Chamou a atenção, durante entrevista que deu ao programa “De Olho no Poder”, na rádio Jovem Pan News Vitória (90.5 MHz), a presidente do PT-ES, Jackeline Rocha, dizer que tem conversado com a Rede e outros partidos para fortalecer a candidatura do PT ao governo do Estado – quem ocupa esse posto hoje é o senador Fabiano Contarato.
“Nós vamos procurar todos os partidos que nacionalmente já declararam apoio a Lula para conversar. Há expectativa de se criar um grande comitê em torno da candidatura de Lula e, num segundo momento, apoio à candidatura de Contarato”, disse Jackeline citando que tem conversado com Rede, Psol e PSD. “São partidos que não estão na base de Casagrande. Nós estamos fazendo todas as conversas para poder fortalecer o palanque de Contarato, inclusive conversa com outros partidos”, disse.
Jackeline afirmou que já conversou com o ex-prefeito da Serra e também pré-candidato ao governo pela Rede, Audifax Barcelos. Ela disse enxergar como absolutamente possível Rede e PT caminharem juntos no Estado, com base no posicionamento nacional das duas legendas.
Nacionalmente, a Rede tem uma postura de oposição a Bolsonaro, chegando a ser um dos partidos que mais entrou na Justiça para barrar ações do Presidente. No Estado, porém, a Rede é comandada por Audifax que, pelo menos publicamente, nunca se posicionou contra Bolsonaro.
No mercado político e até pelo tipo de gestão que implementou no maior município do Estado, Audifax sempre teve um posicionamento mais liberal na economia, embora tenha traços do conservadorismo nos costumes. Ele normalmente é visto como alguém de centro, pendendo para a centro-direita.
A federação com o Psol – aceita de bom grado e de forma pragmática por Audifax – pode empurrá-lo mais para a esquerda, mas em entrevista para o programa “De Olho no Poder”, o ex-prefeito disse que o projeto nacional, mesmo com federação, não iria interferir em seu projeto estadual.
“Tem um aspecto muito positivo (a federação) pra nós como partido, sendo bem pragmático, precisamos do tempo de TV. Há coisas que unem os dois partidos, como a questão ambiental, dos princípios, a conduta ética, não é um partido que a gente tenha vergonha, muito pelo contrário, mas além disso também resolve uma limitação que a gente tem. (…) Nosso projeto é estadual e não está vinculado a projeto nacional nenhum. Eu tenho autonomia do meu partido aqui no Espírito Santo. Por exemplo, chegou em maio ou agosto, a federação escolher um candidato a presidente, eu tenho autonomia para ficar com outro candidato”, disse Audifax à época, referindo-se principalmente a um apoio a Lula.
Mas não são só as questões ideológica e pragmática que estão no caminho entre a Rede e o PT. Contarato foi eleito senador pela Rede em 2018, tendo andado o Estado todo na campanha com Audifax, pedindo voto. Depois da eleição, porém, os dois se distanciaram e hoje não têm nenhum tipo de relação. Nenhum dos dois entra em detalhes sobre o que teria ocorrido para que houvesse o rompimento, mas quando são questionados, desconversam e demonstram incômodo com o assunto.
Como então, seria possível que os dois caminhassem juntos agora na disputa ao governo do Estado? “Audifax já foi do PT e do PSB, mas nunca foi de partido de extrema-direita. É importante resgatarmos o diálogo. Todos os que são ‘Fora Bolsonaro’, nós temos ambiente para poder conversar”, disse Jackeline. Questionada se Audifax seria “Fora Bolsonaro”, ela respondeu: “A Rede é ‘Fora Bolsonaro’.” Jackeline defendeu ainda uma “responsabilidade política” para evitar que aliados de Bolsonaro governem o Estado.
“Só Deus tira nossa candidatura”
Mas a coisa não é tão simples assim para Audifax. Questionado logo após as falas de Jackeline irem ao ar, o ex-prefeito disse que sua pré-candidatura está consolidada e que inclusive fará o lançamento no próximo dia 30, na Serra.
“Só Deus tira nossa candidatura. Ela é prioridade da Rede nacional. Será a única candidatura ao governo da Rede no Brasil. Já estamos na fase de montar o programa de governo”, disse Audifax, que admitiu já ter conversado com Jackeline (presidente do PT), mas em nenhum momento disse ter falado sobre a possibilidade de retirar a candidatura para apoiar Contarato.
“Conversar com os partidos eu tenho conversado e as conversas vão se intensificar até 5 de agosto. Já conversei com o Republicanos, com o PSD, com o PT, sempre respeitando todas as candidaturas. Precisamos conversar até para fortalecer a minha candidatura”, afirmou Audifax.
E repetiu: “A chance de abrir mão da minha candidatura é zero. E minha candidatura não está atrelada a nenhum projeto nacional”, disse Audifax, sem revelar, porém, o teor da conversa que teve com a presidente petista.
Não é contraditório?
Durante a entrevista, Jackeline Rocha foi questionada sobre se não seria contraditório o PT fazer aliança com um adversário histórico – o ex-governador paulista e ex-tucano Geraldo Alckmin – e conversar com lideranças que votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma, e no Estado ter criticado o fato do governador Renato Casagrande (PSB) ter recebido o ex-ministro Sergio Moro (União) que, na época da visita, estava filiado ao Podemos, partido da base aliada de Casagrande.
“Não acho que é contraditório não, porque o Moro foi um juiz, que julgou um processo injustamente contra o Lula. Ele usou do cargo de juiz para fazer política. O que o juiz Sergio Moro representa resultou em Bolsonaro. Quando ele utiliza do cargo para interferir no resultado eleitoral, isso é muito grave. Não consideramos o Moro uma cria democrática”, disse Jackeline, que enfatizou que “jamais” teria uma conversa com o ex-ministro.
Jacqueline também foi questionada se o lançamento da pré-candidatura de Contarato na semana seguinte à visita de Moro ao Estado foi uma resposta a Casagrande. Ela respondeu: “A gente vinha preparando o lançamento há bastante tempo, é lógico que o que aconteceu gerou indignação numa base grande até de pessoas que respeitam o governador. Mas o anúncio não foi para confrontar”.
Na íntegra
Jackeline também falou sobre a federação com os partidos PV e PCdoB, sobre a eleição proporcional, a autocrítica do PT, a formação de novas lideranças no partido e o palanque de Lula no Estado. Confira a entrevista na íntegra: