Política

Inspirado em catadora de papel, Mauro Ribeiro diz que PT agora faz acordo com as elites

Mauro Riberio, candidato pelo PCB, afirma que a figura histórica Dona Domingas é uma inspiração pra ele, que falou sobre Casagrande, Hartung e o PSOL

Mauro Ribeiro é candidato ao governo pelo PCB Foto: Everton Nunes

O candidato ao Governo do Estado Mauro Ribeiro (PCB) não participou do debate da TV Vitória, já que seu partido não tem representatividade no Congresso, mas em entrevista ao Folha Vitória ele falou sobre suas propostas de Governo e fatos marcantes sobre sua campanha rumo ao Palácio Anchieta. Entre elas, a de que se inspirou em uma das figuras mais emblemáticas da história capixaba, a catadora de papel Dona Domingas, que ficou eternizada, coincidentemente em frente ao Palácio Anchieta, em uma estátua de bronze.

Mauro e Dona Domingas são do Morro do Pinto, em Santo Antônio, Vitória e o candidato, em entrevista disse que se inspirou em Dona Domingas quando utilizou papéis usados para carimbar seu rosto e número para fazer a sua campanha.

Mauro, crítico dos adversários Renato Casagrande (PSB) e Paulo Hartung (PMDB), surpreendeu e disse que já admirou Casagrande como político e deu sua opinião por quais motivos Hartung teria rompido com o atual governador e decidido concorrer ao Palácio Anchieta de novo.

Folha Vitória: Na eleição deste ano no Estado há dois candidatos ao governo que são negros (Mauro Ribeiro e Roberto Carlos), além da Camila Valadão, que participa do Movimento Negro. Há ainda um candidato ao senado (André Moreira) e o Estado já teve um governador negro (Albuíno Azeredo). Como vê a participação do negro na política no Espírito Santo?

Mauro Ribeiro: No Espírito Santo, na campanha, mostra que somos a maioria, mas dentro do poder somos a minoria. É só você ver que as candidaturas (dos negros) ainda não decolaram. Sou do Morro do Pinto, local de onde veio a Dona Domingas, catadora de papel (também negra). Minha mãe conviveu com ela e me conta que nos dias de missa Dona Domingas rezava pela alma dos negros que não conseguiram a liberdade em vida. Ela preferia andar só a pé, não usava o bonde, que era o veículo da época.

FV: Você usou papéis reciclados para fazer a sua panfletagem. Inspirou-se na Dona Domingas ou só foi falta de dinheiro mesmo?

MR: Muito, me inspiro muito nela.  Não uso carro por opção. Convivo com netos, tios e sobrinhos dela. O carimbo nos papéis tem muito a ver com isso. Por que deixaria papéis para deixar a cidade suja?

FV: Mas você também não tem dinheiro para a campanha. Não aceita ajuda de empresários…

MR: Como bem disse a Camila Valadão (candidata pelo PSOL) o empresário não faz doação, faz investimento.

FV: Você mesmo costurou a bandeira do partido?

Mauro costurou a bandeira do partido Foto: Reprodução Facebook

MR: Sim, eu mesmo.  Ficou meio torta, mas tudo bem (risos). Nosso primeiro programa de TV foi feito no quintal da minha casa mesmo. Fazemos do limão uma limonada.

FV: Num eventual segundo turno entre Hartung e Casagrande você apoiaria algum dos dois?

MR: Isso teria de ser discutido pelo partido. Eu tenho minha opinião, mas como o partido ainda não fechou essa questão, eu prefiro não me manifestar.

FV: Você já falou que os dois são candidatos ruins, qual seria o menos pior então?

MR: Eles são iguais. O discurso é o mesmo, eles não governam para a população. A prioridade deles é o privado sobre o público. É uma política de alianças nefastas.

FV: Casagrande foi apoiado por Hartung nas últimas eleições, por que acha que essa aliança acabou?

MR: Eu tive a oportunidade de conviver próximo do Casagrande em 1995 (quando ele era vice de Vitor Buaiz) e eu trabalhava na Secretaria de Meio Ambiente. Ele (Casagrande) era uma referência, uma liderança como deputado estadual, federal…E quando foi pro Senado começou a receber apoio na campanha, como da Aracruz Celulose e aí vi que ele estava com compromisso com outras coisas. Hartung acho que quis voltar ao poder por vaidade ou porque ficou preocupado com o que ficou em aberto na gestão dele, como as denúncias do Posto Fiscal, a Operação Lee Oswald, que ele está indiretamente vinculado. Ele tem um histórico de não dar vida boa aos adversários.

 FV: Por que o PCB e o PSTU não coligaram com o PSOL?

MR: O PSOL tem tendências dentro do partido e para contemplar a todos eles escolheram os candidatos antes de conversar conosco. Tínhamos interesse em ficar na vice deles, mas não deu.O PSTU estava mais próximo do PSOL, mas eles entenderam que nosso programa tinha  mais a ver com eles.

FV: O PSOL é o PT do passado e vai ser o PT do futuro?

MR: O PSOL é o PT do passado, aquele mais guerreiro. O PT hoje é governista, com alianças com a elite e o agronegócio. O PSOL tem um caminho bom para ser trilhado, só não pode degenerar. E eu espero que isso não aconteça.

FV: Eu sei que você não é do PSOL, mas o PCB tem afinidades com PSOL. Em Macapá o prefeito Clécio Luís (PSOL) sofre oposição do PSTU por algumas alianças…

MR: Nós não defendemos governo de coalizão. Queremos constituir o poder popular. Para nós o Legislativo tem de legislar e fiscalizar, e o Executivo cumprir o seu papel. Hoje o que vemos em todo Brasil é o Executivo e Legislativo sendo uma coisa só.

FV: Então, se você fosse governador,você convocaria a população para se manifestar caso a Assembleia não atendesse aos  anseios do povo?

MR: Sim, manifestaremos e o Estado pode colaborar.

FV: Isso não é utopia? Funcionaria na prática?

MR: Um exemplo de como o poder popular se constitui foi a quebra do pedágio (da Terceira Ponte). O pedágio acabou devido à população.