A secretária estadual de Turismo, Lenise Loureiro, marcou para as 18 horas desta terça-feira (25) uma reunião com representantes do setor de entretenimento no Estado. Vão debater a possibilidade de mudança ou de substituição das regras hoje estabelecidas para os municípios em risco moderado.
De acordo com o mapa de risco vigente nessa semana, cinco municípios – entre eles Serra e Vila Velha – estão no risco moderado que estabelece, por exemplo, horário limitado para o funcionamento de bares e restaurantes. Essa e outras regras têm tirado o sono de comerciantes desde sexta-feira, quando o mapa de risco foi anunciado, embora os números apontem que a contaminação está em alta chegando a um aumento de novos casos de 400% só na Serra.
A secretária admite que a pandemia está em um outro momento e que as medidas precisam ser atualizadas. “Nesse momento da pandemia é necessária uma releitura dessas regras, já que temos um cenário diferente da Covid, com alta transmissão e agravamentos em menor escala. Para tanto, eu convidei quem quisesse dialogar, porque o momento exige um pacto social para conter o ritmo da pandemia, construindo caminhos mais eficazes de controle, que possa ter de fato a colaboração da sociedade”.
Ela afirmou que as regras podem mudar: em vez de focar na limitação do funcionamento, focar na vacinação e na testagem, por exemplo, com os estabelecimentos cobrando dos clientes o comprovante de vacina – medida essa que também encontra resistência por parte dos comerciantes.
“Vamos ter um momento de escuta dos representantes do setor de entretenimento, refletir sobre a atualização das regras, ampliar a cobertura de vacinação. A reunião não é deliberativa, depois vamos levar para a Sala de Situação, onde outros atores irão deliberar”, explicou Lenise. Durante a reunião marcada para hoje, haverá explanação dos técnicos da Saúde sobre os números da pandemia no Estado.
O que Lenise garantiu é que não há, entre as tratativas, nenhum indicativo de aumentar as restrições de funcionamento ou promover um lockdown, fechando o comércio como ocorreu em outros momentos de pico da pandemia. “Não falamos em momento nenhum de limitar horário do setor produtivo. Nós queremos é cuidado com as pessoas”.
A brecha
Na manhã de segunda-feira (24), o presidente da Assembleia, Erick Musso, gravou e espalhou um vídeo em que diz ser contra aplicar medidas de fechamento das atividades de comércio e serviço novamente no Estado. Afirmando ter recebido mensagens de representantes do comércio, das indústrias e do setor de serviços, ele disse que a Assembleia “vai agir” contra uma suposta imposição de medidas restritivas e aproveitou para criticar a gestão.
“Estou recebendo muitas mensagens de comerciantes, representantes de serviços com medo de uma possível ameaça de fechamento das atividades comerciais, industriais e de serviços no Espírito Santo. Já quero deixar aqui meu posicionamento contra. Já temos visto falas de membros do governo de que o governador iniciará essa semana várias reuniões com o intuito de convencer e de organizar novos fechamentos no Estado. Sabemos que essas medidas não são as mais eficazes e eficientes. Temos a compreensão que é preciso continuar avançando na vacinação, o Espírito Santo já foi o terceiro em vacinação no país e hoje está perdendo essa corrida por falta de planejamento, eficiência e eficácia”, alfinetou.
“Se essas medidas (lockdown) forem tomadas pelo governador, nós vamos agir dentro da lei. Dentro das nossas possibilidades, para que a Assembleia tome seu posicionamento de ir contra essas decisões, se elas forem tomadas”, afirmou o presidente da Ales.
Questionado sobre quem teria passado essas informações e por mais detalhes, já que interlocutores do governo negam a possibilidade de um novo lockdown, Erick disse apenas que a informação que ele teve é que as conversas já se iniciaram com a indústria e o comércio.
Nas redes sociais, onde postou o vídeo, muitos comentários de pessoas preocupadas com um possível fechamento das atividades. A secretária Lenise foi questionada sobre a publicação de Erick, no que respondeu: “É muita política. Em nenhum momento nós falamos em limitar o horário de funcionamento do setor produtivo”, rebateu.
No ano passado, o presidente da Ales também se posicionou, ao lado do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, contra o fechamento do comércio. A medida, altamente impopular, foi tomada pelo governador no pior momento da pandemia no Estado – entre os meses de março e abril. Assim como no ano passado, há um número crescente de registro de casos positivos da doença, mas diferente de 2021, os número de óbitos e de internações hospitalares hoje são bem menores, devido à cobertura vacinal, como atestam especialistas.
Assim como no ano passado, a questão sobre o funcionamento de determinadas atividades durante o risco moderado deve ganhar contornos maiores. Não só por conta da polêmica inerente da questão, mas também porque 2022 é ano eleitoral e o tema tem tudo para virar a principal bandeira (e palanque político) de alguns políticos, de um lado e de outro. Erick viu a oportunidade e já se posicionou, ainda que, publicamente, não haja indícios de aplicação das tais medidas restritivas.
E a base?
No vídeo, Erick Musso fala em nome da Assembleia e diz que a Casa terá posicionamento contrário ao do governo, caso “essas decisões sejam tomadas”, referindo-se a supostas medidas de lockdown. O governador tem ampla maioria na Casa. Sua base aliada conseguiu aprovar todos os projetos enviados pelo governo até hoje. Difícil imaginar a base votando contra o governador.
Porém, como já foi dito, trata-se de um ano eleitoral. Projetos impopulares às vésperas da eleição tendem a ficar engavetados – ainda mais num ano atípico em que a pouco mais de 8 meses do pleito, tudo está indefinido, com partido sem saber se vai coligar ou federar. Em outras palavras, a base é fiel, mas é melhor não abusar!