Assim que os áudios atribuídos ao deputado estadual paulista Arthur do Val (Podemos-SP), o “Mamãe Falei”, ganharam proporção nas redes sociais, o senador Marcos do Val (Podemos), correligionário do deputado, se manifestou. O capixaba repudiou as falas do colega que disse que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres”.
Mamãe Falei faz parte do MBL e está na Ucrânia com a justificativa de reportar informações e ser voluntário na região. O movimento arrecadou R$ 180 mil com a finalidade de ajudar os refugiados da guerra e os civis a resistirem aos ataques russos.
Num áudio enviado a outros integrantes do movimento, Arthur faz comentários sobre as mulheres ucranianas. “Vou te dizer, são fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’, e é inacreditável a facilidade”, diz parte do áudio.
“Ele, em sua fala irresponsável descreve suas impressões sobre as mulheres ucranianas de forma machista, inescrupulosa e sexista. (…) Tenho mãe, irmã, esposa e filha. Jamais poderia deixar de expressar meu sentimento de indignação com tal comportamento”, disse o senador, que fez questão de dizer que não é parente do deputado, que tem o mesmo sobrenome que ele.
“Aproveito para reforçar a todos que eu e o deputado Arthur do Val, nem de longe, temos qualquer parentesco. Apenas a coincidência do mesmo sobrenome”. Há quatro anos, o senador participou de uma entrevista no canal do MBL e Arthur do Val brincou com o sobrenome igual.
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“Tchau, querido!”
Outro que foi rápido também na manifestação às falas do deputado Arthur do Val foi o ex-ministro Sergio Moro, presidenciável do Podemos, que tem, ou pelo menos tinha, o MBL como parte do seu corpo de apoio.
Sentindo o potencial de destruição que o episódio pode trazer à sua imagem e à pré-candidatura, Moro tratou de se afastar: não só repudiou as falas, como disse que “jamais” dividirá o palanque e dará apoio a “pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento” e cobrou um posicionamento do seu partido.
“Jamais comungarei com visões preconceituosas, que podem inclusive ser configuradas como crime. Meu respeito incondicional às mulheres em geral e às ucranianas”, diz parte da nota que publicou nas redes sociais. Há três dias (quarta-feira), Moro havia elogiado a ida de Arthur do Val e do coordenador do MBL, Renan Santos, para a Ucrânia.
“O deputado Arthur do Val e Renan Santos, do MBL, decidiram reportar in loco o conflito na fronteira da Ucrânia. Também angariaram ajuda financeira para amparar refugiados. É sempre louvável quando saímos do discurso e partimos para a prática”, escreveu Moro em seu Twitter.
No áudio vazado, o deputado paulista diz também que após a guerra vai voltar ao país – numa fala de cunho sexual, referindo-se às mulheres, e acenando para uma prática conhecida como turismo sexual – e que Renan já teria o hábito de viajar, todo ano, para um “tour blonde”, nas palavras de Arthur, “para pegar loiras”.
O Podemos nacional – que é presidido por uma mulher, Renata Abreu – classificou como inaceitáveis as falas do deputado e informou que abriu um procedimento disciplinar interno para apurar a conduta do deputado.
O presidente do Podemos capixaba, Gilson Daniel, disse que tem o mesmo posicionamento da nacional. O partido ainda não se posicionou, porém, se a pré-candidatura de Arthur ao governo paulista (maior colégio eleitoral do país) ainda está de pé, uma vez que Moro já se posicionou que não irá dividir palanque com o deputado.
Esse já é o segundo episódio de desgaste envolvendo membros do MBL e o presidenciável Sergio Moro, o que abriu uma crise interna no Podemos, tendo em vista que Moro sempre é instado a se manifestar, já que o MBL é um dos fiadores de sua pré-candidatura.
O primeiro caso foi com o deputado federal Kim Kataguiri (Podemos) que disse, num podcast, considerar que a Alemanha errou ao criminalizar o partido nazista. Na ocasião, Moro disse que o parlamentar cometeu um erro brutal, mas amenizou o episódio tendo dito que a declaração de Kim não refletia o que ele pensava.
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Tem salvação ou é caso perdido?
Desde a noite de sexta-feira (04), a repercussão das falas do deputado Arthur do Val vem numa avalanche negativa. Os áudios vazaram quando ele estava num voo, voltando da Ucrânia para o Brasil, e até integrantes do MBL – movimento que ele faz parte – repudiaram as declarações, consideradas repugnantes e ofensivas, não somente às ucranianas como a todas as mulheres.
A coluna De Olho no Poder questionou a um consultor de imagem se o caso do deputado Arthur do Val, que é pré-candidato ao governo de São Paulo, é possível de reversão ou se é um caso perdido, uma vez que a repercussão tomou grandes proporções na opinião pública, a ponto de se debater até uma possível cassação do mandato do deputado – a comunidade ucraniana no Brasil defende a perda do mandato por quebra de decoro.
“Uma crise toma proporções ainda maiores quando não há um contraponto. Todos, e principalmente os envolvidos, têm direito à defesa. Se não há a versão oficial, a verdade dos outros prevalece. E uma defesa não é necessariamente – nem deve ser – uma desculpa; muitas vezes precisa ser um ‘mea culpa’, e esse me parece ser o caso do Arthur do Val. Nada que ele disser vai apagar o passado, mas uma assunção de culpa pode minimizar os impactos na imagem dele”, disse o consultor de imagem, reputação e gerenciamento de crises, Fernando Carreiro.
Quando os áudios vieram à tona, Arthur do Val estava em voo, retornando para o Brasil. Sua assessoria chegou a ser procurada, mas como alegou não ter conseguido entrar em contato com o deputado, não houve manifestação por parte dele. Assim que chegou ao país, o deputado admitiu que os áudios são dele e que errou, dizendo porém, que não é isso o que ele pensa sobre as mulheres ucranianas.
“A sociedade precisa começar a normalizar os erros. Todos nós erramos, mas temos o dever – alguns deles legais e constitucionais – de assumi-los. E pagar por eles”, disse Carreiro, dando como exemplo a reação do ex-governador de São Paulo Paulo Maluf após ter falado “estupra, mas não mata” e ser acusado de defender o estupro.
“Duda Mendonça (marqueteiro) fez Maluf dizer que o contexto da declaração dele era outro. Colocou-o sentado ao lado da esposa, das filhas e das netas. Era um caso perdido, mas foi rápido e venceu aquela eleição. A falta da versão oficial, de forma rápida e eficiente, sem dúvida, é o maior erro que uma figura pública pode cometer durante uma crise”, avaliou Carreiro.