Não é só com o PT que o PSB estuda formar um palanque duplo no Estado. O PSDB, que neste sábado (23) recebe em Vitória a visita do presidenciável e governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, também está no radar do partido do governador Renato Casagrande. Segundo o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, há a “possibilidade real” de uma dobradinha com os tucanos.
“É uma possibilidade real ter um palanque duplo, muito provavelmente vai dar nisso mesmo. Mas ainda não há nada fechado, só conversas iniciais. Até o momento são duas opções”, disse Gavini. Segundo ele, há a possibilidade de ter um palanque duplo de apoio aos presidenciáveis do PT (Lula) e do PDT (Ciro) ou um outro com apoio aos presidenciáveis do PDT e do PSDB (o nome que sair das prévias).
Na prática, o palanque do governador daria sustentação aos candidatos à Presidência da República de dois partidos, em troca do apoio desses partidos à candidatura de Casagrande à reeleição. Os postos-chaves (o nome do vice e do Senado) também entrariam na costura. Em 2018, o PSB não teve candidato à Presidência e Casagrande apoiou, no primeiro turno, o candidato do PDT, Ciro Gomes. Se o PSB não tiver candidatura própria à Presidência, é possível que Casagrande repita o apoio, pelo menos é dessa forma que o PSB capixaba está fazendo a leitura.
Gavini, Casagrande e o presidente estadual do PSDB, o deputado Vandinho Leite, já teriam conversado sobre a possibilidade de estarem juntos nas eleições de 2022 e, segundo bastidores, haveria consenso por parte do PSDB em dividir o palanque capixaba com outro presidenciável – pode ser o Ciro – desde que não seja com o PT.
O PSB estará presente hoje no evento “Conversas com Eduardo Leite”. “Nós vamos participar sim, enviaremos um representante. O PSDB é um parceiro, está no governo com a gente. Vandinho se aproximou”, disse Gavini.
Mal-estar no ninho após anúncio de Colnago
No último dia 11, véspera do feriado, a Executiva estadual do PSDB se reuniu para tratar sobre a visita de Eduardo Leite. Durante a reunião, o ex-vice-governador César Colnago teria dito que gostaria de colocar o nome para a disputa ao Palácio Anchieta.
Segundo membros da Executiva estadual ouvidos pela coluna, Colnago teria ouvido, da maioria, que não seria o momento de fazer tal debate. Que a definição sobre se o partido terá ou não candidato ao governo e/ou ao Senado, ficaria para depois das prévias. Ele teria saído da reunião convencido do posicionamento da Executiva, que foi pega de surpresa com o anúncio de Colnago, nesta semana, de que é pré-candidato ao governo.
“São 13 pessoas na Executiva e a ideia de se debater candidatura ao governo nesse momento foi só do Colnago. Não está posto isso no partido, nem de ter candidatura própria e nem de ser Colnago o candidato. Ninguém vai ser candidato de si mesmo. Ele saiu da reunião ciente que isso não seria discutido agora”, disse um membro da Executiva, que pediu para não ser identificado para não gerar mais desconforto no ninho. “Foi uma atitude um pouco intempestiva. Queremos cautela, calma, esperar o processo de prévias. Isso está fora de contexto agora”, disse outro membro da cúpula do partido, que também participou da reunião.
O mal-estar foi criado porque boa parte das lideranças tucanas, incluindo os três deputados estaduais, apoia Casagrande e faz parte da base do governo. A leitura dos tucanos de alta plumagem é de que Colnago quer antecipar o debate eleitoral, já se posicionando em contraponto a Casagrande, forçando a Executiva estadual a tomar uma decisão sobre a relação com o governo.
“Ou disputo o governo ou nada”
Em conversa com a coluna, Colnago confirmou que é pré-candidato ao governo. “Ou eu disputo o governo ou não vou disputar nada. Não vou disputar o Legislativo”, disse Colnago, que já tem equipe de marketing e até lema: “O Espírito Santo merece mais”. Ele também já tem viajado o Estado e reunido lideranças. “Tenho falado com lideranças, prefeitos, vices, sindicatos, estamos ouvindo as pessoas”.
O ex-vice-governador disse que a possibilidade do deputado federal Felipe Rigoni entrar no ninho e ter a mesma intenção que ele, não o incomoda. “Rigoni é muito bem-vindo. O PSDB tem como prática decidir no voto, em convenção. Eu estou me colocando como pré-candidato, o restante vai ser discutido na convenção”.
Colnago disse que vai buscar o apoio do ex-governador Paulo Hartung e que deve fazer “observações” sobre o governo de Casagrande. “No último pleito nós apoiamos Casagrande, mas o próximo pleito é outra coisa. É outro jogo. Vou fazer algumas observações sobre a gestão Casagrande e vou buscar o apoio de Hartung sim, é uma figura importante”.
Presidente nacional não confirma
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, falou com a coluna e não bateu o martelo se o partido terá candidatura própria ao governo e se será Colnago. Ele passou a bola para o presidente estadual, deputado Vandinho Leite, que também não tem feito essa discussão agora.
Questionado se o PSDB capixaba terá candidatura ao Palácio Anchieta, Bruno respondeu: “César dialoga comigo. É um importante quadro e amigo. A condução no momento é local, feita pelo presidente do partido no Estado, o deputado Vandinho”.
No último dia 14, quando rumores da movimentação de Colnago já circulavam no mercado político, a coluna perguntou a Vandinho – durante um evento do governo do Estado – qual era a posição do partido. Na ocasião, Vandinho disse que o foco era montar as chapas estadual e federal e que o debate sobre a construção majoritária (disputa ao Senado e ao governo) não seria feito agora.
Do ninho socialista para o ninho tucano?
O deputado federal Felipe Rigoni e o estadual Sergio Majeski devem marcar presença no evento “Conversas com Eduardo Leite” neste sábado em Vitória. Rigoni está para definir seu futuro partidário entre o PSDB e o DEM. E Majeski, que já foi do ninho, pode voltar. Os dois estão de malas prontas para deixar o PSB.