Após quase três meses de negociação, com muitas idas a Brasília e conversas ao pé do ouvido com a família Bolsonaro, o ex-deputado Carlos Manato finalmente conseguiu sacramentar sua filiação ao PL, mesmo partido do Presidente da República e comandado, no Estado, pelo ex-senador Magno Malta. Manato também foi anunciado como pré-candidato ao governo pela legenda.
A filiação ocorreu na tarde desta terça-feira (22), no auditório do Hotel Sheraton, em Vitória, foi acompanhada por mais de 300 pessoas – muitas sem máscara – e contou com a presença do vice-presidente nacional do partido, Capitão Augusto, além de Malta e dos deputados estaduais Capitão Assumção e Danilo Bahiense, que também se filiaram ao PL. A deputada federal Soraya Manato, os estaduais Torino Marques e Carlos Von, além de alguns vereadores da Grande Vitória, também estiveram presentes.
No evento, a imprensa foi recebida com uma “Carta à sociedade capixaba” de Manato, uma espécie de carta de intenções do pré-candidato, que se iniciou com um “houve um tempo em que os homens eram gentis e suas vozes eram suaves…”. No documento, Manato se colocou como uma alternativa ao que seu grupo chama de “duopólio de feudos políticos que se reveza no Estado há 20 anos”.
Acenou para investidores, sinalizando que sua agenda apontará para geração de emprego e renda, crescimento econômico e amparo social. “Para pensar o futuro, é preciso calma”, disse ele na carta, terminando com uma citação do poeta Mário Quintana.
O evento começou, tendo como primeiro ato a coletiva de imprensa. Embora o evento fosse para o anúncio da filiação e da pré-candidatura ao governo do ex-deputado, Manato só compôs a mesa. A maioria das perguntas foi respondida por Magno Malta.
Questionados sobre o motivo da demora numa decisão para a filiação de Manato, o ex-senador respondeu que “tudo na vida depende de paciência”. “Não era o tempo, o tempo é esse”, disse Malta ressaltando a data de ontem: “22 do dois de 2022”, além de dizer que esse ano completa 22 anos no partido. O número de urna do PL é 22.
Perguntados também se há conversa com outros pré-candidatos ao governo e se há a possibilidade de união em torno de uma única candidatura, Malta disse que já conversou com todos. “Precisamos caminhar juntos, lá na frente terá o afunilamento”, afirmou.
Mas se na coletiva Manato guardou as palavras (de livre e espontânea vontade ou não), no discurso ele soltou o verbo. Não seguiu o combinado por sua assessoria de marketing e improvisou. Foram 20 minutos de um discurso voltado para a plateia e para aquilo que a plateia, de verde e amarelo, queria ouvir.
Manato apresentou alguns pontos do que já seria o rascunho de seu programa de governo. Disse que vai ter um projeto para o Estado, mas diferente do projeto “que mata CPF e que mata CNPJ”. Que vai dar continuidade às obras já iniciadas, mas não sem antes auditá-las. Disse que vai dar “salário digno” aos policiais e que serão as forças de segurança que irão desenhar o projeto. “Não vou trazer ninguém de fora, não”, bradou.
O “ponto alto” foi quando Manato disse que o Espírito Santo vai ser o maior “exportador de bandidos”. “Se vier do Rio pra cá volta no caixão”, disse, aos gritos, para a loucura da militância. Falou também sobre a criação de um teleférico no Convento da Penha, sobre mais escolas cívico-militares, sobre zerar e congelar os impostos que incidem no gás e nos combustíveis.
Elogiou o ex-senador Magno Malta por “bater no peito e enfrentar o STF”. Tratou de pautas caras ao bolsonarismo, num tom de voz acima do que normalmente costuma usar e num rumo bastante diferente e mais extremado ao que, primeiro, apresentou na “Carta à sociedade capixaba”.
Resta saber, agora, qual Manato vai subir o palanque durante a campanha: o da carta ou do discurso? Porque isso também deverá definir quem serão seus aliados e seus eleitores.
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Ficha gigante
Manato levou uma ficha de filiação gigante para seu ato de entrada no PL. Chamou tanto a atenção que muitos da plateia quiseram tirar foto com ela. Antes, porém, Manato apresentou vídeos de apoio dos ministros Tarcísio (Infraestrutura) e Queiroga (Saúde), de deputados federais e do presidente Bolsonaro.
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No 4º casamento
Manato está em seu quarto partido. Ele já foi, durante a maior parte do tempo, do PDT, onde exerceu três mandatos de deputado federal (2003-2014). Depois se filiou ao Solidariedade, quando foi eleito, para o seu quarto mandato (2015-2018). Em 2018 se filiou ao PSL, ex-partido do Presidente da República, onde disputou a eleição para o governo e, agora, chega ao PL.
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Torino é o próximo?
O deputado estadual Torino Marques (União Brasil), que participou do evento de filiação de Manato, disse que vai esperar a janela partidária para decidir se continua no partido – o União é a fusão entre DEM e PSL – ou se muda também para o PL, como os colegas Capitão Assumção e Danilo Bahiense. Os três vão disputar a reeleição.