As movimentações políticas das últimas 48 horas, com a possível entrada de um novo player no jogo da disputa eleitoral, a perda de um partido grande no leque de alianças e a cobrança de um aliado para fazer parte da majoritária no projeto que será liderado pelo governador tiraram da zona de conforto os articuladores do Palácio Anchieta.
Não que a primeira semana da janela partidária – que muitos acreditam ter antecipado as definições que ocorreriam somente a partir de junho – tenha tirado o sono de alguém, mas, nos bastidores, ela acendeu a luz amarela de alerta.
Na última quinta-feira (10), o superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas, admitiu, em entrevista para o programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes” que pode disputar o governo do Estado. Embora não tenha dito por qual partido, nos bastidores, ele estaria bem próximo do PSD, assim como seu mentor, o ex-governador Paulo Hartung.
De todos os pré-candidatos já colocados, Ricas – se for mesmo concorrer – chega com o manto da “novidade”. Não é do meio político, não tem um passivo de rejeição, transita bem entre bolsonaristas, moristas (seguidores de Sergio Moro) e tem potencial para abocanhar boa parte dos votos de centro-direita.
Se numa primeira análise, a possível entrada de Ricas no jogo poderia significar uma fragmentação e um embaralhamento entre os opositores do Palácio Anchieta, num segundo momento, sua pré-candidatura é vista também como uma que pode roubar ou dividir votos que seriam de Casagrande.
Isso porque o governador está à frente de um projeto para reunir, numa frente ampla, lideranças de esquerda, de centro e de direita para o processo eleitoral. Embora não tenha admitido ainda que será candidato à reeleição (mas o PSB admite), Casagrande disse que vai liderar esse projeto que tem como característica ser esse “guarda-chuva” com diversos partidos.
Representando a centro-direita, Casagrande já tem com ele o PP e o Podemos. Mas, pode perder o PSD – com quem já vinha negociando – se Ricas se filiar ao partido, da mesma forma que acabou de perder o União Brasil.
Abandono no altar
Às vésperas do União Brasil ser formado (pela junção do DEM e do PSL), havia um acordo apalavrado, pelo então presidente do DEM, ACM Neto, de que o ex-senador Ricardo Ferraço seria o presidente do União Brasil no Estado.
Em cima dessa palavra, Ricardo já se movimentava politicamente para formar a chapa federal – já que a deputada federal Norma Ayub é pré-candidata à reeleição – e também para posicionar a nova sigla – que tem a maior bancada no Congresso – numa boa conjuntura majoritária.
Embora tenha negado à coluna, nos bastidores, as negociações davam conta que Ricardo estaria na disputa para ocupar o posto de vice na chapa de Casagrande. Os dois estavam mais próximos a ponto de Ricardo até participar de algumas agendas oficiais do Palácio Anchieta.
Porém, a entrada do deputado federal Felipe Rigoni e sua pré-candidatura ao governo mudaram o cenário e criaram um impasse interno na nova sigla que culminou com a retirada do União Brasil das mãos de Ricardo, conforme a coluna noticiou com exclusividade na sexta-feira (11).
Nos bastidores, há quem desconfie que Rigoni contou com ajuda externa – leia-se, o ex-governador Paulo Hartung – para tomar o partido de Ricardo, mas o deputado nega. Fato é que, à frente do União Brasil, Rigoni vai tocar sua pré-candidatura ao governo – semana que vem vai reunir a imprensa para dizer qual o rumo agora do partido – e as chances do União caminhar com Casagrande são mínimas.
Pressa no casamento
Se com os de fora a relação anda esfriando, com os partidos de dentro de casa, a pressão aumenta. Nessa sexta-feira (11), o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP), veio ao Estado para a filiação do coordenador da bancada federal capixaba, Josias da Vitória, ao PP.
Na parte da manhã, Lira participou, ao lado do governador e de representantes de outros poderes e segmentos, de uma audiência pública da Câmara Federal para debater a economia do Espírito Santo. Em entrevista após o evento, Lira falou sobre o projeto, aprovado no Senado, que cria um subsídio para conter a alta dos combustíveis, e disse também que o PP nos estados tem autonomia para decidir com quem caminhar. Ao lado do governador Casagrande, disse: “Aqui, o PP soube escolher bem”.
Lira e a cúpula do partido – com exceção do deputado federal Evair de Melo – almoçaram com o governador Renato Casagrande no Palácio Anchieta e no evento de filiação, Lira chegou a dizer que cobrou do governador um posicionamento com relação ao PP.
Ao elogiar a entrada de Da Vitória ao partido, Lira disse ao microfone: “Eu cobrei hoje do governador Casagrande uma posição para o PP com ele (Da Vitória) junto na chapa majoritária, no tempo e na hora da conveniência política. Nós não devemos açodar os debates e os assuntos, tudo tem seu tempo, mas eu tenho certeza que pelo crescimento, amadurecimento e pela competência dos quadros, o PP do Espírito Santo estará junto com o governador Casagrande na coligação e na presença da majoritária”, disse Lira, sendo interrompido por aplausos.
Ao término do evento, ao ser questionado pela coluna sobre a “cobrança”, Lira amenizou o tom. “Não, eu não cobrei. Se eu falei cobrei, estou retificando, porque eu não posso cobrar nada. Nós fazemos parte da base, o partido irá crescer e eu penso que crescendo pode ter um espaço, para ser conversado num momento adequado”, disse Lira.
Esse “espaço” seria a indicação do nome de Da Vitória ao Senado. Lira repete o discurso do capixaba que, em entrevista para o programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes” afirmou que o PP busca indicar o nome de vice ou de Senado na chapa de Casagrande.
A busca de espaço por parte de um aliado é legítima, em todas as negociações. Mas, principalmente quando feita publicamente, acaba criando um embaraço para o governo que tem, em sua base aliada, outras siglas e lideranças que pleiteiam o mesmo espaço – como o Podemos e o MDB. As peças começam a se movimentar, mas o jogo está só no começo.
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Aí, tem!
Não passou batido para o presidente da Câmara Federal, Arthur Lira, as falas efusivas dos deputados federais André Fufuca (PP-MA) e Cláudio Cajado (PP-BA), sobre o Espírito Santo. Cajado chegou a declamar um poema em homenagem à mulher capixaba. “Meus amigos estão muito animadinhos com o Espírito Santo”, brincou Lira.
Prestigiado
Alguns parlamentares de outras legendas prestigiaram o evento, entre eles estavam os deputados estaduais: Bruno Lamas (PSB), Zé Esmeraldo (União Brasil), Janete de Sá (PMN), Marcelo Santos (Podemos), Coronel Quintino (União Brasil) e Adilson Espíndula (PTB) – que ontem, também, perdeu o comando do PTB-ES no Estado, após mais uma decisão judicial. O deputado federal Neucimar Fraga (PSD) também estava presente.
Evitar a fadiga
O governador Renato Casagrande não participou do evento do PP. Nos bastidores, ele não deve participar de nenhum evento partidário para evitar conclusões precipitadas e ciúme entre os aliados.
Povo com fome
O evento de filiação, marcado para iniciar às 13h, começou com mais de 1h30 de atraso. Ao dar uma palavra de saudação após se filiar ao PP, o deputado Marcos Madureira disse aos seus: “Quero agradecer ao pessoal que veio de longe, está sem almoço, mas depois eu vou dar almoço a vocês”.
Carnaval fora de época
A deputada Raquel Lessa não economizou na claque. Quando seu nome foi anunciado para assinar a ficha de filiação, a torcida se levantou com vuvuzelas, lança-confetes, apitos e muitos gritos de apoio.
Carnaval fora de época II
Durante o evento de filiação do deputado Da Vitória ao PP, assim que assinou a ficha, entrou uma batucada que percorreu o auditório do evento e por pouco não transformou o local num barracão de escola de samba.