A situação dos capixabas detidos e presos por suposta participação nos atos golpistas que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, no último domingo (08), em Brasília, deve ser resolvida pela Justiça do Distrito Federal.
Em conversa com a reportagem na tarde da última quinta-feira (12), o superintendente da Polícia Federal (PF) no Espírito Santo, delegado Eugênio Ricas, explicou que, por conta de os fatos terem ocorrido em Brasília, todos os trâmites policiais e judiciais envolvendo o caso devem ser desdobrados na capital do país.
“Os crimes foram praticados em Brasília, então, o foro para julgar esses crimes é lá, independentemente da naturalidade e da residência dos criminosos. Eles vão ser investigados, processados e julgados lá. Eventualmente, na aplicação da pena, eles podem ser transferidos para cá, mas até a finalização do processo, tudo dever tramitar onde o fato ocorreu”, disse.
“Inicialmente, a competência é dos órgãos de Brasília”, diz procuradora-geral do MPES
Em entrevista coletiva concedida na última quinta, a procuradora-geral de Justiça do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Luciana Andrade, foi questionada qual seria a atuação do órgão ministerial no que se refere aos presos capixabas em Brasília, suspeitos de participarem dos atos terroristas contra os Três Poderes.
Assim como Ricas, Luciana afirmou que, inicialmente, a competência para tratar sobre o destino dos extremistas do Espírito Santo que foram a Brasília para participar das invasões golpistas é da Justiça do Distrito Federal.
“O nosso entendimento inicial, e isso tem sido expressado também pelos órgãos federais, é que o que aconteceu em Brasília e ocasionou a detenção, lá em Brasília, firma uma competência dos órgãos de lá para analisar. Nós podemos agir em cooperação, em delegação, mas não temos a iniciativa de assumir, porque já tem o ministro (Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal nessa atividade, já que os atos aconteceram lá.”, frisou Luciana, que ainda ressaltou que, eventualmente, os presos em Brasília podem ser transferidos para cumprir pena no Estado.
Missionário está na Papuda e 33 capixabas estão detidos em ginásio da PF
Segundo informações publicadas pela Coluna de Olho no Poder, na última quarta-feira (11) são 33 bolsonaristas do Estado detidos após as invasões e atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (08). A informação é de um dos organizadores da caravana que levou seis ônibus do Espírito Santo para a capital federal.
Eles foram presos em frente ao QG do Exército de Brasília com mais de 1.200 pessoas e levados em 50 ônibus para o ginásio da Academia da PF, onde foi montada uma força-tarefa para fazer a triagem e pegar o depoimento dos bolsonaristas. Idosos e mulheres com crianças teriam sido liberados.
Na última segunda-feira (09), a coluna De Olho no Poder registrou, com exclusividade, que cinco pessoas tinham sido presas na garagem do prédio do STF. Dessas, três teriam sido liberadas. Segundo um dos organizadores, um dos presos seria Felício Manoel Araújo, 56, que num vídeo que circula na internet se identifica como “missionário Felício Quitito”.
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seape) do Distrito Federal disponibilizou, na tarde desta terça-feira (09), uma lista com 412 nomes (atualizada às 18 horas de ontem) dos que deram entrada no sistema prisional. O nome de Felício consta na lista e ele se encontra no Centro de Detenção Provisória II (Complexo da Papuda).
Nos vídeos que viralizaram nas redes sociais e em grupos de conversas, com uma Bíblia na mão e sentado na Mesa Diretora do Senado Federal, Felício diz: “Foi muito gás. Tive que lavar meus olhos, molhar minha cabeça, mas graças a Deus, para a honra e a glória do Senhor Jeová, Jair Messias Bolsonaro estará voltando à nação e continuando o seu governo”.
Um dos organizadores da caravana, que também lidera um movimento de apoio a Bolsonaro e já deixou Brasília por medo de ser preso, disse que Felício é de Venda Nova do Imigrante e teria embarcado no ônibus que buscou bolsonaristas em Cachoeiro de Itapemirim.
Seis ônibus, entre quinta-feira e sábado, deixaram o Estado com destino a Brasília. Dois ainda estariam na capital federal e muitos passageiros voltaram ao Estado por outros meios, como avião e carro particular.
O líder do grupo disse que dos seis ônibus fretados que partiram do Estado, quatro tiveram patrocínio de um grupo de nove empresários. Em outros dois, foi cobrada passagem: R$ 400 para ficar no acampamento e R$ 580 com direito a duas diárias de hotel. O custo de cada ônibus, segundo o líder do movimento, seria de R$ 18 mil, conforme a coluna já tinha noticiado.
O vídeo de Felício viralizou em grupos de conversas e redes sociais, assim como de outros bolsonaristas capixabas. Dois chegaram a ser feridos por balas de borracha, conforme registrou a coluna.
*Com informações da Coluna de Olho no Poder