a estagnação. Em um país onde a meritocracia é constantemente questionada e a propriedade privada, atacada, o verdadeiro herói é aquele que, como o artesão renascentista, persiste em moldar seu futuro, apesar das adversidades.
Dessa forma, o legado de pensadores como Yaron Brook nos lembra que a luta pela liberdade não é um esforço coletivo, mas a soma de indivíduos determinados a viver segundo seus próprios valores. E, assim como o mármore cede ao cinzel, as ideias que aprisionam e obscurecem a mente humana inevitavelmente sucumbirão diante da luz da razão e da verdade, desde que sejam empunhadas por mãos firmes e corações convictos de que a virtude reside na autonomia e que apenas o espírito indômito é capaz de transformar o potencial bruto da vida em obra-prima.
Por Juliana Maia Bravo Klotz, associada do Instituto Líderes do Amanhã.