Coletivismo vs. Individualismo

“A Revolta de Atlas”, de Ayn Rand, é um romance que explora as implicações filosóficas do embate entre o coletivismo e o individualismo. A narrativa destaca como uma sociedade que valoriza o sacrifício em detrimento da produtividade acaba por sufocar a livre iniciativa e prejudica o bem-estar coletivo.

Na obra, os líderes políticos defendem a ideia de que os mais capazes devem sacrificar seu talento e seus recursos em benefício dos menos afortunados. Essa moralidade de sacrifício está fundamentada na crença de que a necessidade de alguns justifica a restrição da liberdade e das conquistas de outros. Empresas são obrigadas a compartilhar seus lucros para “sustentar” a economia, refletindo a noção de que as necessidades do coletivo têm prioridade sobre os direitos individuais.

Rand critica essa abordagem, referindo-se a ela como a “moralidade dos saqueadores”. Ao transformar a fraqueza e a necessidade em virtudes superiores à liberdade e à excelência, a sociedade inverte a lógica do mercado. O indivíduo é visto apenas como um meio para um fim coletivo, e suas realizações são desvalorizadas ou mesmo punidas.

Os personagens Hank Rearden e Dagny Taggart representam a luta do indivíduo produtivo contra essa moralidade opressora. Eles enfrentam uma burocracia que ignora o mérito e promove um “igualitarismo” que nivela por baixo, protegendo os menos eficientes às custas dos mais competentes. A interferência governamental crescente limita a capacidade de produção e de criação, minando os incentivos que impulsionam o progresso.

John Galt, o protagonista idealizado por Rand, personifica a resposta filosófica a esse dilema. Depois de testemunhar a aplicação da ética coletivista na fábrica Motores Século XX, ele decide liderar uma “greve da mente”. Galt busca atrair as pessoas mais criativas, empreendedoras e produtivas para se retirarem de uma sociedade que os desvaloriza e pune por sua capacidade de raciocínio e inovação.

Na passagem da obra que retrata um discurso de Galt, Rand apresenta sua filosofia objetivista, defendendo que o homem deve viver por si mesmo, guiado pela razão e em busca de sua própria felicidade, sem ser forçado a servir a outros por coerção ou culpa.

Essa filosofia se contrapõe à moralidade do sacrifício imposta pelo coletivismo. Ao rejeitar a ideia de que o indivíduo deve sacrificar-se pelo bem do coletivo, Rand promove a valorização da liberdade individual, da razão e da busca pela felicidade pessoal como pilares para uma sociedade próspera.

Através dos desafios enfrentados por seus personagens, Rand demonstra que a imposição de sacrifícios compulsórios e a coerção estatal não apenas sufocam a inovação e a produtividade, mas também destroem o espírito humano. Quando a sociedade pune aqueles que geram valor e recompensa os que nada produzem, ela se encaminha para a estagnação e o declínio.

Em contrapartida, a narrativa proposta pela autora busca demonstrar que a valorização do indivíduo e de sua capacidade de prosperar por si mesmo leva ao progresso e ao bem-estar coletivo. Ao permitir que cada pessoa busque seus próprios interesses por meio do uso da razão e da liberdade, a sociedade se beneficia das contribuições únicas de cada indivíduo.

André Paris
Palestrante, Consultor em Governança e Inteligência Artificial, Privacidade de Dados e Compliance.