Foi feia a briga no grupo de WhatsApp batizado de “Frente Progressista” entre lideranças petistas e socialistas durante o final de semana. Foram troca de acusações e ofensas, lavagem de roupa suja e petistas deixando o grupo. Se depender dos ânimos no grupo é bem capaz de PT e PSB, que há até pouco tempo ensaiavam uma federação, estarem em lados opostos.
Tudo começou com a repercussão das recentes declarações, em entrevistas, da presidente do PT-ES, Jackeline Rocha, descartando qualquer possibilidade de caminhar com o PSB no primeiro turno e tecendo críticas à gestão Casagrande. A possibilidade, aventada por ela, do PT fazer uma aliança com Rede e PSD – este visto como “partido de Hartung” no mercado político – causou ruídos e indignação no ninho socialista.
Para o programa “De Olho no Poder com Fabi Tostes”, na rádio Jovem Pan News Vitória, Jackeline disse que estava em conversas com a Rede e já tinha até falado com Audifax e também com o PSD e com Guerino. Ela também criticou a gestão Casagrande, citando supostas falha nas políticas públicas, por exemplo, para combater crimes de feminicídio.
Não que a relação entre PT e PSB estivesse as mil maravilhas, pelo contrário. Desde a visita do ex-ministro Sergio Moro à Residência Oficial do governador Casagrande, que o que mais se vê é alfinetada pra lá, indireta pra cá, troca de acusações para todo lado. Mas, parece que o caldo, agora, entornou.
No sábado (23), em postagem no grupo, o ex-secretário de Ciência Tyago Hoffmann chegou a dizer que faltava decência a “essa turma”, referindo-se às críticas de Jackeline à gestão e citando que o PT ocupa cargo no governo. Como resposta, o ex-deputado Roberto Carlos (PT) deixou o grupo. “O Tyago Hoffmann fez uma fala desrespeitosa em relação à presidente do PT e também generalizou, achei que não caberia resposta a não ser eu me retirar”, disse Roberto Carlos ao ser questionado pela coluna “De Olho no Poder”.
A discussão continuou com Hoffmann questionando se a aliança do campo progressista era só nacional, se aqui no Estado o PT não teria que se juntar ao PSB. Outro socialista, Pablo Lira, disse que é hora de somar esforços no campo progressista e não atacar e desagregar e chamou de “desserviço” as falas de Jackeline.
Rafael Primo, que foi gerente de Políticas de Promoção, Direitos e Cidadania na Secretaria de Estado de Direitos Humanos, e saiu para disputar a Câmara Federal pelo PT, saiu em defesa do diálogo, criticou o tom da conversa, afirmou que era a segunda onda de ataques ao PT e também deixou o grupo.
A discussão começou no sábado, mas rendeu até a noite de ontem. Outras lideranças do PSB disseram que irão levar para o congresso nacional socialista o posicionamento do PT local. Integrantes de outras legendas, que também estão no grupo, lamentaram dois dos maiores partidos do campo progressista estarem em pé de guerra.
O presidente do PSB, Alberto Gavini, até tentou acalmar os ânimos: “Apenas como informação, estamos conversando com todos os partidos, inclusive o PT. Ainda temos tempo”. Mas, foi em vão. Os nervos estavam à flor da pele, com petistas e socialistas vomitando tudo que parecia estar engasgado há muito tempo.
Hoffmann, que estava incisivo na defesa do governo Casagrande, chegou a dizer que desistiu de tentar entender o PT e que tinha nojo da sigla. A fala causou espanto e a saída, do grupo, de outro petista. Fez também outras pessoas entrarem na discussão e criticarem a postura do ex-secretário, que foi chamado de arrogante, fracassado e hipócrita. Teve quem, inclusive, pedisse punição a Gavini pelas falas de Hoffmann. “Petistas falarem em arrogância chega a ser hilário”, rebateu Hoffmann.
“A presidente do PT foi infeliz com as palavras. É incoerente esse açodamento e precipitação. Deveria estar somando forças com os representantes do campo progressista. Quando ela critica infundadamente um governo progressista está fazendo um grande favor à extrema-direita. Mesmo em um possível cenário com candidatos do PT e PSB, é um grande equívoco os dois partidos baterem cabeça. Os verdadeiros adversários estão no campo da direita radical”, disse Pablo Lira (PSB) à coluna.
A corda esticada não deve ficar restrita ao grupo, tanto que questionamentos foram feitos se o posicionamento de Hoffmann e de outros membros do PSB representavam a visão do governo e de Casagrande sobre o PT.
A leitura nos bastidores é que a candidatura própria do PT com Contarato – que também foi citado na discussão do grupo – leva a disputa do governo do Estado para o segundo turno. No PSB há quem defenda que se o PT se unisse ao PSB, Casagrande (se for mesmo disputar a reeleição) teria chance de vencer no primeiro turno.
Mas também há, dentro do PSB, quem defenda que o PT tenha palanque próprio, o que tiraria Lula do palanque de Casagrande, evitando constrangimentos com outros partidos da base aliada do governador que também têm presidenciáveis. Uma coisa os dois grupos têm em comum: que será difícil arranjar clima para que PT e PSB caminhem juntos daqui por diante.