O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, em entrevista para o programa “De Olho no Poder”, na rádio Jovem Pan News Vitória nesta quinta-feira (30), minimizou os desentendimentos que têm ocorrido entre a Prefeitura de Vitória e o governo do Estado. Pazolini disse que dialoga com o governador, que tem o governo do Estado como “parceiro permanente” e que os conflitos entre a prefeitura e o Executivo estadual são coisas do passado.
“O diálogo é permanente com as equipes do governo do Estado. A prefeitura precisa muito da ajuda do governo (…) Tem que estar em sintonia, dialogando, interagindo e eu dialogo muito com o governador”, disse o prefeito.
A questão foi abordada na entrevista após o recente impasse envolvendo o projeto do aquaviário. O governo do Estado já tem todas as liberações de Cariacica e Vila Velha, mas as obras ainda não iniciaram porque a Prefeitura de Vitória requer um estudo de impacto de vizinhança.
Questionado, Pazolini admitiu a importância do aquaviário sair logo do papel, mas que não pode “praticar um ato ilegal”. “Nós temos uma lei de 2018, o PDU, que exige um estudo de impacto de vizinhança. Nossa equipe técnica explicou para a equipe técnica do governo, que reconheceu que esse estudo era necessário. Tanto é necessário que houve alteração no local de embarque e desembarque. A previsão inicial era que seria ali na Codesa, agora a previsão é que seja na Rodoviária. Nós sugerimos ao governo a assinatura de um Termo de Comum Acordo, nós encaminhamos esse termo e estamos aguardando a assinatura para dar início às obras. O aquaviário é extremamente importante para a Região Metropolitana, tem a prioridade da prefeitura, só não podemos praticar um ato ilegal”, disse Pazolini.
O imbróglio do aquaviário é o mais recente, mas não o único na relação entre o prefeito e o governador. Os desentendimentos entre os dois vêm de antes de Pazolini ser eleito prefeito, de sua época como deputado estadual da oposição – ou como prefere se nomear, “independente” – na Assembleia.
A origem
Pazolini foi eleito pelo antigo PRP em 2018, mesmo ano em que Casagrande também foi eleito. Pazolini foi o segundo deputado mais votado (43.293 votos), sobretudo, pela visibilidade que teve em sua atuação como delegado de proteção às crianças e aos adolescentes. Quando o PRP foi incorporado ao Patriota, no início do mandato (fevereiro de 2019), Pazolini deixou a legenda e não demorou muito para traçar um caminho oposto ao do governo do Estado.
A estrada divergente chegou ao ápice quando Pazolini e outros cinco deputados críticos ao governo do Estado visitaram o hospital Dório Silva, em junho de 2020, quando o hospital recebia pacientes de Covid. Segundo eles, a ida à unidade foi marcada após receberem denúncias de superlotação e de profissionais da saúde sem EPIs, mas a visita ocorreu um dia após o presidente Bolsonaro ter dito a seus seguidores, numa live, para dar um jeito de entrar nos hospitais e filmar. Na época, o governador chamou a ida dos deputados ao Dório Silva de invasão.
Após esse episódio, iniciou-se a campanha eleitoral e, embora Casagrande não tenha declarado, publicamente, apoio oficial a nenhum candidato a prefeito de Vitória, todo o mercado político sabia que as desavenças entre Pazolini e Casagrande não tinham sido superadas e que era grande o risco de virar um conflito institucional, entre a Prefeitura e o Palácio Anchieta, caso Pazolini fosse eleito.
Pazolini se tornou prefeito, montou sua equipe com muitos nomes vindos da gestão do ex-governador Paulo Hartung e pregou o diálogo. O início do mandato de Pazolini foi marcado por calmaria, até pelo fato do grupo do Republicanos – partido do prefeito – ter buscado apoio do governador para a reeleição da Mesa Diretora da Assembleia. Casagrande apoiou o presidente Erick Musso (Republicanos), com ressalvas, e a relação entre os dois grupos seguia alinhada. Mas o clima de paz e amor durou pouco. Em abril, a relação começou a se estranhar.
Pazolini deixou de participar das reuniões dos gestores com o governo para tratar de medidas de combate à Covid e passou a criticar as decisões tomadas pelo governador. Numa solenidade, subiu o tom contra as medidas restritivas de fechamento do comércio e anunciou a volta às aulas presenciais antes do anúncio estadual.
E as divergências não pararam por aí. Em maio, a Prefeitura embargou a obra do Novo Trevo de Carapina, no trecho da Rodovia das Paneleiras, alegando a ausência de licenciamento ambiental. Em junho, a Secretaria Estadual da Segurança reclamou que a prefeitura tinha limitado, aos policiais, as imagens do cerco eletrônico inteligente. Em setembro, novo embate sobre a cessão de um terreno de Vitória para a construção do Centro de Perícia da Polícia Civil. Em outubro, Vitória ficou de fora da distribuição de recursos de um fundo para a Educação. Em seguida, inúmeras alfinetadas sobre a segurança pública na capital até chegar na questão do aquaviário.
Ao ser perguntado se o morador de Vitória iria sofrer com os embates políticos entre prefeitura e governo, como num passado recente em que obras na capital foram paralisadas e moradores prejudicados por conta da briga entre prefeito e governador, Pazolini descartou.
“Isso é passado. Na nossa gestão o diálogo é permanente. Tenho aqui vários ofícios solicitando ajuda do governo em obras, convênios, emendas. Encaminhei ao governador e estou aguardando uma resposta, tenho certeza que chegará. A Prefeitura de Vitória tem o governo do Estado como um parceiro permanente, importante para o desenvolvimento da cidade, para cuidar da vida dos moradores”, disse o prefeito.
“Zero ruído”
No início do mês, quando também foi questionado no programa “De Olho no Poder”, o governador Renato Casagrande disse que não tinha, da parte dele, nenhum mal-estar ou ruído com o grupo do Republicanos – mais precisamente com o prefeito Pazolini e com o presidente da Ales, Erick Musso.
“Da minha parte não tem ruído nenhum. Zero de ruído. Quando um não quer, dois não brigam e eu não vou brigar com ninguém. Eu estou à disposição do prefeito Pazolini para trabalharmos juntos, estou fazendo um investimento em Vitória que Vitória nunca viu”, disse Casagrande que citou à coluna as obras na Terceira Ponte, no Portal do Príncipe, na Rodovia das Paneleiras, em hospitais da capital, entre outros.
“Vou ajudar o município na educação em tempo integral, já fizemos convênio para a construção de duas escolas. Então, da minha parte, é zero de problema. Eu não quero briga com ninguém, quero ajudar o Estado a se desenvolver. A eleição decide lá na frente, o que eu quero é a ajuda deles (Republicanos) para governar o Espírito Santo”, disse o governador à época.
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E em casa?
Pazolini também foi questionado sobre como estaria a relação com sua vice-prefeita, Capitã Estéfane. Em maio deste ano, numa rede social, o marido da vice comentou numa das fotos postadas por Pazolini que ele tentava “apagar” a imagem da vice.
“Estéfane é um quadro importante, tem uma história de vida muito bonita, de vitória. Eu entendo que às vezes somos ansiosos demais, é natural, é um aprendizado coletivo. Estamos amadurecendo juntos. Mas, são coisas da vida, eu não somatizo, acho que temos sempre que olhar para frente, errei muito também, já errei em outras circunstâncias. Tenho Estéfane como uma grande aliada e a agradeço muito pela coragem de estar conosco, de ajudar a administrar a nossa cidade”, disse Pazolini.
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Na íntegra
O prefeito Pazolini também falou sobre se vai ter ou não reajuste salarial a servidores, sobre a escola cívico-militar, sobre o surto de gripe que tomou conta da região metropolitana, da possibilidade de aumento da Guarda e do seu futuro político. Confira a entrevista na íntegra: