A anistia concedida pelo atual governador do Estado e candidato à reeleição, Renato Casagrande (PSB), aos policiais acusados de participar da greve da Polícia Militar (PM), em 2017, foi um dos temas abordados na sabatina que a Rede Vitória realizou com os candidatos ao Executivo estadual no segundo turno das eleições.
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Na ocasião, o socialista foi questionado se estava arrependido por ter anistiado os militares. Ele respondeu que seu ato foi meramente administrativo, uma vez que parte dos agentes envolvidos na greve ainda responde criminalmente pela atuação na paralisação, e que, caso fosse necessário, hoje, anistiaria novamente os policiais.
“A anistia foi administrativa. Tínhamos 8 mil policiais só como efetivos. Deixamos 10.500 em 2014. Concedemos anistia administrativa, não criminal. Os processos continuam. É bom que a gente acompanhe isso (…) Daria novamente, sim. Se fosse naquele ambiente que eu concedi, daria, até porque eu tinha que ter governabilidade com a polícia naquela época. A greve foi o pior evento da insegurança no estado nas últimas décadas”, disse o candidato.
Um aspecto importante em torno do tema tratado durante a sabatina dessa terça-feira é que, no debate que a Rede Vitória promoveu com os candidatos ao Executivo estadual no segundo turno, realizado no último dia 20, Casagrande acusou o seu oponente na corrida eleitoral visando ao Palácio Anchieta, o ex-deputado Carlos Manato (PL), de participação na greve dos policiais militares.
VÍDEO | Eleições 2022: reveja a sabatina com o candidato Renato Casagrande
A greve da PM no Espírito Santo
A greve da Polícia Militar do Espírito teve início no dia 4 de fevereiro d 2017 e durou 21 dias.
Tudo começou na entrada do 6º Batalhão da Serra, onde dezenas de familiares de policiais militares se instalaram e não saíram mais. Eles diziam ser os responsáveis pelo aquartelamento dos PMs. A justificativa era a reivindicação por melhores condições de trabalho, em especial, os salários: R$ 2.646,12. Na época, um dos mais baixos do país.
Sem policiais nas ruas, a segurança pública entrou em colapso. Ao todo, houve 225 homicídios no Estado nesse período. As cidades estavam desertas, a violência cresceu e as negociações pareciam não chegar a lugar algum.
Prejuízo no comércio
De acordo com a Federação do Comércio do Espírito Santo (Fecomércio-ES), o comércio capixaba perdeu pelo menos R$ 180 milhões com roubos, arrombamentos, saques e estabelecimentos fechados.
Agora, três anos depois, a greve ainda não acabou nas delegacias e tribunais do estado. Uma força-tarefa foi montada para investigar os supostos crimes cometidos tanto por criminosos quanto por PMs no período.
Mais de 200 inquéritos
Duzentos e oito inquéritos policiais foram instaurados nas Delegacias de Homicídios de todo o Estado para investigar as mortes cometidas durante a paralisação. A Polícia Civil esclareceu concluiu 148 inquéritos e 60 ainda seguem abertos
Na esfera administrativa militar, mais de 2.600 policiais militares responderam a processos na Corregedoria. Vinte e três foram expulsos e, segundo a Associação de Cabos e Soldados, 10 militares foram presos. No dia 15 de janeiro de 2019, o atual governador Renato Casagrande enviou à Assembleia Legislativa o projeto de lei que previa anistia à todos os militares investigados pela Corregedoria. Vinte e quatro horas depois, o projeto foi aprovado por unanimidade pelos deputados estaduais.
Atualmente, são os crimes cometidos pelos militares que ainda não se resolveram na Justiça comum. Há dois processos principais na 4ª Vara Criminal de Vitória. Um deles aponta 10 militares como organizadores da greve. A Justiça condenou seis dos organizadores por associação criminosa, motim e incitação ao crime. Todos respondem em liberdade.
O outro julga 14 familiares de policiais envolvidos no movimento grevista. Três mulheres foram condenadas por incitar crimes, atentar contra a segurança pública e associação criminosa. Elas recorreram da sentença e também aguardam o julgamento livres.
Caráter político
A face política do movimento se concretizou nas eleições de 2018. Dezessete policiais militares envolvidos na greve se candidataram. Sete estavam diretamente ligados à organização do movimento.
Ação civil pública
Por conta dos prejuízos causados pela greve, uma ação civil pública foi aberta pelo Ministério Público Federal contra quatro associações da Polícia Militar. A ação pede o ressarcimento dos R$ 37 milhões gastos com o envio de tropas federais para o Estado. E ainda, o pagamento de R$ 12 milhões por dano moral coletivo aos residentes do Espírito Santo.
Cobertura das eleições na Rede Vitória
A sabatina com os postulantes ao cargo de governador do Estado foi mais uma contribuição da Rede Vitória para que o eleitor possa exercer plenamente a sua escolha nas eleições 2022 munido de muitas informações sobre os candidatos.