A votação da advocacia na disputa a uma vaga de desembargador (ou desembargadora) do Tribunal de Justiça pelo quinto constitucional deixou muita gente de boca aberta. A advogada de Itapemirim Elisa Galante, que ficou em 9º lugar na escolha dos conselheiros da OAB na formação da lista duodécima, foi a mais votada da lista sêxtupla, com 2.885 votos.
A votação ocorreu durante toda a segunda-feira (13) e a apuração – que foi acompanhada por parte da advocacia num telão instalado no Centro de Convenções – varou a noite. Elisa foi a única candidatura feminina escolhida entre os 12 nomes na disputa e, segundo ela, é a primeira mulher advogada a compor o topo da lista sêxtupla.
“Eu me sinto muito honrada pelo privilégio de estar no topo da lista. Eu tenho uma história institucional muito larga e minha estratégia para conquistar os votos foi ser eu mesma, transparente e afetiva. Isso gera reciprocidade”, disse Elisa.
Elisa é de Itapemirim, tem 56 anos e há 34 atua como advogada geral. Também é advogada municipal de Presidente Kennedy há 14 anos. Na OAB ela já foi presidente de subseção por três mandatos, conselheira estadual e conselheira federal. “Tenho uma história institucional muito larga, que mostra meu comprometimento com a advocacia”, disse. Ela já deu aula em faculdades e é especialista, mestre e doutora em Direito. “Foi a coisa mais difícil que eu fiz depois de criar minhas três filhas”, brincou. Elisa tem três filhas e três netos e uma história de muita determinação para trilhar a carreira.
“Eu tive as minhas três filhas na faculdade. Tive uma aos 17 anos e as gêmeas com 19 e me formei com 21 anos. Eu morava na roça, no interior de Rio Novo do Sul, andava mais de um quilômetro para poder estudar. Meu marido ficava com elas para eu poder ir para a faculdade”, contou Elisa. Em sua trajetória ainda consta a superação de um divórcio e do câncer de mama.
“A fase do câncer foi assustadora. Eu tinha minhas filhas, eu as criava sozinha, eu não podia ficar sem trabalhar. Fiz a cirurgia numa quinta-feira e três dias depois eu já estava trabalhando. Foram cinco anos de protocolo naquela angústia de que pudesse morrer, eu tinha 40 anos, tinha muitas obrigações que pesavam muito. Mas foi um paradoxo, porque depois do câncer, tudo ficou mais leve”, lembrou.
A advogada disse que “suspeitou” que seria bem votada no sábado (11). “No sábado, antes da votação, eu comecei a receber ligação, dos quatro cantos do Estado, pedindo meu material para fazer boca de urna voluntariamente”, contou. Ela admitiu que o fato de ser a única mulher também pode ter dado um “plus” – como ela mesmo diz – na votação. “Muitos falaram que o fato de eu ser mulher era bacana, mas que também votaram por causa do meu currículo”.
Elisa, porém, nem parou para comemorar. Ontem passou o dia visitando e se apresentando aos desembargadores. Hoje as conversas devem continuar. A lista sêxtupla será encaminhada nesta quinta-feira (16) ao Tribunal de Justiça que deve afunilá-la, em votação, e formar uma lista tríplice na sexta-feira, dia 17. Os três nomes, então, serão enviados ao governador Renato Casagrande, que é quem define quem irá ocupar a cadeira, destinada à advocacia, no TJ-ES.
Os seis nomes
Além de Elisa, também fazem parte da lista sêxtupla, por ordem de votação, os advogados: Vinícius Pinheiro, que recebeu 2.226 votos e foi o 2º mais votado, mas que na escolha dos conselheiros da OAB ficou em quarto lugar; Anderson Pedra foi o 3º mais votado (2.213 votos), mas na escolha dos conselheiros ficou em último lugar (12º); Alexandre Puppim teve 2.073 votos, foi o 4º mais votado pela advocacia e o 5º, pelos conselheiros; Raphael Câmara, que foi o mais votado pelos conselheiros, recebendo todos os 41 votos, ficou em 5º lugar pela votação da advocacia (2.047 votos), e Samir Nemer fechando a lista sêxtupla, com 1.856 votos, tendo ocupado a mesma 6ª colocação na votação dos conselheiros.
“Parabenizo a doutora Elisa Galante que de forma destacada ficou em primeiro lugar e está aqui, presente, num gesto de humildade acompanhando o resultado. Muito obrigado e parabéns. Agradeço, também, aos 4 mil advogados e advogadas que estiveram em todo o estado do Espírito Santo votando e exercendo esse direito democrático de uma vaga que não nos foi dada, foi exigida ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ)”, disse o presidente da OAB-ES, José Carlos Rizk, após o anúncio do resultado da votação. Foram 22.608 votos válidos, 109 nulos, o que representa, segundo a OAB-ES, 3.877 votantes.