Audifax quer o Psol, mas o Psol quer Audifax?

Audifax Barcelos

O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos, que é pré-candidato ao governo, não esconde que está animado com a possibilidade da Rede, seu partido, federar com o Psol. Na semana passada, a Rede aprovou, por unanimidade a possibilidade de fechar a federação.

No campo pragmático, o “casamento” resolve parte dos problemas que Audifax tem hoje para se viabilizar na disputa ao Palácio Anchieta. A federação dá ao ex-prefeito fôlego em tempo de TV e de rádio e de recursos. Audifax deve ser o único candidato a governador pela Rede do país, o que pode fazer com que ele receba uma atenção “diferenciada” também por parte da legenda. Além disso, a federação resolve a questão da falta de nomes competitivos para preencher as chapas de estadual e federal. E isso para os dois partidos.

Audifax tem consciência disso e foi bastante franco ao falar sobre o tema na tarde de ontem (17), durante entrevista ao programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz). “Tem um aspecto muito positivo pra nós como partido, sendo bem pragmático, precisamos do tempo de TV. Há coisas que unem os dois partidos, como a questão ambiental, dos princípios, a conduta ética, não é um partido que a gente tenha vergonha, muito pelo contrário, mas além disso também resolve uma limitação que a gente tem. Não sabemos o que o Psol vai resolver, estamos tentando fazer que haja um casamento normal”, disse Audifax.

Audifax, porém, fez uma ressalva. “Nosso projeto é estadual e não está vinculado a projeto nacional nenhum. Eu tenho autonomia do meu partido aqui no Espírito Santo. Por exemplo, chegou em maio ou agosto, a federação escolher um candidato a presidente, eu tenho autonomia para ficar com outro candidato”. Como a possibilidade de a federação Rede+Psol apoiar o ex-presidente Lula é grande, Audifax já se antecipou: “Podemos apoiar ou não apoiar”.

Essa “autonomia” que Audifax diz ter da Rede, porém, pode ser questionada, uma vez que no entendimento de alguns juristas, a partir da resolução do TSE, se uma federação decide por apoiar determinado candidato a presidente, os estados precisam seguir essa orientação, não podendo apoiar publicamente outro candidato, nem fazer material casado com outro. O Psol, por sua vez, entende da mesma forma.

“Não existe brecha na legislação que libere estado A ou B de apoiar uma candidatura fora da federação”, disse o presidente do Psol capixaba, Toni Cabano. Ele contou que há uma resolução do partido que prevê uma candidatura própria do Psol no Espírito Santo, mas que isso pode ser revisto. Ele também disse que não há consenso no Estado para o apoio a uma candidatura de Audifax ao governo. E é nesse ponto que a animação de Audifax pode esfriar.

O Psol é um partido ideológico, tanto que, em sua trajetória política fez poucas coligações e também poucas concessões. Tem bandeiras bem definidas e uma posição no espectro político progressista, de esquerda, bem consolidada.

Questionado se adotaria algumas das bandeiras políticas do Psol em sua campanha, caso vingue a federação, Audifax se esquivou, afirmando que é tachado de ser de esquerda (pela direita) e de ser de direita (pela esquerda). Porém, para o Psol, há uma resistência interna no partido em apoiá-lo.

“A direção nacional vai debater. Mas aqui no Espírito Santo, o Psol tem receio com relação a essa federação e eu acredito que o partido aqui não será favorável. Vamos encaminhar um documento para a nacional até o final do mês, após ouvir nosso diretório e o Audifax. Nada contra ele, mas ser candidato a governador do Psol é outra história”, disse Toni.

Durante a entrevista, Audifax foi questionado sobre essa resistência do Psol. Disse que vai respeitar a decisão que o partido tomar. “Encaro com muita tranquilidade, ninguém é obrigado a apoiar ninguém, estamos em plena democracia, respeito a decisão que for tomada em nível nacional e aqui no Estado. Se a estadual entender que tem outro projeto melhor que o nosso – eu digo que não tem –, mas vou entender e respeitar. Já estive com a Camila Valadão algumas vezes, me atendeu muito bem, foi uma conversa boa, democrática, respeitosa, pedi uma agenda com o Psol e estou esperando”, disse Audifax.

Com federação ou não, o ex-prefeito já marcou data para lançar sua pré-candidatura ao governo: dia 30 de abril, conforme anunciado por ele no programa. Diz que tem conversado com outros pré-candidatos, para uma composição, mas evitou dizer se poderá abrir mão em favor de outro projeto.

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Ontem aliado, hoje adversário

Questionado sobre a possibilidade de concorrer contra seu ex-aliado – já que o senador Fabiano Contarato (PT) também lançou pré-candidatura ao governo, e se tem conversado com ele –, Audifax tratou de enfatizar que foi a Rede que praticamente elegeu Contarato ao Senado. “Nós é que colocamos o nome dele para candidato, nós demos a estrutura para ele virar senador como virou, mas bola pra frente. Sempre tive o passado como medida mínima para o meu futuro. Ele vai vir candidato a governador? Respeito se ele vier, mas tenho dúvidas. Mas, não tenho conversado com ele, não. A última conversa que tive com ele foi no ano passado, no aeroporto, para tratar da saída dele da Rede”, disse.

 

Ontem aliado, hoje adversário, amanhã aliado de novo?

Já sobre a possibilidade de fazer as pazes com o atual prefeito da Serra, Sergio Vidigal, de quem foi aliado até 2008 – quando a aliança foi rompida e começou uma guerra entre os dois grupos na cidade –, Audifax foi mais generoso. Questionado se seria possível os dois voltarem a ser aliados, Audifax respondeu: “Total, gostaria muito. É bom ter paz, até como cristão preciso dar bom testemunho. Não sou candidato a prefeito, preciso muito da Serra. Como governador, vou ajudar a todos, mas vou ajudar a Serra. Vou buscá-lo, como governador, porque quero viver em paz. De verdade, não estou falando da boca pra fora”.

 

Na íntegra

Audifax também falou sobre a origem do seu nome, sobre pontos do seu governo, as principais divergências que tem com o governo do Estado e a relação com o ex-governador Paulo Hartung. A entrevista na íntegra pode ser conferida aqui: